quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Lapa Menor da Serra Encantada

Mais uma vez eu regresso
Ao vale encantado
No meio das serras
Em volta do lago
A serra dourada
O breu imponente
Os poços de agua
Refrescam a mente
Mais um ano nessa Terra
Um ano para comemorar
Que venha 2010
E me faça delirar
Com alegrias infinitas
Felicidade plena
Que a paz e o amor
Nunca saiam de cena
E que nessa terra boa
A famosa serra encantada
A lapinha tão bela
Onde a alma é lavada
Desejarei muitas coisas
Para serem realizadas...


Mais um ano bom passou, com realizações incriveis. Que 2010 venha mais e mais intenso, para curtir tudo isso. Estou pronto e você?

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

esse tempo...

É verão. Tempo de calor, chuva, férias. Férias e chuva são coisas que não combinam. E nesses dias que não para de chuver, fico pirando no tal estudo do clima. Gosto da climatologia pela escala que ela alcança. Gigantesca escala, que no faz perceber que a brisa suave que vem de noroeste iniciou seu ciclo a milhares de km dalí, em algum lugar da amazonia. Ou então que a chuva que se forma infinitamente, é simplismente o oceano atlantico que cansou de ficar só no estado liquido, evaporou-se e veio flutuando até aqui em BH nos dar um caldo. Um cavado é uma area de baixa pressão alongada, que funciona mais ou menos como uma vala de umidade. Atraindo toda a água para ele, essa agua escorre por essa vala invisivel sobre nossas cabeças e vem cair aqui em BH. Chuva, muita chuva, é a combinação da umidade do oceano atlântico, dessa gigantesca capacidade de evaporação do verão, e ainda mais pra avacalhar, a amazonia lança umas marés sobre o sudeste de vez em quando, fazendo com que água seja mato. Nessa visão de mundo que a atmosfera nos abre, sinto-me feliz por fazer parte da natureza, pois do clima não há como escapar. Chuva, sol , calor, frio. Coisas que sentimos por fazer parte desse sistema gigantesco, e que tentamos entende-lo para que possamos prever o que vai acontecer. Mas por mais que se saiba que vai chover, da onde vai vir a chuva, a que horas ela vai cair, não se pode impedi-la.

2010 vem ai , com pressagios de aquecimento global, e outras coisas, espero que seja um ano de coisas boas, e muita alegria para todos, e que esse oceano de agua que flutua sobre nossas cabeças diminua um pouco só pra nois pegar um solzim né... :)

Feliz 2010 a TODOS !!!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

2.3

Faltam ainda algumas horas para eu completar 23 anos de vida, e parece que foi ontem que eu fiz 22. Uma idade surrealmente boa, com inumeras experiencias, vivencias, alegrias, surpresas e muita, muita coisa positiva. Que os vinte e tres anos sirvam para elevar ainda mais a minha alegria em viver! Coisas boas virão por ai, MUITAS !!!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Evolução, Crescimento e Abobrinhas...

Não é nada de anormal notar o quanto minha cabeça em termos quantitativos e qualitativos mudou durante os 4 anos que se passaram desde que adentrei o mundo academico. Um mundo novo que no seus 2 primeiros anos, nao passava de um lugar para diversão, duvidas, e criação de novas amizades. Tudo que lia, via, pensava, ouvia, não passava de meros sinais que aos poucos comecei a captar melhor. O mundo que antes se restringia ao que eu iria fazer depois de formar, com o que iria trabalhar, pra quem, e por quanto, simplesmente não existe mais. Alias existe mas como o meu mundo pessoal cresceu em proporções exponenciais, esse antigo pensamento que permeia a sociedade que vivemos está num canto perdido, empoeirando junto com todas as sugestões que fui recebendo quanto a isso. Não que eu não vá trabalhar, mas é que isso perdeu a importancia que tinha antes. O mundo, esse gigantesco espaço que vivemos é individual. Está tudo contido em nossa cabeça. É algo interessante notar o quanto minha visão de mundo há 4 anos atrás era diferente. Sei que hoje em dia, nessa minha mania boba de querer ser um excedente de mão de obra pelo maior tempo possivel, é vista com desprezo e até preocupação por parte dos meus amigos que não aumentaram seus mundos, e que acham que eu estou vislumbrado pela vida academica, e que em breve eu irei estar no mercado de trabalho sem saber o que fazer, crendo nao saber nada, e que minha vida de atoa só traz a não realidade. Sim, concordo com todos eles, mas isso não faz de mim uma pessoa, diriamos sonhadora demais, apenas uma realista. Me vejo muito realista, muito mais que todos os outros amigos que embrenharam em empregos, estagios, faculdades das mais diversas, em busca de um diploma e um emprego mal remunerado em algum lugar. As escolhas que vamos fazendo ao longo do tempo nos levam a caminhos que hora abrem, hora fecham perspectivas de vida diferentes, e tenho nesses 4 anos de Geografia, ido sempre no meu entender no caminho que mais gosto. A vida é curta, ela é um processo rapido, doloroso e incoveniente para a grande maioria da população mundial. Poucos são os que aproveitam ela de fato, e uma coisa que decidi fazer em minha vida, foi aproveita-la sempre. Não na maneira carpem diem de ser. Aproveito tudo pensando num futuro ao qual eu posso aproveitar cada vez mais. Mas não quero esperar a formatura, o diploma e o emprego para poder daqui a dez anos, usufruir de um dinheiro para viajar e fazer aquilo que AGORA eu ja venho fazendo.

O mundo agora está gigantesco, minha cabeça está ligada em diversas idéias, formas, e jeitos de ver, levar, e sentir a vida. Antes um onibus era apenas um onibus. Hoje essa maquina que transporta pessoas de um lugar a outro na gigantesca construção coletiva de aço, asfalto e concreto, é nada mais pra mim que uma jaula de presos temporais impedidos de fazer o que bem querem, pois estão sendo transportados no espaço e no tempo, a caminho da liberdade pós-mundana encontrada no seio da fé das igrejas que surgem como mega reprodutoras de capital. O céu nunca esteve tão caro, e é inconcebivel na minha visão atual, como as pessoas podem se deixar levar ao céu comprando a vaga que lhe é vendida. Mas isso é assunto para outra hora. Hoje o dia foi cinza, chuvoso, triste. Mas ao meu ver, era só mas uma frente fria que chegava na cidade, abaixando a temperatura e assim condensando toda a umidade vinda da amazonia tão distante, mas tão influente nas enchentes citadinas. Eu gosto de climatologia porque ela aumenta a escala das coisas. Impossivel pensar na chuva que ocorre na capital mineira, sem antes pensar no que a causou, e ao perceber o tamanho da encrenca que é entender as massas de ar, as diferentes condições de vento, pressão que estão por ai invisiveis para gente, é gostoso saber que ainda não temos o poder de influenciar diretamente tanto assim no clima. Gosto da Geografia porque ela abre totalmente a cabeça, mostra-nos mundos diferentes que antes estavam invisiveis para gente.

Geografia é mais que um microscopio que mostra um mundo novo, mais que uma super camera lenta que nos tras novas maneiras de perceber os eventos que ocorrem no cotidiano, mais que um telescopio que mira a distancias infinitas e nos levam para tão distante de onde nos encontramos. A Geografia é a palavra e a verdade, pois o caminho e a luz estão sempre se abrindo. Minha cabeça não é mais a pequena esfera voltada ao que nosso sistema de sociedade nos impõe a escolher. Ela se abriu tanto, numa esfera tão grande, que as vezes dá até medo de se perder. Mas ainda bem que existe uma bussola que me indica sempre o que melhor fazer. Quando eu descobrir o meu proprio GPS, ai sim esse mundo poderá atingir o infinito, pois nunca mais me perderei.

2009 anos depois que o cara nasceu e nos trouxe a palavra contra o sistema que vivia, hoje comemoramos seu nascimento da maneira mais contraditoria possivel. Jesus foi um cara que antes de mais nada, abriu sua cabeça para entender o mundo que ele vivia, entender as contradições e quis mudar. E mudou, não do jeito que ele queria infelizmente, mas valeu a tentativa.

Escreverei mais sobre meu pensamento sobre Jesus depois, agora é so comemorar seu niver porque o meu tambem ta chegando.

Feliz Natal! A todos os não cristão consumidores!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal ?!

"Feliz Natal" esse ano foi a expressão que mais usei concerteza. Dos seis meses que vivi nas terras potiguares, agradecer e brindar com essa expressão era constante em todos os movis que rolavam. Morar em Natal foi o melhor presente que ja tive na vida, e agora chegando a essa data comemorada por bilhões de sujeitos no mundo todo, é hora de um pouco de reflexão. Ou não.

Mas o que é o Natal? É algo além do comum. É uma data comemorada a muito tempo, mas que do sec.XX pra cá se tornou algo surreal, além do compreensivo e moralmente desconexo com sua verdadeira origem. O Natal é a data do consumo excessivo, época do capital se reproduzir em tudo e todas as coisas, época de reencontrar a familia e vivenciar momentos interessantes. Relembrar coisas e planejar outras, e espero que esse natal seja como Natal, um momento de pedidos, agradecimentos e desejos. Que todos se realizem, não só os meus, mas os de todo mundo. Desejo coisas boas para o fim do ano, que ainda terá na proxima terça-feira a comemoração de mais um ano nesse planeta azul. To feliz, foi um ano maravilhoso, perfeito em milhares de aspectos e que 2010 venha como uma onda de coisas boas, que minha felicidade seja elevada a 23 potencia e que tudo continue bem! Muito Bem !!!


Feliz Natal a todos aqueles que mesmo que não creem nele, sei lá, ta de boa de comemorar ahahaha...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Psicogeografia das trilhas do espinhaço!

É mais uma daquelas idéias para monografia. As vezes até frita esse tanto de coisa, porque quando penso em algo, vou nele pensando até chegar num limite aparente. Penso,penso, penso, crio toda a estrutura metodologica, todo o embasamento, procuro saber muito sobre o assunto, e ai surge uma nova ideia e tudo eh deixado de lado. Mas agora começo a diminuir um pouco as ideias, e elas começam a se encaixar mais. Mudando completamente minha ideia de falar do Jalapão, surgiu uma nova nessa minha ida a serra essa semana.

Fomos a Braúnas, uma cachoeira das mais bonitas que existe na Serra do Espinhaço, na parte meridional dela, bem no meio. Escondida dentro de um canion, e no fundo de um vale, é por demais dificil chegar nela. Não que o caminho seja longo demais, afinal são duas horas e meia de caminhada puxada até ela, para percorrer os 12km que liga o inicio da trilha a ela. Mas antes de mais nada é preciso dizer que não há trilhas. Braúnas é uma cachoeira que exite 3 modos de chegar. Pela Serra dos Alves, vindo de sudeste, pelo Parque da Serra do Cipó, que vem subindo o canion das bandeirinhas, lagoa dourada por ali, e o caminho que eu fiz as duas vezes que fui lá que é passando por Altamira. Bem, a trilha até ela nao existe, é necessario um enorme senso de direção e saber muito bem navegar pelas serras, e de se tiver um GPS ajuda. Mesmo sem GPS é possivel chegar lá, mas a chance de ser perder é de 100%, porque nela nunca se esta no caminho certo, mas sim no rumo. Rume o norte-nordeste e siga pelas trilhas que aparecem e somem, nem são trilhas, sao caminhos d'agua, e boi, e de gente mesmo, mas muito mal conservadas, mato alto, e nenhuma logica a principio uma vez que a trilha some e desaparece a todo instante.

Bem pensando na dificuldade de ser chegar até ela, conversando sobre o assunto enquanto curtiamos uma sombra ao lado da cachu, vimos que depois dessa ida, sabiamos bem o caminho, tinhamos marcado inumeros pontos de referencia para nao nos perdemos, e lembrando de como ficamos sabendo dessa cachoeira a idéia de uma psicogeografia das trilhas da região surgiu.

A tempos atrás, em outubro do ano passado na Lapinha, conversando com um cara lá, ele falou dessa cachoeira e tentou nos explicar o caminho que vem pela serra dos alves. A principio parecia simples, mas ficou muito complicado para lembrar as coisas. Quando fomos pra Braúnas, saimos de Altamira, e apenas muito perto da cachoeira encontramos a trilha que vinha da serra dos alves. O trecho final era nitidamente a fala do cara lá da lapinha que explicou o caminho aquela vez. Era algo do tipo, depois de passar numa mata a esquerda, vira uma trilhazinhae siga a direita da mata, vai ver um poção lá em baixo, mas a cachoeira fica mais pra dentro do canion. Desse mais um pouco e chega e tal.

Bem a idéia geral que tive, era fazer um mapa piscogeografico desse caminho dito pelo cara lá, e tentar ir para a cachoeira seguindo esse mapa. Ficamos vendo isso, e fizemos o nosso proprio mapa, que consiste não em pontos pre determinados, nem em rotas, nem em latitudes e longitudes. O mapa consiste daquilo que encontraremos no caminho, como as pessoas de antigamente explicavam os caminhos, como quando damos informação de ruas para alguem, siga a direita, depois a segunda esquerda e tal. Fiquei horas pensando em fazer mapas psicogeograficos do caminho para a Braúnas, mapas que seriam feitos com a fala e a indicação de pessoas de Cardeal Mota, da Serra dos Alves e de Altamira. Fazer três mapas, um de cada caminho e depois comparar com os caminhos reais, ver se é possivel através da fala desenhar um mapa. Simples e complicado, mas é algo que me interessa muito. Analisar esse tipo de conhecimento 'bruto' dos lugares, tradicionalmente oral, e colocar no papel de forma retilinia e simples, de facil entendimento. Buscar nessa fala encontrar aquilo que mais chama a atenção das pessoas, o que elas entendem do caminho e como faze-lo. Gostei demais dessa ideia porque ela pode ser usada tambem para o Jalapão, em uma escala maior, em um possivel mestrado. A Psicogeografia, é pouco explorada no ambito academico, por ser de dificil explicação e muito individual, mas gosto demais desse tema, e de como as pessoas em diferentes lugares tem noção do mundo. O trabalho ta ai, e mais uma idéia lançada...Espero nao ficar pra sempre pulando de galho em galho e nunca comendo a banana...porque tambem bananeira nem tem galho auehuehaeuaea...

Um viva a Braúnas, lugar dos mais belos dessa terra aqui...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Oliver e as Formigas...

Esse ano tive uma parceria interessante com umas formigas que habitavam comigo o pequeno quarto que morei em fevereiro lá em Natal. Tudo começou um dia quando centenas de formigas apareceram no banheiro, fazendo uma longa fila que saia lá de fora e ia até o lixinho que tinha no banheiro. Fui averiguar o que tinha no lixo pra ve o que tava chamando a atenção delas e encontrei uma barata morte atrás dele. As formigas tavam banqueteando a barata, e todo mundo veio pegar um pedacinho pra levar pra casa. Fiquei viajando nisso, e nos dias seguinte, sempre aparecia uma barata morta, e as formigas em menos de 1 dia, simplesmente faziam ela sumir. Comecei a gostar das formigas, que faziam a faxina na minha casa, comendo restos de biscoito, baratas e tudo mais que tinha. Um dia entediado de manha, sem nada pra fazer, descobri onde morava uns cupins que tava fritano já, pois eles comiam o armario e deixava aqueles graozinhos de madeira espalhados por todo canto. Então, meu lado mau quis ver o que aconteceria se as formigas (que eram pequenas, tipo lava pé) trombassem com os cupins que era minusculos. Resolvi criar uma armadilha para atrair as duas mini civilizações, e coloquei farelos de biscoito no meio da passagem entre as formigas e os cupins. Aproveitando os cupins que estavam proximos, esfarelei o biscoito e deixei ele lá perto dos cupins que logo o descobriram e começaram à ataca-lo. As formigas estava lá no banheiro de galera, andando procurando por comida, e eu fiz um caminhozinho de farelos para que as formigas fossem até o centro onde abundava biscoitos. Duas formigas seguiram esses farelos e ficaram de cara felizonas, ao encontrar o lugar magico dos biscoitos. Uma delas voltou e a outra pegou um pedaço para levar para mostrar as outras. Enquanto isso do outro lado dos biscoitos a cerca de 10cm de distancia os cupins chegavam cade vez mais de galera, e eu achando que uma guerra estava proxima. Mas eis que tudo me engana e a natureza mostra que quando há abundancia há paz entre as especies. Logo umas 30 formigas vieram e a rota que elas faziam ficou marcada para as outras. Em 5min, centenas de formigas e cupins, estavam lado a lado, cada um pegando o que dava para pegar e levando para suas respectivas casas. Eis que eu resolvo gerar um pouco de caos, e retiro quase todo o biscoito, achando que agora as formigas infinitamente maiores destruiriam os cupins. Mas não, eles ficaram de boa, e quando acabou todos foram pra casa felizes, e cada um na sua pra buscar comida em outro lugar.

O porque deu ta falando disso? Sei lá, as vezes acho que nossa sociedade é competitiva demais a ponto de acharmos que tudo se resolve na força em busca de algo que as vezes nem faz sentido. As formigas e os cupins esse dia me mostraram que a harmonia entre os seres é possivel sempre, pois fartura há para todos. Infelizmente a desigualdade entre os próprios seres da mesma especia impede essa harmonia entre os homens. Brigam pelo o que nem existe, e acham legal o tal do capital ficticio. Se mata por algo que não existe, e se vive lutando em busca do sonho do paraíso pós-mundano. É engraçado e triste, o quanto somos menos civilizados que os pequenos insetos.

Fazer uke :(

sábado, 12 de dezembro de 2009

Mente Ativa hiperativamente

Num surto de ligações entre neuronios minha cabeça nao desliga mais. A insonia nem é o problema, o problema é o cansasso que ela causa. Não consigo dormir direito a dias, e minha cabeça nao sussega um minuto. Fico morrendo de sono na aula, no onibus, comendo, andando, no computador, lendo mas é só eu deitar na cama que eu acordo. Coisa de maluco...preciso de um tempo, um tempo sem pensar em nada...Ta dificil...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Geografia é ?

Resolvi entender como a geografia se expõe no contexto da sala de aula e como se da essa relação com os demais trabalhos possíveis na geografia. Escolhi a palestra da Prof.ª Maria Luiza Grossi do departamento do IGC, por já ter tido um contato maior com a mesma, e uma possível interpretação de suas escolhas durante sua vida profissional. Ao analisar sua historia acadêmica percebo que para se fazer geografia muitas vezes não é necessário estar inserido no contexto da academia, nem de trabalho. Geografia é uma ciência que se desenvolve no contexto do espaço, o que a torna onipresente se assim quisermos pensar, uma vez que o espaço se encontra em todo lugar.

Maria Luiza começou com dificuldades no curso, e aos poucos foi gostando da experiência geográfica, pois ela dialogava com seus interesses advindos de uma experiência particular. Na duvida entre o bacharelado e a licenciatura, ela começou a estagiar no IGA, mas ao perceber a forma clientelista de trabalho exercido pelos técnicos do instituto, aos poucos foi deixando de lado essa área para enveredar no estudo do ensino. A licenciatura lhe possibilitou evoluir seus pensamentos no sentido da educação, e acabou tornando-se professora da rede publica. Para resumir bem a historia e dialogar apenas com a questão da geografia, depois de dar aula na escola publica e sair do IGA, sem uma perspectiva de crescimento dentro do instituto, Maria Luiza voltou-se para a educação como uma forma de sair da calmaria inerente ao trabalho clientelista de um uma instituição publica, e se voltou à sala de aula como um lugar de convivência diária com inúmeras pessoas. Após concluir um mestrado e um doutorado, a convivência com a sala de aula lhe deixou mais tranqüila ao perceber que estava fazendo aquilo que gostava.

A geografia como uma ferramenta para o entendimento do mundo, serve também para reflexões muito além daquelas que outras disciplinas acadêmicas oferecem. Ao perceber o espaço como lugar de vivencia e transformação, é possível conectar-se a uma realidade que doravante mencionada de outras formas em outras ciências, é nada mais que uma realidade inserida no contexto do pensamento geográfico. Cada individuo tem em sua característica interpretar de maneira diferente o mundo que vive. Dessa forma ver a educação geográfica e o ensino de maneira geral, como uma ferramenta de transformação social, é de uma “beleza” com o qual algumas pessoas se identificam. Fazer geografia é algo que vem do inconsciente para aqueles que não sabem o que fazer, pois geografia é algo que se faz a toda hora. Claro que não da maneira metodológica imposta pelos senhores da academia ditos donos da verdade, mas de uma maneira simples e principalmente simbólica para os indivíduos. Crer numa possível mudança do espaço é necessariamente crer que as pessoas possam entendê-lo mesmo que de uma forma simples e individual, para que esse espaço possa ser transformado num todo coletivo mesmo que feito individualmente.

Geografia se encontra embutida em tudo que se vive, e ao se fazê-la cotidianamente sem percebê-la, as pessoas tendem a compreender o seu mundo a sua maneira, mesmo que a maneira “correta” esteja longe de sua verdade. O ensino da geografia torna-se um fator importante na vida do individuo uma vez que abre perspectivas e amplia o campo de visão que outrora se baseava em pequenos fatos cotidianos. Mas para que a geografia seja entendida da maneira como deva ser, isso é, sem o constrangimento da formula da decoreba clássica das escolas, é preciso uma mudança na escala da sala de aula como espaço de ensino. Entender a realidade é mais que apenas decora-la, e as interligações que a geografia proporciona têm a capacidade de abrir possíveis brechas no emaranhado de informação permanente que somos bombardeados diariamente. A geografia no meu ver é uma ferramenta poderosa nesse sentido, uma vez que como dito outrora por Lacoste (1976) ela serve mais do que para se fazer a guerra, mas tem no seu instinto primitivo encontrada em cada individuo uma força de mudança para um melhor entendimento do mundo pessoal de cada um. Não como uma auto-ajuda, mas como um desembaçador da realidade, a geografia é mais que uma ciência, mas um modo de pensamento que induz ao geógrafo compreender melhor os fatos corriqueiros de seu cotidiano.

A palestra da Maria Luiza gerou em mim um sentimento inerente à perspectiva da licenciatura, uma vez que ao fazer bacharelado, sente-se falta da abertura profissional e por que não de vida, na qual o ensino pode lhe proporcionar. Como um todo, a geografia é algo inerente a minha vida e ensinar mesmo que fora da sala de aula é mais que uma diversão cotidiana, mas um objetivo de vida interessante a ser seguido.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Pequenas Igrejas Grandes Negocios.

Não é preciso nem concluir a fala, para se saber o que eles querem dizer. São tantos e todos com a mesma historia, que da preguiça de saber. Não preciso dessa tola informação, nem desse falso moralismo. Não quero viver em outro mundo, nem nesse falso otimismo. Sei que a verdade você crê que a tem, mas eu também tenho a minha verdade, e ela não termina com amém. Não preciso gerar receita com as minhas orações, nem preciso ser um castrador de opiniões. Não tenho o porque crêr na sua fala, pois ela exige um consumo. Consumir a minha propria fé dando dinheiro para o outro mundo? Não exijo que você saiba a verdade e a palavra, mas ela está nesse mundo cheio de pessimismo.. Saia dessa falsa crença que exige que você acredite no paraíso. O paraíso está aqui, ele é o planeta que vivemos. O céu que procuramos, já o encontramos e nem sabemos. Leia a palavra que salva, nas paginas do futuro incerto. Salve pelo menos a sua alma, de queimar no inferno. O dizimo que investe no pastor, não será convertido em alegria. O dinheiro que você doou vai lhe deixar de barriga vazia. Não quero esse oleo nem a madeira da cruz, quero que pare de falar besteira em nome de Jesus. O filho de Deus deu sua vida para nos salvar, então porque você insiste, em dizer preu orar? A salvação está na Terra, nosso lar, nossa união. Não me digas que com o dizimo, vou encontrar a salvação. Apenas me deixe livre, para escolher pra quem rezar. E não me encha o saco, quando eu quiser me expressar. No seculo xxi , as ovelhas tem de trabalhar. Para seu pastor, ter como se sustentar. Enriquecendo com a fé alheia. O capital será sua santa ceia. Judas lhe entregará, a buda e alah. Ele é seu pastor e nada lhe faltará...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Epidemia metropolitana

Antes do nascer do Sol eles já estão de pé. Seu Eustáquio e dona Dora já começaram seus afazeres cotidianos, os três filhos começam a esfregar os olhos na cama, e aos poucos vão levantando. O fogão a lenha é aceso para se fazer um café para acompanhar a broa assada na tarde passada. Seu Eustáquio já se adianta em chamar seu Tonho para ir com ele subir a serra atrás do gado que pasta lá em cima. A fumaça sai da casinha lentamente, embriagada pelo ar orvalhado da manha que se aquece com raiar do dia. Dona Dora já está no quintal jogando milho para as galinhas, enquanto seus filhos buscam afazeres próximo da casa. Um vai ajudar o pai com o gado, o outro segue para trabalhar como servente na construção da casa nova de um tio, enquanto a caçula corre lá fora com outras crianças. Uma família tradicional do interior de minas, acostumados com a dureza do campo, do trabalho árduo no sol a pino e nas madrugadas frias, na rotina que nunca se altera. Vivem em Cardeal Mota, pequeno vilarejo do município de Santana do Riacho, perto da serra do Cipó. A serra serve como um grande pasto, onde o gado fica livre na vertente ingrime do espinhaço. Os rios que cortam a região servem de reduto para a pesca, o lazer das crianças que se divertem nos poços, praias e cachoeiras. Nada atrapalha a rotina desse povo que vive em paz com seu ambiente, lutando contra as adversidades que ele impõe e sabendo aproveitar das coisas ao seu redor para seguirem levando a vida. O dia arrasta-se por longas horas, enquanto dona Dora sentada na varandinha da cozinha costura uma calça para seu filho mais moço.

De repente um som invade o quintal. Um rugido alto e longo começa a surgir ao longe, e dona Dora fica encucada tentando descobrir o que é. Nunca tinha ouvido aquele som, ficou meio curiosa e apreensiva, o que seria? Ela ainda não sabe, mas em breve sua vida irá mudar para sempre. O som que ela escuta ao longe é o da metrópole. Um som constante, que começa aos poucos a ensurdecer aquele pequeno povoado. Dona Dora já tinha ouvido falar da tal cidade grande, mas nunca tinha ido até ela, nem tinha vontade. Estava satisfeita no seu pedaço de terra que para ela é o melhor lugar no mundo. Mas aos poucos a cidade começa a chegar até ela. Em casa ela percebe que o lugar não é mais o mesmo. Todo fim de semana inúmeras pessoas começam a ir até lá, onde até pouco tempo era só mais um pedaço do sertão das gerais. Em busca da paz que ela sempre teve, os citadinos metropolitanus chegam infectados por vírus com os quais dona Dora não pode se proteger, pois seus anticorpos ainda os desconhecem. Esse vírus logo atinge todos os moradores, e como uma epidemia, ataca os indefesos moradores de Cardeal Mota. Ele se manifesta na forma monetária do valor do trabalho. Uma gama de enfermidades atinge o pessoal, mas logo eles se recuperam, e começam a entender o que está acontecendo com seu lugar.

A metrópole o invadiu, transformou tudo que eles conheciam em um espaço de lazer e descanso para os estressados moradores do caos. Dona Dora hoje acorda cedo não com o cantar dos pássaros, mas com a buzina de um carro. Logo que a metrópole atinge um lugar, ela começa a alterá-lo e ai não há mais volta. As terras que sempre foram da família de dona Dora não são mais. O lugar que ela nasceu não pode mais ser habitado. Uma cerca a expulsou. O lugar é agora demarcado, aqui pode ali não. A venda da esquina não vende mais o saboroso leite tirado na hora da casa de seu Taguinha. Ela nem existe mais. Seu Taguinha não suportou o vírus e faleceu nos primeiros anos da epidemia. Seus filhos que cuidavam da venda, resolveram fugir, antes que sofressem do mesmo mal que o pai. Fugiram para a cidade grande, em busca de algo que eles nunca quiseram, mas que graças à rápida mudança na vida de sua pequena cidade, tiveram de ir buscar. Empregados em fabricas e no comercio barato, vêem se misturados em meio a uma sopa de leprosos sociais, que aos poucos vão perdendo partes do seu todo. Não possuem mais o rio, a cachoeira, a serra. Sonham com o dia em que irão regressar a sua antiga terra natal, mas ela não existe mais. Não do jeito que eles a conheciam.

Enquanto isso em Cardeal Mota, a metrópole já toma conta de tudo. O hospedeiro já está completamente infectado pelo vírus da vida pós-moderna. Dona Dora agora não acorda mais as quatro da manha, não precisa, seu trabalho agora é apenas observar aquelas pobres almas metropolitanas, que buscam a cura de suas doenças longe do infecto urbano. Ela não pode mais criar o gado, plantar a horta livremente, nem deixar as crianças na rua. Não, tudo está diferente. O urbano começa a dominar o vilarejo, o leite agora é de caixinha, o iogurte de marca, importado de preferência. O rico morador do caos foge com seu blindado da zona de guerra, mas leva as lembranças da batalha consigo. E como um guerreiro medieval das cruzadas, leva consigo a fé para converter os moradores daquele longínquo vilarejo que com seus tesouros naturais atraem mais e mais soldados. A fé não é mais a católica, e as armas não mais espadas. O deus Capital e sua gama de documentos levam a burocrática vida urbana, para o éden. A terra agora possui dono, e ele não mora lá. O dono vive na metrópole, controla com o dinheiro o espaço distante. Constrói uma pousada, e assim os moradores da cidade vão até ela, e voltam para casa felizes. Consomem o lugar, destroem, alteram. São chamados de turistas, e demonstram ser parasitas do espaço. Levam consigo toda uma serie de vícios da cidade, e obrigam os moradores a se enquadrarem naquilo que acham que é o certo. Os obrigam a trabalhar para eles. Os pobres escravos de Cardeal Mota eram livres até pouco tempo, mas com a chegada da cruzada do capital foram levados a uma escravidão de senhores de engenhos modernos, que estão de terno e gravata, chibatando as costas dos empregados com ameaças financeiras.

Os filhos de dona Dora atualmente são assalariados. Foram obrigados a isso, pois tudo agora tem de ser comprado. Tudo é caro. O valor não é justo. Não há competição, e sim imposição. A nave mãe Belo Horizonte amplia a todo instante seu campo de força, para além do concreto e asfalto, atingindo a alma dos moradores do cipó. O rio não é mais limpo, a água não é mais pura, o lixo se torna constante. O lixo produzido pelos parasitas da metrópole é o que mais representa essa invasão do espaço. Sacos, garrafas, latas. Toda gama de produtos consumidos ficam a mercê da natureza. Os visitantes da metrópole consomem muita coisa, mais do que precisam, mas gostam disso. Gostam tanto de consumir que consomem até o espaço daquele povo. O turismo não é uma agressão, é a solução. Solução que o capital obrigou que existisse, pois uma vez que foi invadido, não há como escapar de outra forma que não a de alimentar o ego dos metropolitanos. A dura vida do campo se altera, e se transforma numa lúdica experiência de tranqüilidade. Vende-se aquilo que outrora era a vida cotidiana. Dona Dora não mais vive do campo, pois o campo não mais existe. Criam-se parques, para que o homem da cidade não destrua ainda mais o lugar. O parque fechado impede não só o turista, mas também o próprio caiçara de ir aos lugares que antes foi sua morada. O parque é necessário não para garantir que as gerações futuras usufruam da natureza do lugar, mas para que elas possam consumir assim como seus pais o lugar. O turismo começa a ser pensado a longo prazo, e o parasita já tomou conta do hospedeiro. Não há como voltar atrás, pois com a proteção do espaço, cria-se a um parque de especulações sobre como irão viver os filhos dos moradores de Cardeal Mota. Eles não irão ter mais a vida que seus pais levaram, não conhecerão a serra como seus antepassados, já nasceram infectados. Querem ir para a metrópole, para trabalharem, ganhar dinheiro, e depois no feriado irem visitar seus familiares e quem sabe até subir a serra. Hoje em dia vivem como um morador da extrema periferia da metrópole. O plantio não existe mais, pois não há terras para isso. Elas foram convertidas em papéis que estão guardados no fundo da gaveta de algum escritório na metrópole.

Dona Dora tem de vender seu trabalho para sobreviver. Aluga seu espaço para que ele não fique a mercê dos especuladores que querem transformar sua casa num hotel. Ela já esta cansada do trabalho, e da dura vida que tinha, mas não pode parar, pois o homem metropolitano precisa dela. Precisa que ela alugue um quarto, faça um café, conte casos, converse com ele. Precisa consumir tudo que puder, mas não porque realmente precisa, porque está em suas veias o vírus do consumo. Vão até a serra em busca disso. Em busca de personagens que conte para ele como é dura a vida no campo, como foi dura as experiências de sua infância, de como foi difícil para ela trabalhar desde pequena. Gostam de ouvir isso, de ficarem impressionados com essas historias, para depois que voltarem para a cidade grande pensarem em como sua vida é boa. Como é bom não ter de acordar de madrugada, bater enxada de sol a sol, subir a serra em busca do gado perdido. Eles só vêem isso nas novelas e filmes, e esquecem como as pessoas vivem. A metrópole muda tanto a vida das pessoas que elas não se vêem fora dela. Não conseguem viver além dela, e buscam leva-la aonde vão. Levam a fé e como jesuítas do século XXI convertem todos. Dona Dora hoje vive daquilo que lhe foi imposto. Vive com certeza melhor, pois seu trabalho é mais “fácil”, menos braçal, vive com dinheiro que antes nem fazia tanta falta, mas que hoje é tão necessário como uma vacina para as epidemias. O capital não fica parado, nem a capital. Temos a ilusão de que a metrópole é feita apenas de concreto e asfalto, mas esquecemos de toda expansão virtual que ela possui. Além do espaço físico nítido, novos espaços vão sendo ocupados, usurpados, consumidos, transformados em prol do bem geral da metrópole. Será o caminho certo a ser seguido? Não há mais volta, e os moradores apenas se integram mais e mais. A dura vida no campo se transformou em entretenimento para a vida de quem nunca viveu nele, mas que sonha no fundo em fugir de vez da cidade. Quantas vezes não ouvimos a seguinte frase: “Quando aposentar vou fugir pro campo”. É assim, enfermos do caos metropolitano que não conseguem viver em paz na cidade. Precisam ir além, mas querem no fundo ter a “segurança” que a vida pós-moderna lhe passa. E essa segurança é o consumo.

Toda a transformação vivida por dona Dora é só um exemplo de como a vida das pessoas de Cardeal Mota foi alterada com a chegada do turismo, das pessoas, do capital. Tudo isso gerou uma imensa mudança social e cultural no vilarejo, que hoje se transforma em pólo do eco turismo mineiro. Hoje se encontra totalmente inserido no contexto metropolitano, pois o espaço é (re)organizado a partir do centro distante 100km de lá, por pessoas que as vezes nunca foram até Cardeal. Para se entender o espaço, é necessário saber quem o altera, e para isso nem precisamos ir longe, é só abrir o olho para o que se passa a nossa volta. No fundo dona Dora ainda acorda cedo, ainda sente o cheiro da manha vindo do ar frio de inverno, mas o sentimento não é mais o mesmo, pois tudo esta mudando. Seus vizinhos, sua família, seu lar. Felizmente para ela, seus anticorpos logo se adaptaram ao vírus trazido pelo homem metropolitanus, mas muitos pereceram pelo caminho. Sem lar, trabalho e saúde, não se adaptaram ao caos mesmo estando longe dele, mesmo tentando se esconder. A demanda pelo turismo é imposta longe do lugar a ser visitado, mas é potente o suficiente para alterar tudo em prol dele mesmo. Não há como escapar, ele já esta ai. E você, vai para a serra se divertir ?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Belo Horizonte ou Roça Grande?

Do urbano ao rural em três quarteirões.


Não é necessário ir longe para encontrar a tranqüilidade da vida do campo mesmo dentro da metrópole. Inserida num contexto rurbano a pequena propriedade com características rurais na região de venda nova, se encontra entre os bairros Céu Azul e Garças, tendo uma pequena produção de gado leiteiro, e um pequeno cultivo de hortaliças para consumo próprio. Tomo como referencia para o texto essa “fazenda”, uma vez que ela se encontra num contexto muito interessante. Situando-se entre dois bairros muito diferentes a pequena propriedade permanece quase que intacta a toda influencia da metrópole. Criando gado solto nos lotes vagos do bairro Enseada das Garças, e vendendo a pequena produção de queijo e leite para os moradores do bairro Céu Azul, o proprietário encontra nas diferentes espacialidades desses bairros a combinação ideal para ter mantido até o atual momento esse modo de vida ainda ligado ao mundo rural de produção.
Para compreender como esses dois bairros conseguiram ‘proteger’ esse modo de produção, é preciso entender como o zoneamento urbano é colocado nesses lugares. Começando pelo bairro Enseada das Garças, é fácil entender por que a criação de gado dentro da metrópole é viável. O bairro que possui poucos anos de loteamento, aos poucos começa a se urbanizar e a ter seus lotes murados, o que torna um pouco mais difícil a criação, mas não a impede. Com inúmeros lotes vagos, e extensas áreas que ainda não foram loteadas e estão orientadas a especulação imobiliária, o bairro oferece uma gama de locais para alimentar a criação bovina, com diferentes tipos de ‘pastos’. Com uma inexpressiva população e uma das mais baixas densidades demográficas da cidade, o bairro é zoneado para ser apenas residencial, e sua população varia entre classe media a alta, com grandes lotes de mais de mil m².
A falta de recursos quanto ao comercio faz com que o bairro sirva apenas como dormitório, sítios de finais de semana e para festas. Os animais andam pela tranqüilidade das ruas do bairro, onde apenas uma linha de ônibus opera com pouca freqüência se comparada às demais linhas urbanas de BH. Esse conjunto de fatores aliados a uma baixa fiscalização da prefeitura faz com que a criação dos animais na rua seja comum e é feita por mais outras duas propriedades que se encontram um pouco mais afastado do bairro, a oeste já no município de Ribeirão das Neves.
A pequena propriedade em questão situa-se no fim de uma rua sem saída exatamente na divisa dos dois bairros. No fim da rua uma porteira tipicamente rural nos dá idéia do que iremos encontrar ao atravessá-la. Uma pequena via de terra de aproximadamente 100m liga a cidade a ‘sede’ da pequena propriedade. A pequena casa que abriga 5 pessoas é cercada por um grande terreno, que possui um pequeno curral e também um estábulo, para os cavalos que são usados para tanger o gado pelo bairro. Esse terreno é muito grande, mas devido a inúmeros problemas na justiça o morador e pequeno criador não é o dono da terra, tendo mudado para lá há cerca de 40 anos, quando apenas fazendas existiam na região, e a cidade ainda não havia se interessado pela região. Nesse gigantesco terreno, ouve uma ocupação recente do Movimento dos Sem Terra, mas não chegou a atingir essa pequena propriedade. Uma pequena horta e algumas árvores frutíferas como jabuticabeiras e goiabeiras são encontradas na propriedade, mas as frutas são de consumo apenas dos moradores, não chegando a serem vendidos no bairro Céu Azul.
Para entender agora como a pequena propriedade consegue obter capital com a exploração do gado na metrópole é necessário entender também o Céu Azul. O bairro se insere num contexto completamente oposto ao Garças, tendo a principio uma das maiores populações de Belo Horizonte. Sendo um bairro extremamente populoso, com seu zoneamento feito com pequenos lotes, e algumas áreas de vilas e favelas, o bairro possui uma rua principal que se caracteriza por ser um centro comercial de uma grande região. Contemplando inúmeros bairros em volta, esse pequeno centro comercial se assemelha aos centros das pequenas cidades do interior mineiro, com sua rua principal cheia de lojas e pessoas. Por ser um bairro periférico esse centro comercial tem nos finais de semana o auge do seu desempenho, uma vez que os moradores do bairro Céu Azul em sua maioria trabalham longe, tendo apenas os sábados e domingo livres para comprarem os bens que lhes são de interesse. Uma enorme variedade de produtos e serviços é encontrada, inclusive leite e queijos frescos, produzidos pelas vacas que pastam na grama dos vizinhos do bairro ao lado.
O bairro Céu Azul tem em seus moradores muitos que vieram do interior para trabalhar na metrópole, e assim muito dos costumes dos moradores são voltados mais a vida do rural do que propriamente urbana. Para não serem devorados pelo consumo intenso dos pequenos supermercados que proliferam na periferia, muitas pessoas ainda preferem comprar verduras nos sacolões, carnes nos açougues, concertam suas roupas nas costureiras, etc. Outro fator interessante dessa cultura do interior está na venda de pães de manha, onde uma bicicleta carregada com um cesto cheio de pães passa todos os dias de manha com sua tradicional buzina chamando os moradores. Esse padrão de vida mais parecido com as das pequenas cidades do interior reflete o interesse do consumo por produtos mais frescos e produzidos perto de onde são consumidos, daí o segredo da criação das vacas no cenário metropolitano. Os moradores do bairro Enseada das Garças não procuram consumir o leite e o queijo fresco produzidos diariamente próximo de suas casas, pois procuram na ‘facilidade’ do hipermercado realizar seu consumo desse tipo de produto. Como não há comércio no bairro, os moradores tendem a realizar compras longe da região, inclusive não indo ao Céu Azul, que por ter características de periferia, inibe os ‘ricos’ de irem até lá. Esses moradores do Garças, são recentes na região vindos de outros lugares da metrópole em busca da paz e a tranqüilidade que o bairro oferece, e como já estão completamente inseridos na vida metropolitana, seus costumes e gostos se assemelham aos que a vida da cidade grande induz.
Nessa breve e rápida apresentação das espacialidades de interesse do texto, é possível ver e entender como a metrópole tem a capacidade de produzir cenários que para muitos seria irreal e que não fazem parte de uma grande cidade. Belo Horizonte carinhosamente apelidado de Roça Grande nos mostra que nem só concreto e Mcdonald’s fazem parte de uma metrópole, e que é possível dentro de todo o cenário contrario ao que se imagina ter leite fresco tirado na hora. A cidade nos prega peças engraçadas em algumas situações, e numa rápida reflexão é possível enxergar a seguinte imagem. Uma pessoa que mora no bairro Céu Azul e trabalha como vendedor em um escritório de uma imobiliária no centro da cidade, bebe leite todo dia de manha produzido na pequena propriedade vizinha a sua casa, leite esse que foi feito por uma vaca que pastava em um lote vago do bairro Enseada das Garças. Certo dia essa sujeito tem o seguinte dilema na sua frente, uma pessoa quer comprar um lote no bairro em que as vacas pastam, e assim acabar com o alimento do gado que produz o leite que ele tradicionalmente bebe todos os dias. Nessa contradição que surge com os diversos interesses existentes na metrópole, vemos que é inerente a expansão urbana acabar com todas as possibilidades de produção rurbana, mesmo que de baixa produtividade e que não vise lucros exorbitantes.
Por fim uma rápida equação pode ser formulada para melhor entender a pequena produção feita nos interstícios da metrópole, e mesmo parecendo fugir a toda lógica da produção capitalista vigente na cidade, ela é exatamente o que se espera de uma pequena ‘fazenda’ capitalista. A equação é a seguinte:

Pequena área para cercar o gado + Área para pastagem + Consumidores próximos a produção = Lucro e continuidade da pequena bolha rural na cidade.

A pequena produção não influencia a metrópole, mas também não é totalmente influenciada por ela, aproveitando em verdade dela, pois os espaços de produção e de consumo estão mais próximos que na tradicional espacialidade rural, ou mesmo rurbana dos interiores não afetados pela metrópole. O transporte e a mão de obra são mínimos aumentando a mais valia da produção, e os consumidores assim como no interior se tornam mais que consumidores dos produtos, se tornam conhecidos e até amigos do produtor.
Do leite fresco ao pão entregue em casa, Belo Horizonte, em suas entranhas ainda guarda um pouco do interior de minas, um pouco da vida pacata e tradicional das gerais, e mesmo no furor do caos metropolitano, é possível ouvir os pássaros pela manha cantarem saudando mais um dia que surge. Alguém duvida que BH é uma Roça Grande?