domingo, 21 de novembro de 2010

A inexplicavel estória do poço milagroso.

Era ali o ultimo lugar com água na região. Seguia braba a seca, de envergar solo bruto, de queimar mato seco sem faísca, que deixava o esqueletico gado ressecado. Já era mês e mês sem que gota nenhuma despencasse do céu. Jaziam um a um, em grossa lama de argila, os poços da região. Seu Taguinha tinha um poço em fundo de casa, perto do final da estradinha que levava as ultimas casas da boca do sertão à cidade grande, que de longe observava assustada com as noticias da secura que apareciam em tv. Coube que um dia, numa hora de desgosto, com a morte de um bezerro magro, Seu Taguinha retirou-se do ali'maldiçoado pasto cinzento, e seguindo pra pequena capelinha que tinha-se ali no cantim de casa, rezou implorando as almas do tal Cemitério do Peixe, que lhe trouxessem água, mas que num era nem pra ele mesmo, mas prá criação que sucumbia esqueleticamente a morte seca. Em reza bruta, de gotejar suor frio, Seu Taguinha pedia que se por um acaso de milagre, o poço tivesse de dar água, ele em troca, iria ao tal jubileu das almas, e rezaria terço graudo durante os dias de festa.

Sucessedeu que por um acaso de inexplicavel coincidência, no terceiro dia após a promessa rezada, do fundo do lamacento furo intraterrestre, brotou água jorrante. Limpida e em formosa quantitadade, a água milagrosa, ganhou fama corrente por aqueles grotões. E Seu Taguinha em descompassada alegria, danou-se a dizer que aquela água era santa e milagrosa, que São Miguel das Alma tinha lhe propiciado tamanha dádiva, e que queria por que queria que fosse feito uma capela em volta do buraco sagrado, para que as pessoas se benzesse com aquela água.

A famosura do lugar se expalhou. Gente vinda de todo lugar do sertão, em busca de um pouco de água, Seu Taguinha em espanto de fama rapida, dava entrevista pra rádio e televisão. O povo fazia fila, uns pra pegar água, outros pra ser benzidos, e outros só pra aparecer quando a tv tava por ali. Era gente e mais gente, cada vez mais. Vindo de outras bandas, outros estados, lá de "sumpaulo", ou do "belorizon't", os tal cientista. Uns diziam-se doutor, mas não sabiam nem medir a pressão do povo, só queriam saber de pedra e dizer que era um tal carcário, que por um acaso de sorte, havia de ter ali um rio topeira, que vivia por debaixo da terra, e que por causo duma perfuração, no sitio de Seu Migué, tinha de sido desviado pra debaixo do poço, já dito santo.

Era alvoroço de desgosto. Uns dizia que os cientista num tinha respeito, outros dizia que santo ali era o doutor. Seu Taguinha insistia na promessa, dizia que fora o santo, e que milagre a tal ciência num podia de explicar. De raiva, expulsô todo mundo. Não deixo ninguem mais dali beber ou ser benzido. E rogou praga nos que havia de desacreditar no poder do santo. A seca continuava bruta, e pouco tempo despois, foi que o povo começou a querer por que querer pegar água ali no poço que não era mais santo. Mas pro povo já não importava se era santo ou não, a água era que devia de ser utilizada, pros modos do povo. Cozinhar a comida, e banhar um pouco que fosse. Seu Taguinha se inquietou, num queria ninguem ali, já dizia que água não tinha mais. O povo desdeixo de ir procurar água por lá. O lugar se defamou, e volto a ser um grotão isolado, mas que ainda tinha água. Unico lugar. Lugar unico. Mas por fim de novembro, deu-se fim a tristeza da seca, e o verde voltou a cenáriar.


Agosto doutro ano se veio. Época de se pagar a promessa. Jubileu pras Almas lá no tal "peixe". Seu Taguinha em promessa a cumprir, descompriu por ter não mais acreditado no que acreditava. Tava já cansado, e não tava com boa saúde para aventurar-se numa travessia de cordilheira bruta. Doutro lado da vertente, nos lado do Mato Dentro, o Cemitério do Peixe se enchia de gente que chegava pra pagar suas promessas. Seu Taguinha num infarto desmedido, veio a falecer ali mesmo, no grotão seco, dia após fim da festa. Sem vida na secura, seu poço ao ver o dono, o imitou. Secou tão seco, mais que nunca, em dura crosta siltosa. Fim do moço, fim do poço. Sem dono a promessa já num tinha cabimento. E as Alma do "peixe" desfizeram o acordo. Deu-se uns dias, e ali denovo estavam os doutores de pedra. Mas não sabiam dizer o porque, nem o que tinha acontecido. A secura dessa vez, era milagrosa, mas do que quando tava vivo."

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estória Oficial do Cemitério do Peixe

Tudo começou num Sete de setembro de setenta e sete, mas isso há dois séculos, quando o sete de setembro era só mais um dia.  Aconteceu no meio do nada, nas paragens do Paraúna, rio negro e caudaloso, que servia de rota do contrabando em bando.  Tropeiros e pais de santo do pau oco, gente de bem, de belém, também, gente boa e má, vinda de lá e de cá. Na diamantinada vila do Tijuco, um menino novo, desses bem pequeno,  roubou uma pedrinha e saiu correndo, desembestado vertente arriba, chegou no alto do morro e sumiu.  O menino cresceu rico, trocou a pedrinha por uma patente, e coronelizou a região do alto mato dentro. Mato Dentro de índio botocudo carnivoro, assim como as onça brava de cor bonita, e assim também como de portugueses paulistas das minas que viviam em guerra com si mesmos.  Num lugar de curva, perto da velha cordilheira, o Espinhaço difiçasso de atravessar, se tornou um muro que separava a liberdade da cidade, o sertão do então, o cerrado do errado. O Paraúna escolhido por ser de facil navegação, com bergantins precisos, os contrabandistas e seus bandos, contrabandeando o diamante inconstante, fugiram pros sertões bandeirantes, esquecidos pelo poder reinante, da metropole distante. O quanto antes então, se sucedeu de supetão, a construção de um quartel de patrulha, que impedia a fuga da madruga, num cantinho de traço, na borda do Espinhaço. No mapa nem existia, mas ali de vigia, os soldados ficavam. Fazendo nada o dia inteiro, quando passava alguem pediam dinheiro, e viviam na mais tranquila paz do canto perdido, onde o dinheiro vinha vindo, e quem passava pedagiava um pouquinho e sumia pro sertão. E aquele menino rico, coronel da região já velho, passando em viagem a Morro Velho,  foi roubado por um bando que fazia contrabando. De raiva ficou enfurecido por ter seu Diamante perdido, e sua patente jogada no limo das alvas pedras quartziticas, o impediu de exercer poder. Correu então em direção ao quartel, aquele mesmo da boca da fuga da madruga, e chegando ao local foi recebido com empolgação. Os soldados já queriam a forra, e dizendo na boa, - pague o pedágio coroné, e pode passar pra liberdade. 

- Ah diacho de disgreta gorda - gritou o coroné - quero raio de passar, quero que encontre quem roubou meu diamante, e quero agora, com pena de ocês serem fuzilados na praça de enforcamento. - Diacho de nadá coroné, quem roubou o sinhô, foi a gente me'z, e o sinhô que não se ajeito que a bala vai cantar.-

E num duelo contagiante, onde o coroné nem teve chance, foi ele mesmo fuzilado, e deixado de lado, jogado no rio, comido pelos peixe que foram envenenado. Passaram uns dia, e os soldados na fome de diamante, sem poder comprar nada, ficaram na pesca se alimentando. Mas o peixe envenenado pela carne ruim do coroné,  estragado de cor e cheiro, de gosto amargo e sem sal, foi devorado pelos soldados, que nem encrepúscularam, morrendo ali mesmo de desgosto, envenenados pelo próprio corpo, que profanaram. 

Dias se passaram, e de terror empalidecido, o velho Canequinho, morador desde então da região mandou logo chamar um padre, rezar uma missa e desamaldiçoar o lugar. Fez-se então um cemitério, e enterraram os corpos que já sem vida e mortos, jaziam ao relento. De piedade cristã, o velho Canequinho resolveu fazer capela, rezar com vela, e mover procissão. E desde tempos remotos, do século que já passado ficou velho, a tradição de se rezar as almas se manteve como guia. As almas alforriadas da vida terrena, agoram ajudam aqueles que penam na constância cotidiana da desajeitada e triste existência. E assim, em mês de agosto poeirento, de noite fria e vento, o lugar perdido, na quina da beirada, da fuga na entrada, se tornou sagrado para um povo, que de nada sabe o porque, mas que por tradição de rezar, transforma o lugar, num alvoçoro de gente. Vivos na cidade dos mortos, onde o que impera é o silêncio, o cemitério virou cidade, com casinhas para as almas, que vivem ao lado dos vivos, que já rezam pedindo para que quando tenha o destino final, na qual nada foge nessa terra, eles possam ter finalmente uma casa própria, mesmo que mortos de tanto esperar, vivam eternamente nas casa que serão seu novo lar. 

Quer saber onde fica esse lugar? É lá pras banda do Peixe, região do mato Dentro, no Espinhaço meridional. Lugar mágico, sagrado, coisa e tal. Além do comum e do normal, de historia popular e oral. De festa religiosa tradicional, mas que caminha para se tornar mais um carnaval. Coisa essa e tal, nada transedental. Carnal.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Subindo...

Lá no alto, é possivel se esconder dentro das nuvens, e esquecer o mundo aqui embaixo. Do alto o silêncio da metropole, é ensurdecedoramente mentiroso. É o inverso do que pensamos ser. Porque do alto se tem a paz. Se encontra a paz. A paz está nas nuvens, no céu! O paraíso é terreal. O caminho é por aqui! o Destino é a felicidade! E a felicidade é a simples verdade. E a verdade é simplesmente existir, sem porques, sem progresso, sem competição. Vou subir pras nuvens, e lá descansar...