terça-feira, 27 de setembro de 2011

Povo Varzeano

É certo que ao acordar no ponto final do ônibus sem saber aonde raios você se encontra, vem aquele arrependimento, por não ter ido pra casa mais cedo. Mas ai o rock em sua essência não nos permite a fuga antes do momento auge, que ocorre minutos antes da derrota, aquele momento em que a euforia do álcool contagia tudo e todos. Excesso de felicidade toma conta do ar, e a luz que se acomoda no alaranjar dos postes, torna universal todos os lugares. As ruas que beiram a planície do defunto rio Arrudas, são o lugar da malucada que a principio nada teme. Por ser o lugar que em questão que transmite mais medo aos adestrados, a várzea é propicia aos exageros, aos sonhos e desilusões. É inclusive o ponto inicial de uma longa jornada de volta dentro do ônibus, nas alvoradas belorizontinas que frias, nos atormentam. A luz forte do astro rei acaba com o ilusório mundo alaranjado da noite, e nos faz lembrar que mal sabemos como vamos chegar em casa, e nesse lapso de consciência percebemos que não pegamos o ônibus que para mais próximo, e sim um que passa um tanto quanto distante da sua morada. Sua memória mal se lembra do momento em que entrou naquele coletivo, pois deitado no canteiro central lama de uma avenida comercial da várzea, quando você era quase vencido pelo cansaço, aquele ônibus o salvou. Melhor dormir no ônibus que na rua, e ao acordar assustado no fim da linha, a ultima energia se converte em guia para leva-lo a cama de casa. Parece que o varzeano tem uma proteção extra em suas loucuras, pois por pior que se encontre, consegue sempre chegar em casa. É claro que há exceções, momentos de falta de energia, vitória do sono. Dormir na calçada, bancos, ônibus, praças, ruas, e até na porta de casa, fazem parte da cultura varzeana, que vive a espreita do acaso. Mas em sua grande maioria, as noites são espetáculos de um cotidiano de luzes e cores inconstantes, sombreado de descontração e sons musicais. O dinheiro nem sempre consegue acompanha-lo até o fim , e mingua em rápida velocidade madrugada adentro, deixando aos homens da planície de inundação a “moral” como solução para o retorno a casa. A “moral”que perpassa por um simples ato de tranquilidade, é a passagem gratuita que se tem direito nas madrugadas onde o transporte mal existe. É o coleguismos dos homens, quando um adestrado se torna mais humano, e ajuda um varzeano. São noites e noites, casos e acasos, mas sempre num tom de felicidade que leva esses homens a retornarem na próxima noite, mesmo sem dinheiro algum, mesmo sem saber como voltar, pois para o homem da luz laranja, só o dia pode o desanimar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Em busca de tranquilidade

Estou depressivo em Belo Horizonte e isso me assusta. Vivendo a 18 anos na bhbilônia, e conhecendo bem muito de seus segredos, hoje me sinto cansado de sua pesada existência. Naufrago em um mar de infelicidade, me vejo sem animo, sem disposição, sem vontade. Estranho isso vindo de mim que a todo instante se entretêm com alguma coisa, mas hoje, hoje foi estranho pela primeira vez. Mas ai veio a noite, e o apanhado de desejos bons se realizaram, e me levaram a uma noite musical, longe, e dentro de um espaço sagrado do meu culto. Culto da malucada, a classe media cultural exerce um pode de liberdade que gosto muito. Só consigo sair nos cultos, e fora isso, só perambular mesmo pela cidade, em deriva(S)ativas durante os dias sem rotina. Desrotinado, me vejo perdido, e tenho logo que alçar vôos mais longos, de novo lá para o nordeste, o paraíso tropical, meu sossego. Sentir boas coisas, viver outras coisas, outras possibilidades, outras felicidades. Assim espero e assim pretendo viver o próximo verão, bem próximo ao equador, em plena satisfação de uma nova vida temporária. Que venha dias melhores, dá bhbilônia só aproveito o melhor, e em breve longe dela, nas mornas águas de um lugar Gostoso.

domingo, 11 de setembro de 2011

Laranja noturno

O que te lembra a cor laranja? Laranja me lembra a noite, a boêmia, o rock, uma diferente e alegre sensação na metrópole quando ela adormece, tornando-se o temor de uns, o cansaço de outros, e a felicidade daqueles que fazem da noite um espetáculo. Sair perambulando pela várzea do Arrudas em busca de entretenimento na região do baixo centro, circulando pela grade de Reis, me torna um habitante do vazio noturno, no espaço abandonado pelos homens adestrados da cidade. Resumindo a imensidão concretada a uma simples região, faço no enrugado relevo das montanhas Gerais o caminho mais plano. Na várzea do maior rio da cidade, morto e devidamente enterrado, caminho em planura ilusão, cercado de gigantescas torres, dominadoras da paisagem. Na Bhbilônia não há o escuro da noite, uma ilusão laranja domina o ambiente trazendo uma diferente percepção aos olhos, diferente da luz azul do dia, tornado as cores mais lúdicas, mais boemias. O temor de uns, é a liberdade de outros, e assim os homens adestrados, repugnam o valor cultural daquele povo que vagueia entre tribos e estados, nas madrugadas onde os adormecidos escravos recuperam a energia para venderem seu trabalho. Talvez essa inveja dos servos seja a explicação para o fato de tal área ser tão degradada. O povo do lugar não vive ali, vive longe, povo periférico. Vive agarrado ao centro da metrópole, como única possibilidade que ela lhes deu de se divertirem. Entre bêbados e pedretes, prostitutas e mendigos, médicos e advogados discutem com empresários e estudantes, tantos ricos tantos pobres, mas todos em alegre embriaguez, em um estado de realidade coletiva onde no real, nada é impossível. Diferente dos dopados escravos tarjados de preto, o povo do Arrudas é diferente, está em alerta e quer apenas mais um gole, para fugirem da realidade da maioria, motivo de aborrecimento. Não conseguem entender aqueles que vivem sempre buscando reproduzir a mesma novela, que querem o final feliz. Esses não, o povo da várzea gosta é de sentir as sensações que a vida impedida de ser livre, pode nos dar. Vagueiam em desconcertante deriva, conhecendo cada esquina do projeto de Reis, consumindo cada canto, sem hora para voltar. Ao alvorecer, o povo da noite regressa em sonolenta viagem, deslocando-se pelas grandes vias que os levam para o outro lado da cidade, longe de sua terra prometida. O espaço sagrado daquele povo varzeano, é devorado pelos escravos durante o dia, em centena de milhares de ações. Mas no acender dos postes, a luz laranja voltará a reinar, e aquele povo poderá outra vez cultuar a sua fé.