sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Presença

Texto sobre politica, o DA, e outras coisas...



Sobre a representação política e o DA PRESENÇA:

“... a política outrora era idéias (...), hoje é pessoas. Ou melhor, personagens” (SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard. O Estado Espetáculo).

Política dos partidos, dos gabinetes, das assembléias, dos conselhos, da burocracia. Política da linguagem normativa, dos assuntos intangíveis e cercados de interesses, das falas desinteressantes e intermináveis. Política dos centralistas que se pretendem representantes da sociedade. Política dos personagens...

“Na boa, política é um saco amigo...”.

É isso que sempre ouvimos em relação à política e, de fato, a política nos moldes instituídos é verdadeiramente um pé no saco.

Porém, esse modo de fazer política é o único possível?

Política enquanto conceito é complexo e demanda uma discussão aprofundada. Entretanto, o que se pretende aqui é aproximar do que é ser essencialmente político, em contraposição a um fazer político que é instituído/instituinte da organização social em que um indivíduo ou um grupo de indivíduos pretendem representar toda uma coletividade, estabelecendo relações distanciadas e permeadas por intencionalidades e oportunismo.

Ser político é construir tempo e espaço (público) de diálogo e troca de idéias que remetem à organização das coisas sob a vontade de todo o indivíduo que compõe uma coletividade. Ser político é se relacionar como sujeito de suas próprias ações. Ser político é perceber que nenhum saber é superior e que todas as pessoas podem contribuir para a construção de um espaço autônomo e participativo. A política nos moldes atuais nos obriga a exercer obrigações que nos tornam empregados de uma hierarquia, contrariando o seu ideal de congregação horizontal.

A construção coletiva não necessariamente significa bagunça. Bagunça é como o DA se encontra. Para que a construção seja coletiva é necessária maior participação dos estudantes. A política começa a se construir na presença, conversa, e não em atos sem congregação de idéias. Agir apenas não é o suficiente. Agir sem dialogo é pior ainda.

Uma coletividade de indivíduos sujeitos de sua própria política e congregados de idéias não precisa de representação. Ela se auto-representa. Ela é a representação. Para que então ser representado? Por que não se representar? O dialogo e o consenso sempre serão as formas mais valiosas de se agir. Uma reunião é mais longa que uma votação. Mas em uma reunião você se auto-representa, você tem a chance de conseguir o que quer na base da conversa, do consenso e do bem comum. Uma eleição exige que pessoas trabalhem. Trabalhem para os outros. E como estudantes, não deveríamos trabalhar para ninguém. Por isso , essa política de alunos profissionais, torna-se dominante no âmbito universitário. Pois nós, como estudantes não temos tempo para pensar nesse trabalho. Devemos preocupar com o DA para os estudantes. A escala é o IGC, e o tempo é agora. Não as ações à frente para um futuro político profissional.

Há dois anos o Diretório Acadêmico (DA) do Instituto de Geociências (IGC) é ocupado por estudantes profissionais vinculados a partidos políticos que usam o DA como instrumento de alcance de seus interesses dentro do jogo político existente dentro e fora da universidade. O formato do discurso e de formação das chapas nas duas últimas gestões no DA-IGC foi o mesmo. Calouros cooptados e alguns chefes, centralistas, burocratas vinculados a partidos políticos que apresentam um discurso de um DA participativo, mas quando acaba as eleições tomam chá de sumiço e o DA fica como está atualmente, em condição de inexistência (totó, sinuca e depósito de lixo).

Dessa forma, a inquietação relacionada ao instituído como única possibilidade de se fazer política, a necessidade de evitar que os partidos políticos sejam aparelhados pela estrutura burocrática da universidade e a atual inexistência do DA-IGC são os motivos principais que levaram à formação da CHAPA PRESENÇA. A construção de um espaço político e de política em sua essência passa muito mais pela idéia de congregar as pessoas do que pela noção de representatividade. A representação política nos moldes instituídos separa diretores como sujeitos da política e reproduz a politicagem da falácia e dos trâmites burocráticos e do “pé-no-saco”.

Concebe-se que a construção de um DA autônomo e participativo deve passar pelo diálogo e pela PRESENÇA (em contraponto à ausência do atual DA). É necessário vivenciar o espaço a que nos propomos construir. A representação política é feita a partir do momento que o indivíduo torna-se sujeito de sua vontade, de sua ação. É feita quando esse indivíduo debate coletivamente suas percepções das coisas, buscando congregar suas idéias com outras e definir ações a partir dessa congregação de idéias e vontades.

A CHAPA PRESENÇA insere-se num processo eleitoreiro e à primeira vista isso pode parecer contraditório na medida em que critica a própria eleição como instrumento de reprodução da política de burocratas centralistas que pouco se importam com o espaço vivido do DA-IGC. Porém, a idéia é perceber as possibilidades de mudanças no DA, inclusive em níveis estatutários, no sentido de caminhar para a construção de um espaço de diálogo e de gestão coletiva.

Um receituário pronto e de discurso competente todos têm, a questão é quais são os verdadeiros interesses de quem se propõe a agir pelos outros, a representar os outros. A enumeração de propostas entra no plano do discurso e nem sempre o discurso é condizente com a prática. O discurso do DA atual nas eleições passadas era o de gestão participativa e o que viu foi a inexistência de tudo. O espectro partidário novamente ronda o IGC (sai PSTU, entra MEPR). Nas eleições atuais há uma chapa que se pretende representante dos alunos do IGC e, em forma e conteúdo, é idêntica à atual gestão (estudantes profissionais + calouros cooptados), embora o discurso seja de oposição.

A noção de PRESENÇA justifica-se na tentativa não de aliar discurso e prática, mas sim de torná-los uma coisa só. A idéia é não centralizar a direção do DA. É abolir a noção de diretório. É fazer política para além do instituído, sem intencionalidades e personagens políticos. É construir um espaço em que qualquer pessoa possa expressar seus pensamentos e suas vontades, caminhando no sentido de congregação de todos os indivíduos e de suas idéias. Indivíduos congregados de idéias formam uma coletividade autônoma e participativa.

As eleições do DA-IGC ocorrem nos dias 16 e 17 de setembro. SE LIGA, MARQUE PRESENÇA!!!


Autor Coletivo

Um comentário:

Ana disse...

Ei, muito bom esse texto! Tem que ser divulgado pelo IGC! Vcs estão fazendo isso?
Fiquei feliz em ler... queria estar ajudando até, mas tá difícil esse semestre..