domingo, 30 de maio de 2010

Tecnologia

Numa conversa no alto da serra, vendo a fogueira acesa nos esquentar, discutiamos sobre a humanidade, e chegamos a uma questão interessante. A tecnologia mais importante. Qual seria? Não houve duvidas de que dominar o Fogo é a mais importante delas. A partir do momento que o homem dominou o fogo, ele deixou de ser um animal e se tornou O Animal. Com o dominio do fogo, ele pode deixar seus medos de lado, clareando a noite escura e perigosa. Esquentando-se no frio, pode migrar e ocupar as mais diversas regiões do globo. Cozinhando, assando, fritando, pode transformar simples grãos em uma rica alimentação. Transformou a rocha em ferramente, o minério em ferro. Criou maquinas que conseguiram mudar a surperficie da terra. E hoje, com o dominio total de milhares de anos de evolução, hoje o fogo se tornou na nossa sociedade, apenas mais uma tecnologia que mal damos moral. E nessa onda de que mal conhecemos as tecnologias a nossa volta, saber fazer uma fogueira, dominar o fogo, é algo incrivel. Me sinto muito feliz em saber fazer fogo, em saber como usa-lo para me alimentar e esquentar. O fogo é a unica tecnologia que conheço e domino, pois todas as outras já aparecem em minha vida prontas. Pegar lenha, montar a fogueira, e ai utilizando-se de tecnologias maravilhosas como o fosforo ou isqueiro, eu em segundos consigo acender uma fogueira. Já brinquei de fazer fogo do nada, com as tecnicas tradicionais, e consegui apenas uma vez. Foi tão doido esse movi que me queria deitar e rolar no fogo. A criação de algo a partir do nada deixa o ser humano sempre muito feliz. Mas na nossa sociedade do automatico, a gente raramente desenvolve o nosso engenho, ou temos momentos como esse. Por isso gosto de ir pro mato, regredir na tecnologia que temos, para sentir isso que hoje mal sentimos.

E você, qual tecnologia domina?

sábado, 29 de maio de 2010

No se vá mi querida Lua...

Hoje em dia até ela perde um pouco de sua majestade. Lá do alto, ofuscada pela infinidade de luzes aqui da bhbilonia a Lua vai murchando ao longo dos dias, pois de vergonha de nós, se esconde. Minguando dia a dia, ela aparece cada vez mais tarde, como preguiça de nos encontrar acordados. Os dias irão passar e ela aos poucos em sua vergonha cotidiana de nós, ira sumir aos poucos, até que sumirá de vez. Diz que quando ela some, ela se torna Nova. A gente vai se degladiando na rotina diaria, lutando pelo espaço no onibus, em que você possa sentar e descansar as pernas, depois de mais um dia na selva. Aos poucos ela , a Lua, vai voltando a aparecer. Vai dando sinais de que quer se vista denovo, como tem sido, desde que os primeiros homens a admiraram. Crescendo a cada dia, surge no limiar de uma semana, como uma meia laranja que clareia o inicio das noites. Mas na cidade, ninguem a nota. Estão todos ocupados em olhar para frente, seguindo reto os caminhos traçados da metropole. Dentro do carro, ouvindo uma musica, ninguem se lembra que existe um satelite natural nos rodando e que isso interfere direta e indiretamente na vida de todos nós. Com mais alguns dias, e fazendo de tudo para se mostrar, a Lua atinge seu auge, iluminando toda a face da Terra que está voltada para ela. Ela clareia a noite como dia, e é possivel enxergar ao longe. Mas na cidade, ah na cidade. Na cidade ela passa desapercebida. Ninguem olha pra ela no ponto de onibus, pois nao se pode dar o luxo de não olhar para a pista e ver se seu onibus vem. Ninguem a observa, nem da moral. E ela lá no alto, se mostrando, com toda a sua beleza e força. Alguns poucos tem a oportunidade de ver que ela está lá, atras dos fios do poste, ou de um prédio. As vezes em cima do viaduto, ou por trás de um muro. Mas o poste a ofusca, e mal se enxerga. Perdeu-se o contato direto que tinhamos com o universo lá fora. Nossas noites sem estrelas, estão cada vez mais sem graça. Movidas pelo insaciavel poder de evolução tecnologica, estamos querendo ir mais longe, mas se não estamos conseguindo nem olhar para a Lua, imagine para o futuro.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

300

Seguindo a linha neopessimista a cada cem posts, resolvi escrever sobre o caos futuro que creio que ocorrerá em breve...

Tudo começará quando o vulcão Katla, um vulcão islandes que é "ligado" geologicamente ao Eyjafjallajoekull o vulcão que tem causado o caos na aviação europeia, entrar em erupção. O Katla é um vulcão que em sua historia ja entrou varias vezes em erupção, e quase sempre após uma erupção do Eyjafjallajoekull (nome dificil da porra) e sempre muito mais maior e mais poderosa. No fim do sec XVIII, após uma enorme erupção, lançou fome a europa, e dizem que até foi um dos fatores para o inicio da revolução francesa, uma vez que após a grande erupção, a nuvem de cinza cobriu a europa, e nao só a europa mas como todo o mundo passaram mais de tres anos sentindo os efeitos dela, como a diminuição da temperatura, queda na produção agricola, etc. Se uma erupção como essa ocorrer, o caos poderá reinar. Não só com o problema na aviação, mas coisas "simples" como ver tv, ou entrar na internet poderão vir a ser quase impossiveis. Com uma grande erupção e uma gigantesca nuvem sobre o continente europeu, os sinais dos satelites nao conseguiriam por alguns dias atravessar essa nuvem de cinzas, e ai o caos reinaria. Um mundo que evoluiu sendo dependente de suas proprias tecnologias, não consiguirá se manter, e ruirá sobre o caos de populações tão acostumadas a informação e ao conforto moderno, que não sabe mais viver de outra forma. A europa que ja está prestes a se confrontar com um grande caos financeiro, o fracasso do euro, e a conturbada relação com os imigrantes, terá de mudar muito seus conceitos e vontades, pois a ordem mundial será abalada. Entrando para a historia como o que causou a reviravolta o Katla, pode ser para aqueles que crêem em mudanças, a chave. Torcer por catastrofres e tragedias não é algo bom, mas ver o mundo mudar por causa de algo que não podemos controlar, é uma coisa que me deixa feliz. Ver que nossa ansia de dominio do mundo é nada mais que uma forma humana de não aceitar o fato da nossa insignifiância. Para aqueles que como eu esperam essa mudança, aguardem pois ela logo se iniciará. O mundo não será mais ou mesmo depois do Katla, e aqueles que temem a mudança, tremei... pois logo ela ocorrerá.
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sábado, 15 de maio de 2010

Simples lições...

Observando o fim de tarde, a transição do claro para o escuro, do calor para o frio, me peguei vendo algo rotineiro na vida de bilhões de seres vivos. Não estou falando do homem, e sim de como as plantas e os animais interagem. Estava olhando o horizonte, quando ouvindo um barulho estranho, vi que um besouro estava perto de mim desajeitadamente trombando em umas folhas de um pé de feijão que tem aqui. Essa espécie de feijão, não é rasteira, e cresce como um pé de café, tendo em torno de 2m de altura. No topo, centenas de pequenas flores amarelas chamam a atenção do besouro e de abelhas, marimbondos e toda sorte de insetos que transeuntam pelo local. Com um engenho incrivel, a planta consegue terceirizar a sua reprodução, deixando a cabo dos esbaforidos insetos esse papel. Na dela, quetinha, ela fica apenas na patronagem de não fazer nada, so crescer e se reproduzim, contando com a luz diaria do sol como alimento, e sugando do solo a água e os sais minerais. Os insetos por sua vez, perambulando de flor em flor, lambuzam-se do delicioso nectar que as flores fornecem, e saem sujos com o polén, até embrenharem em um banquete na proxima flor que lhe atrai com um perfume hipnotizante. As plantas e os insetos estão de boa ali, cada um na sua, as pampa e todos felizes. Isso é algo legal de se ver, porque a gente so aprende isso no colégio e nem sabe se acontece ou não. Vendo bem de perto esse movi, fiquei de cara com o trabalho das abelhas para coletarem o polen para fazerem o mel. Elas ficam la horas e horas,indo e vindo, e seu caminho fica marcado, mas nao por estradas, mas por flores. Flores essas que serão seu alimento no futuro. Simples assim, porque não imita-las?

Porque isso não da dinheiro :(

domingo, 9 de maio de 2010

Dia de campo...

Amanha irei pra Ipatinga fazer mais um trabalho de campo. Campo é algo muito doido, tem uns que são fritação, outros so rck e lugar maravilha de beleza, outros surreais que vc nem entende o sentido, mas todos tem algo em comum. Antes de sair de casa, quando acordo, em dia de campo, sempre tem aquele sentimendo diferente, de algo que eu tinha imaginado em fazer antes de entrar na federal. Fazer uma aula num lugar doido, numa serra, numa cachu, num rio, numa voçoroca, numa cidade historia, na metropole, sempre é algo a mais. Isso é o que mais me motiva a amar a geografia, o fato dela ser uma disciplina academica que necessita de sair da academia. Ir ver o mundo e entende-lo usando a geografia, é algo que me deixa sempre feliz. Trabalho de campo nao é uma viagem, é uma aula. É diferente entrar num onibus com um tanto de geografo. Tudo em volta tem outro significado, por cada hora um da uma ideia diferente. Eu curto demais isso, a geografia tem algo que nenhuma outra disciplina tem, que é te fazer rever o espaço que voce acreditava ver. Lembro do campo do Valadão, indo pra Diamantina, na barragem do rio Paraúna. Ele la mostrava a serra na nossa frente e perguntava, que lado está o mergulho das rochas? todos diziam, norte-sul, mas ai ele disse: É leste-oeste, veem, esta vindo na nossa direçao... Depois dessa aula, desse exemplo, eu mudei muito o modo de ver. Olhar e ver, e olhar e pensar so depois de enxergar , compriender. É bom, eu gosto, vou sentir falta quando "terminar"... Mas enquanto isso, amanha é dia de campo...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Meu objeto de estudo

Segue ai um texto grande que resume o que eu pretendo estudar na minha monografia. Meu objeto de estudo agora é a própria. Vamo ve no que da.


Bem, tentando entender o que quero estudar no cemitério do peixe, percebo que a grande verdade por traz da escolha do lugar, está no fato de lá ser um lugar onde poderei exercer toda a minha idéia de geografia e fazer minha critica ao academicismo. Todos sabem já da minha critica a esses métodos acadêmicos baseado em muita informação alheia e pouca criatividade sua. Pega tudo dos outros e bricolam em artigos sobre um espaço qualquer. A criatividade aparece em um único momento, o da escolha do tema. Geografia é algo além de dados, números e teorias “istas”. Eu enxergo hoje a geografia como uma ferramenta que traduz a realidade, que lhe mostra aquilo que você vê, mas não enxerga.
Usar essa ferramenta apenas como um modo de se fazer censo, ou apenas com formulas e números, ou com teorias que tentam explicar em parte o todo, no meu ver é inutilizar um tanto ela. Essa tecnologia que ao longo da historia humana vem sendo desenvolvida, pra mim é muito difícil de ser usada, mas depois de dominar o modo de utilizá-la, sua visão do espaço que vivemos mudará completamente. Hoje percebo como fazer geografia cotidianamente é interessante. Sem formulas, sem teorias, com a cabeça livre e aberta, para não só ver, mas sentir o mundo. Usar todos os sentidos para geografizar ambientes diferentes, em momentos diferentes. Os geógrafos comuns, livres da academia, fazem uma geografia que eu acho muito pura, simples e interessante.
Conversando com um senhor em uma cachoeira em Congonhas do Norte, ele matuto do mato sabia muita geografia. Claro, ele não sabia a teoria marxista, nem a ligação dele com a globalização, mas ele sabia que naquela região tinha 42 cachoeiras, que ele conhecia o caminho de todas, e memorizava em mapas mentais, toda a região. Incrível a capacidade de descrição do espaço que ele conhecia. Mas não é só para descrever o mundo que serve a geografia, e o senhor me dizia que a região vivia da produção do gado, do eucalipto que chegava agora e estava mudado a região um pouco. Sobre a festa do Cemitério do Peixe, que é o meu local de estudo, ele contava como era interessante essa gentança que vai a festa.
Essa geografia popular traz consigo a capacidade de não só descrever visualmente a paisagem, mas de descrevê-la em toda sua natureza. Quando ele lhe conta um caso e descreve o ambiente, ele transmite além da descrição do lugar, o que ele transmite para a pessoa que o vivencia. Dor, alegria, tristeza, cansaço e paz são possíveis de serem imaginadas, e combinando com a descrição da cachoeira, da estrada, da montanha esses espaços, que poderiam ser apenas mais um no amontoado de lugares conhecidos, se torna um lugar guardado em sua memória, por possuir um sentimento qualquer que te liga a ele. Um exemplo disso é o próprio fato deu ter atribuído importância e significado ao Cemitério do Peixe antes mesmo de conhecê-lo. Eu sabia que seria um lugar muito diferente, pois quando fiquei sabendo dele, foi numa conversa onde essa geografia popular aflorou muito. Se eu tivesse lido sobre esse lugar em um artigo de geografia, que fosse feito para vender em feirões acadêmicos, eu provavelmente não me ligaria tanto a ele. Eu não criaria o sentimento que me foi passado, pois a descrição pura e simples, baseada em uma única forma de entendimento, o tornaria apenas mais um.
Se ao invés de ter ouvido uma historia e viajado em sua geografia, eu tivesse lido algo como: O Cemitério do Peixe, um povoado perdido e abandonado no meio das serras, que sobrevive graças a uma festa religiosa que acontece em agosto, é um lugar vazio, onde apenas uma pessoa vive. Essa moradora trabalha em uma fazenda ao lado, e seus dois filhos também trabalham na região em fazendas vizinhas. A festa que ocorre na região leva a vila mais de 5mil pessoas. Essas pessoas vindas de diversos lugares da região e até mesmo de outras partes do Brasil, transformam o lugar em uma pequena cidade, onde o comercio ocorre intensamente, transferindo capitais de uma cidade para a outra, em uma espécie de feira livre.
Bem, essa descrição é correta, e define bem o que acontece no lugar, mas ela não transmite nenhuma emoção em que seria possível definir melhor o que realmente é o lugar. A história que eu fiquei sabendo do Cemitério do Peixe foi muito mais descritiva para mim, em termos de geografia. Ouvi dizer de um lugar remoto, embrenhado nas montanhas, onde apenas as almas habitam as casinhas vazias. Para se ir lá, tem de se pedir licença as almas, e assim você pode escolher uma das casas vazias para ficar. Nesse lugar perdido, apenas uma moradora convive com as almas. Existe uma festa que ocorre todo ano, na segunda semana de agosto, em homenagem as almas. Pessoas vindos de todas as regiões chegam fazendo e pagando promessas e trazem consigo uma fé tão forte, que transforma o lugar. Mais de cinco mil pessoas se amontoam em busca de um espaço no lugar sagrado. Dizem que nas noites vazias ao longo do ano, só os grilos e o som do rio ao fundo quebram o eterno silêncio. O vento corta o lugar, levando consigo os pedidos e as promessas feitas na festa de agosto. Lugar mágico, por ser sagrado. Lugar raro.

Essa descrição, um pouco diferente, não é a reprodução total da realidade, mas para mim ela transmite mais o que é o lugar realmente, e qual a sua importância. Um lugar lendário, que vive no imaginário do povo, um espaço sagrado onde o homem transcende e encontra com seu EU. Na cultura popular de diversos povos, os lugares sagrados existem de diversas maneiras diferentes. Para entender esses espaços, a descrição pura e simples não resolve, porque por ser sagrado, o lugar envolve sentimentos que não são explicados pela razão. Qual razão se dá a um lugar habitado por almas? Nenhuma, pois não é para ter razão. O homem sente enorme necessidade de se banhar em ambientes em que sua percepção da realidade possa fugir da razão. Uma outra experiência que comprova isso, é um jogo de futebol, onde milhares de pessoas vão a um lugar ver uma disputa sem nexo algum, que não lhe trará nenhum retorno físico, mas sim espiritual.
Saindo um pouco dessa idéia de descrever o peixe e voltando a geografia, quero tentar explicar porque eu vejo a geografia como uma ferramenta e não como uma ciência. A geografia funciona como uma ferramenta que serve para descrição dos ambientes, caminhos, paisagens vividos e imaginários. Geografia é uma ferramenta que te ajuda a explicar para outra pessoa como um lugar é, como chegar até determinado local. O homem utiliza dessa ferramenta desde o momento que se aventura a sair de um lugar e ir para outro, e assim tendo de seguir um determinado caminho, ele utiliza-se de descrições ou de pontos referenciais. Para explicar como um determinado lugar é, ele utilizará de seu conhecimento, que pode ser grande ou pequeno sobre determinado espaço.
O que o curso de geografia faz, é acrescentar acessórios e melhorar a tecnologia dessa ferramenta. Com o conhecimento adquirido, posso interpretar, explicar, e compreender melhor qualquer espaço que eu tenha interesse ou não até. Utilizar essa ferramenta te traz a capacidade de entender melhor o que está acontecendo ao seu redor. A geografia que um matuto do mato faz, é infinitamente mais simples que a minha, pois ela se trata apenas de poucos lugares, e de um uso bastante rudimentar da mesma. Eu no meu ver, posso não conhecer nenhum lugar que ele me contou, mas consigo utilizar dessa ferramenta e combinar a fala do matuto e imaginar melhor como é o lugar, ou como seguir tal caminho. Seu conhecimento do local é e será sempre indiscutivelmente maior que o meu, mas meu olhar sobre a mesma paisagem será também indiscutivelmente maior que o dele. Principalmente porque, ele enxerga naquele ambiente apenas o que lhe é importante, como uma passagem especial, uma trilha escondida, ou uma cachoeira. Eu enxergarei não só a cachoeira, mas também, todo o processo de formação da mesma, as rochas que a forma, o padrão de drenagem, o clima, a vegetação de uma forma que constitua descrições separadas que formará para mim o todo daquele lugar. Quando me perguntarem sobre a cachoeira, terei muito mais informação para passar que o matuto, mesmo ele conhecendo ela muito mais que eu. Isso não quer dizer que ele não saiba nada, apenas que eu com um conhecimento maior posso utilizar a minha ferramenta geográfica com maiores informações para um entendimento do lugar.
O uso dessa ferramenta cotidianamente, faz com que se apure a técnica com ela. Hoje enxergo realidades múltiplas, pois tento ver como as pessoas estão exercitando sua geografia. No Mineirão, por exemplo, eu vou não só para ver o jogo, mas para presenciar toda uma festa, toda enorme movimentação de pessoas, toda a estrutura do sistema por traz da espetácularização do futebol, toda a sensação que os gritos de uma massa humana conseguem transmitir. Olho o rosto de cada um e percebo suas emoções, e imagino toda uma vida por traz daquele individuo, e quando sai um gol, percebo que toda uma carga de energia que ele gerou na expectativa do mesmo, é solta em alegria e energia física, numa explosão muscular que vai além do simples ato físico, mas psicológico. Uma enorme quantidade de hormônios é liberada, e toda a realidade que ele vivia muda, pois agora seus sentimentos também mudaram. Ninguém duvida da capacidade do nosso corpo de nos causar sensações incríveis. A fé por traz do Cemitério do Peixe, também pode ser mostrada da mesma forma como no futebol.
Esse poder da Geografia, de ser capaz de montar todo um espectro de realidades, e de descrevê-las é o que mais me atrai para o uso dessa ferramenta. Acredito que o mundo acadêmico destrói um pouco essa interpretação da geografia, pois a transforma em uma ferramenta de uso simples, e consumista. Se faz geografia apenas onde se paga para fazê-la. Usar um conhecimento em uma ferramenta como a geografia, para simplesmente plotar dados em um mapa feito no arcgis, pra mim não é fazer geografia, é simplesmente ser um cartógrafo virtual. É ir diminuindo ao pouco a geografia ao meio puramente técnico. Não se fazem geógrafos, se fazem técnicos em usar a ferramenta geografia. Ignora-se a geografia popular, pois não a percebem como geografia. Acreditam que geografia é uma ciência indefinida, mas é perda de tempo, pois geografia não é ciência. Geografia é uma ferramenta que utiliza diversas ciências e áreas de conhecimento, diversas técnicas e fontes em que bebe para tentar entender e descrever a realidade.
Esse meu entendimento de geografia é o que me tem feito mais gostar dessa ferramenta, que consegue não só me mostrar o mundo, mas de me fazer bem, por entendê-lo cada vez melhor. E claro, entendê-lo do meu jeito, porque o planeta é um só, mas o mundo, ah esse são muitos.

domingo, 2 de maio de 2010

Sentimentos e vivencia

É engraçado algumas coisas que vem do ser humano. Trombei esses dias uma conhecida minha da época do cursinho, e conversando um pouco percebi o quanto a vida dela nao mudou desde que ela entrou na ufmg. Em contra partida com a minha revolução, a vida dela parecia a mesma. Sem vontade alguma de mudar o corriqueiro cotidiano, ela leva uma vida feliz para seu padrão de felicidade. Quando perguntei a ela, e ai como tao as coisas o que tem feito, sua resposta no meu ver foi brochante, ela disse, ah to na mesma neh, estudando, trabalhando, levando a vida neh. Quando ela perguntou e você, eu até fiquei sem graça. Disse, ah to levando a vida tambem. Levando ela aonde eu quero que ela vá. Saindo da rotina do cotidiano, e fazendo meu cotidiano ser o melhor possivel. Brinquei com ela dizendo que tava indo para um lugar mal assombrado, pra ver se dava onda. Ela riu e disse, ha boa sorte voce eh corajoso. E ai eu truquei ela dizendo algo que ja postei aqui. Corajoso? Eu? Eu sou medroso, eu nao tenho coragem de viver como voce, de ficar numa rotina que mais cedo ou mais tarde vai reduzir minhas vontades, meus interesses, meu animo. Ficar na mesma rotina a 5 anos parece incocebivel pra mim, porque essa rotina me mataria. E eu nao quero morrer ainda. Falei com ela sobre como eh engraçado o fato dela nunca ter se "arriscado" em nada diferente. Ela disse que nao tinha tempo pra isso. Tempo? como assim? Despedi dela, e disse, ei vamo encontrar depois, trocar mais ideia, as vezes eu aprendo muito com vc.. Ela riu e saiu fora dizendo, ah mas eu nao sei nada nao, fico so na mesma...

Eh engraçado essas diferenças de comportamento. Eu olho, vejo, e entendo mas nao concordo. Acho que as pessoas deviam se aventurar mais no seu cotidiano, elas tem medo de ir numa cachoeira, subir uma serra, mas nao tem medo de sair da cama quente pela manha para ir trabalhar. Elas ja levam isso desde que nasceram, nem sabem como nao eh fazer isso. Sair dessa rotina imposta é muito dificil, mas é possivel. É possivel porque a rotina é você quem faz e se condiciona. Ja falei de rotina e rotina eh um saco. Mesmo a melhor de todas vai te fritar, porque eh uma repetiçao de fatos. Quando viajamos, gostamos muito, mesmo aqueles mais ranzinzas, porque saimos de uma rotina. Mas se sua rotina for viajar, vc vai gostar quando passar um mes em casa. Eu estive no Cemitério do Peixe, o lugar mais interessante que ja fui, onde a paz pode ser sentida em sua maior expressão.

O que é PAZ? Paz é quando seus medos estão longe, protegidos por algo que você acredita que lhe defende. É quando o som lhe acalma, quando você nem sente a temperatura ambiente, quando seus pensamentos estão livres e vagos, e seu corpo está ali parado sentindo tudo a sua volta, como se fosse a barriga da sua mãe, o lugar mais protegido que você ja sentiu. Eu curtir sentir a paz que senti lá, porque como disse no outro texto, é uma conjuçao de fatores que tornam possivel isso. Na topofilia, da pra entender muito bem o que me fez sentir aquela paz. A construçao humana que protege do mundo lá fora + o mundo lá fora sem a presença humana = Cemitério do Peixe onde a Paz absoluta é possivel de se sentir. A calmaria resumi tudo, e um sentimento de tranquilidade apossa de seu coração.

Quando eu sai de casa sozinho, para passar a noite numa vila cemitério, onde só as almas habitam o lugar, eu nao fui corajoso, eu fui um covarde, que nao aguenta o mundo aqui e precisa fugir para esses lugares. E como é bom fugir daqui...

sábado, 1 de maio de 2010

Cemitério do Peixe

É um lugar diferente. Embrenhado no meio das montanhas do espinhaço, escondida e incrustada no meio da mais alta definição da mineiridade, a vila cemitério, espaço sagrado do catolicismo popular, lugar de paz, meditação e respeito, é antes de tudo indefinido. Uma vila temporária. Um espaço que possui uma temporalidade diferente de todos os outros da região. Espaço que se reproduz como espaço social e econômico durante apenas uma semana no ano. Durante o jubilei de São Miguel e Almas em agosto, o vilarejo “fantasma”, vazio de gente, se entope de uma multidão de pessoas. As 3 pessoas residentes no local se transformam em mais de 5 mil, transformando a paz reinante no lugar, no caos da festa quase anárquica. Lugar das almas, a terra não possui dono, e se perguntar a qualquer um do lugar, ele dirá que é das almas. Almas que descansam na maior paz que se pode imaginar, pois o lugar traz a paz da natureza com a segurança e o conforto de uma alteração espacial produzida pelo homem, na forma de uma vila vazia. Por estar vazia, a vila não tem todo o barulho e agitação de uma comunidade humana, e assim traz a quem passa pelo lugar, uma sensação de paz absoluta pois está protegida da perigosa natureza lá fora. Longe do caos dos homens e da natureza, o espaço é mais que um simples e perdido vilarejo na serra, é um espaço sagrado. Sagrado pois traz consigo uma poderosa e viva força baseada numa fé pura e especialmente popular. Traz consigo a força do povo em construir centenas de casas que só terão utilidade uma única vez ao ano. Ainda não conheço a festa, nem consigo imaginar o “peixe”, como é conhecido na região, com um numero absurdo de almas vivas. As mais de 100 casinhas que outrora já foram muitas mais, hoje se modernizam com tecnologias que não são utilizadas por ninguém durante uma infinidade de dias.
A lenda da região diz que o cemitério do peixe, fora em seu inicio, um rancho de tropas, que faziam o antigo caminho que ligava Conceição do Mato Dentro a Diamantina. Durante uma estadia de uma tropa qualquer, um escravo morreu no local, e fora enterrado ali. Logo depois em uma outra tropa que passava na região, um dos tropeiros morreu e foi enterrado no mesmo lugar. Daí fizeram uma missa e ergueram uma pequena capela e um cemitério, transformando o lugar no cemitério para todos aqueles que faleciam na região do peixe. Ninguém sabe dizer o porque do nome ser peixe, mas acreditam ser o fato do rancho ser um lugar que possuía muitos peixes pois era ao lado do rio Parauna, que hoje assoreado, tem grande largura podendo ter sido ate navegável em outras épocas. O lugar é indefinido pois sua historia oral se perdeu nas lendas do povo. Sabe-se que ele existe a quase 200 anos, pois as primeiras memórias e historias vindas dali, provem da época em que a corte estava na colônia. O Brasil se tornou independente , virou império , republica e agora vive no caos do desenvolvimentismo, e o cemitério do peixe pouco mudou. Os antigos já diziam que bom mesmo era o cemitério antigamente, e assim por inúmeras gerações passadas o cemitério vem sendo utilizado, e o jubileu de São Miguel e Almas acontecendo. O silencio ensurdecedor do lugar, define o que ele é. Um lugar vazio, mas vivo. Cheio, mas vazio. Distante da realidade mundana, mas perto da mais pura religiosidade que se pode atingir. Fé e paz são sentimentos que o homem atinge em locais e em eventos diferentes, mas no peixe eles são constantes.
Anseio ver a festa e a total mudança do espaço, quero poder ver com meus próprios olhos essa cidade, agora fantasma, se tornar o centro da região.


Se alguém quiser conhecer um lugar interessante antes de morrer, indico que conheçam o Cemitério do Peixe...