domingo, 29 de maio de 2011

Aos Amigos Geografos

E ai galera blz?

Me despeço na manha dessa segunda do acampamento base do Projeto Volta Grande , da mineradora VERENA, e assim regresso a dita civilização. Em minha jornada por essas terras, descobri e vivenciei muitas coisas nunca imaginadas por nos habitantes de uma metrópole cercada por montanhas. Aqui em meio ao calor da floresta equatorial, cercado de vida distribuída e organizada em todos os padrões que nós inventamos para diferenciá-la, me sinto integrante de todo esse jogo fantástico criado não se sabe por que, mas que nessas andanças geográficas, ficamos a nos questionar. Sentado na beira do mítico e majestoso rio Xingu, vendo toda a trama que essa bela paisagem nos mostra, me sinto feliz por ser assim como vós Geógrafo. No dia que marcaram no calendário como sendo o de homenagem a nossa profissão, quero parabenizar a todos que tiveram a coragem de fazer um curso que traz uma dramática mudança na forma como vemos o mundo. Hoje nos vejo como pessoas capazes de em uma visada, interpretar de modo interessante toda essa louca realidade.

Sentado na beira do Xingu, um ribeirinho se aproxima, e logo começa a interpretar essa paisagem com sua visão totalmente adaptada a essa realidade. Me diz que aquela ilha que vejo formam várias praias no verão, que aquele peixe que saltou em busca de uma piabinha, é um tucunaré, que aquela nuvem indica chuva em tanto tempo, e que a noite vai ser estrelada. Diz também que a vida é uma mera repetição de acasos, e que assim como na pesca, nunca se sabe o que virá.

Sem nunca ter vivido um único dia como esse ribeirinho viveu, e em poucos dias nesse lugar, consigo nitidamente e correlatamente interpretar os fatos como ele. Sei que aquela ilha apresentará várias praias, pelo padrão de drenagem do rio anastomosado, que indica acumulo de sedimentos, pelas marcas da vazão do rio nas margens na cheia que há pouco se foi, que indicam que a vazante é grande, e que com certeza esse rio diminuirá muito ainda. Sei que aquela cumulusnimbus que se forma rapidamente, trará chuva forte, porém rápida, e como é o fim da tarde, logo ela se dissipará e um estrelado céu brilhará a noite. Sei que aquele peixe caça daquela forma, saltando da água e abocanhando por baixo sua presa, ( vi isso no Discovery ahaha ), só aprendi o nome do peixe, Tucunaré : ) . E sei que a vida é o acaso das certezas. E que as incertezas, são apenas certezas ainda não pensadas.

Certo que nas margens do Xingu, em alguma barranca exposta, é possível admirar a majestosidade desse imenso e importante rio. Nascido na longínqua e não menos mítica serra do Roncador, no coração do Brasil, esse rio banhado por tantas áreas diferentes, chega aqui na Grande Volta que ele faz, buscando uma sobrevida antes de sua foz no A(mar)zonas. Cheias de energia acumulada, em um caminho criado pelas leis da física que o homem tanto busca interpretar, o rio segue lentamente sua jornada, fazendo parte do eterno ciclo das águas. E nessa ciência dos “Comos”, descobrimos como funciona muita coisa. Os “Porquês” ainda são impossíveis de se responder, e talvez nunca consigamos, mas como Geógrafo, saber, e entender muito desses “comos”, me faz pensar e refletir. Como é bom tudo isso que existe, e como é frustrante perceber que nossa cultura simplesmente esqueceu que vivemos em um planeta, um mundo, um chão. Cercado de carpetes, aço e concreto, respirando no ar condicionado, perdemos mais e mais a nossa ligação com tudo isso, e principalmente, com a nossa própria e mais bela característica humana. A curiosidade. Curiosidade de sair por ai simplesmente observando, vendo e querendo saber como tudo acontece.

Digo o que penso e sinto, e digo uma coisa, por mais que não vivam da geografia, vivam pela Geografia!

Saúdo a todos em grande felicidade e espero que todos possam estar ai daqui a muitos anos, não importando o que acontecer, geografando por ai!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sob a lei do $ifrão.

Estamos no começo da segunda década do século XXI, e ainda cometemos os mesmo erros do século XX. A questão Belo Monte é algo muito mais sério do que se imagina, porque ela está inserida num contexo muito complexo. Vou tentar escrever aqui o meu entendimento do que está acontecendo por aqui e o que é possível pensar sobre toda essa historia.

Belo Monte é uma das mais complicadas questões atuais no país porque envolve antes de tudo o enriquecimento de poucos em detrimento de uma imensa área de selva, de uma grande população, tanto silvícola quanto ribeirinha, além de toda a problemática energética nacional. Aqui em meio ao Xingu, nas densas matas que contornam a Grande Volta que esse majestoso rio faz, estive conversando com algumas pessoas na Vila Ressaca, a pequena favela capital da região. A primeira coisa a se constatar dessa conversa é que as pessoas estão, antes de serem a favor ou contra Belo Monte, perdidas. Elas mal sabem o que vai acontecer, como vai acontecer, só sabem de uma coisa. Elas irão perder.

O Consórcio Belo Monte vem usando táticas e métodos diferentes para comprar as pessoas. Na quarta passada, ocorreu um show em Altamira, patrocinado pelo Consórcio com Banda Calypso e sorteio de 11 motos. Outra tática incrivelmente contraditória foi a de levar placas solares para captação de energia e assim levar luz a casa dos ribeirinhos. Isso é uma coisa tão surreal que ainda não acredito, mas muitas pessoas me disseram que de fato isso ocorreu e vem ocorrendo. Ou seja a Norte Energia traz a solução mais prática aos moradores, para que eles sejam favoráveis a construção da barragem, e ai na cabeça do ribeirinho nada mais faz sentido. Ora, se ele tem já a luz, porque precisa da barragem? Fica nítido sim que essa energia não é para ele, e sim para aqueles que vão se tornar bilionários.

Nem vou tocar no âmbito do meio ambiente porque isso está mais que claro que é uma burrice. Muito menos no âmbito do silvícola, já que há muita gente discutindo isso, vou trazer a tona o assunto que mais me encabulou que é o referente aos moradores da região, a questão da terra, e da moradia. Bem a Vila Ressaca, é a principal de toda a região e ela não passa de um mero amontoado de casas seguindo uma rua principal, e duas travessas, com uma escola, diversas vendinhas, alguns cabarés e botecos. O lugar foi construído pelos garimpeiros da região, que antes moravam nos seus barracões isolados próximos as áreas de garimpo, mas que com o tempo, como iam sempre a Ilha da Fazenda, povoado ribeirinho em uma ilha próximo a vila, vender o ouro e gasta-lo no rock, resolveram construir a sua própria vila e fixaram-se ali. Conversei hoje com um dos primeiros garimpeiros da região. Ele vem buscando o direito de suas terras, mas, MASSSSSSSSSSSSS, ele que chegou em 1958, e que em 1963 entrou na justiça com a papelada, até hoje, passados 48 anos, ainda não recebeu os papeis que comprovam que as terras deles são realmente dele. Aposentado de anos do garimpo vive de uma pequena venda, e é um dos principais homens da Vila Ressaca.

Esse senhor teme uma coisa, que ninguém nem sabe que vai rolar. As pessoas que forem retiradas para a construção da barragem, mesmo as que moram próximas de Altamira, NÃO irão para Altamira e sim para a Vila Ressaca. Ou seja, centenas de ribeirinhos que não terão mais o rio para pescar, vão se mudar para uma favela sem posto de saúde, sem policiamento, quase sem educação, entregues a lei do cifrão, que manda aqui nesse remoto posto de garimpo do meio da Amazônia. O preço da terra em Altamira subiu drasticamente de 2 anos para cá, e agora vem aumentando cada vez mais, por isso é mais barato para a Norte Energia, economizar levando o povo para uma favela isolada numa remota curva do rio, do que leva-los para uma cidade já com mais de 100mil habitantes. É tão ridículo toda a coisa, que imaginem vocês que a vila Ressaca, não deve ter mais de que 500 habitantes, e de repente irá dobrar sua população. Ai volto na questão do velho garimpeiro que diz: E ai, e meu direito da terra? O povo já começou a se mudar, e vão invadir tudo aqui, aumentando mais a confusão que já é. Sem conhecimento de nada, o povo acaba também sem direito a nada, e ai vão cair na mão das piores pessoas do lugar, que vão alugar seus barracos, e até vender terras que nem são delas, com papel falso.

A Norte Energia diz que vai asfaltar, levar saneamento, educação e saúde para a vila Ressaca. Dizem isso sempre com o maligno argumento do Progresso. Mas é ai que a contradição pipoca na cara de todo mundo. O dito progresso, só é progresso quando é algo bom e inteligente, fora isso é RETROCESSO. E o que o Consórcio Belo Monte está fazendo, é aglomerar pessoas que se viam livres, em um inferno de madeira e telhas de amianto, no calor amazônico, cercado de doenças que proliferarão com o rápido aumento da população. O que o pessoal da Ressaca mais pede, é que eles tenham pelo menos um apoio jurídico, para que eles possam regularizar a terra, ter acesso ao direito comum de todo cidadão. E isso não acontece porque quem faz as coisas fora da lei é o próprio Consórcio, que tira as pessoas na TORA de suas casas, e as levam para um lugar que elas nunca deveriam ir. O velho garimpeiro cansou de esperar a justiça, e sabe que só vai conseguir os papeis com o direito da terra com o suborno. A policia também só aparece na vila para cobrar o bicho, e saem rapidamente. Não existe posto de saúde e a balela contada para a população já começa a se fazer clara. O povo sabe que não vai melhorar em nada sua vida, mas queriam pelo menos dignidade. Mas isso o Consórcio não quer dar. Pra eles são apenas meros ribeirinhos ignorantes e quase selvagens. Me lembra até um certo Pizarro.

A Norte Energia reformou uma escola na cidade de Belo Monte, construíram uma sala, e fazem em cima disso uma enorme propaganda. Quem me disse isso, foi uma senhora que mudou de lá porque tudo começou de repente a inflacionar por causa da obra. As pessoas estão tão perdidas que o motora que tá comigo aqui, que é de Altamira, mal sabe se a casa dele vai ser alagada ou não pela represa, e ai não pode vende-la agora e procurar uma outra. Vai ter que esperar mais e mais, até que quando ficar sabendo, o valor da terra vai estar tão alto que ele não vai ter mais condições de comprar outra casa. A Norte Energia, vem fazendo outra coisa que é uma cretinagem enorme. Estão dando para as famílias que estão sendo retiradas, cerca de 50mil reais. Bem 50mil reais na minha mão é uma coisa, mas na mão de pessoas iletradas, sem ajuda jurídica, sem conhecimento de nada, que nunca viveram na cidade, é como dar uma caixa de chocolate a uma criança. Em 2 horas a criança vai estar muito feliz, vai mostrar pra todo mundo, até dar um bombom para os amigos, mas rapidamente a caixa vai acabar, e sem ter mais o que comer, vai sentar e chorar. É isso que essas familias vão passar, com 50mil na mão e sem ajuda de ninguém. Entregues a própria sorte, vão ser roubadas pelos novos bandidos que vão surgir na região, sem trabalho, tentando a sorte de qualquer modo na selva humana.

É uma grande imbecilidade a construção dessa barragem em pleno século XXI, e injustificável como algo que trará progresso. Progresso no séc.XXI é um tanto quanto diferente do progresso do século XX, onde erramos demais. Temos tecnologia, temos inteligência, temos leis que podem levar a uma real progresso em educação, saúde e qualidade de vida para os moradores daqui. Não uma barragem irracional, pensada no governo mais imbecil que já passou por essas terras, isso na longínqua década de 70. Faz sentido seguir com um plano iniciado em uma era tão diferente da nossa? Temos todos os argumentos para evitar essa tragédia, mas nenhum para ser a favor. Nem mais a baboseira do progresso cola, porque o real progresso seria inovar em tecnologia de energias limpas, e não e alagar uma enorme área de floresta tropical, para enriquecer uns filhas da puta por ai.

Bem uma ultima coisa e essa digo a todos que estão com a bundinha sentada em frente ao computador achando muito paia Belo Monte e repassando emails sendo contra. Na boa se quer mudar algo, saia daí e venha até aqui. Porque aqui a coisa é diferente. Aqui a lei do $ tá comendo solta, pode quem tem, respeita quem tem juízo. Eu aqui sou apenas um pássaro que voa baixo e que é facilmente abatido por um estilingue. Mas se uma revoada inteira se dirigir praqui ai sim iremos mudar alguma coisa.

Pense então no progresso, e em qual “progresso” iremos seguir. Pense então no que fazemos para mudar alguma coisa. Eu to aqui pensando em como agir, ainda não desisti, espero que não.

Abraços a todos das montanhas gélidas ai nas Gerais!

terça-feira, 24 de maio de 2011

É o tal progresso...

Bem to aqui sentindo calor e me coçando um pouco, mas já to acostumado a isso e curtindo demais a prisão de luxo que me encontro. Bem esse email aqui , não é para falar do que to fazendo, nem de onde to, nem como é e tal, é mais uma reflexão que venho fazendo sobre esse lugar tão diferente do que estamos acostumados e que infelizmente vem sofrendo dos mesmo males que sofremos ai.

Tudo começou na sexta passada quando fui a Ilha da Fazenda, uma simpática vila ribeirinha que fica aqui perto, e tem sua existência remontando ao inicio do séc.XX. Bem lá junto dos arqueólogos que procuravam informações sobre possíveis sítios arqueológicos, eu fiquei de bobeira observando tudo que acontecia no entorno, nas pessoas e suas relações. Juntando o contato que tive com os peões daqui, os “chefes”, os garimpeiros e os moradores diríamos mais tradicionais, comecei a refletir muito sobre como a imposição desse modo de vida urbano e alucinado é devastador para as pessoas e para a região.

Em um momento na quinta entrevistamos um senhor de 85 anos, e na sexta um outro de 90 que nos guiou até o sitio que ele viveu a maior parte da vida, tendo mudado para a vila a poucos anos, mais pelo estado de saúde, e porque seus filhos não o deixaram ficar sozinho na ilha que ele vivia.

Esses dois senhores tiveram vidas muito distintas, e me mostraram como nosso preconceito e idéias metropolitanas são impostos como verdade e achamos muito errado quando alguém não as seguem. Num primeiro momento, EU um ser metropolitano, acho absurdo e inconcebível as pessoas morarem isoladas em casas espalhadas ao longo dos rios amazônicos, sem luz, água, sem auxilio nenhum e vivendo praticamente como bicho. Mas isso é um preconceito enorme que possuo, porque sou naturalmente uma pessoa que vive rodeada o tempo todo por pessoas e informação, e hiperativamente pensando não conseguiria viver tão isolado assim.

Bem um tiozim o Seu Zé, viveu a vida toda na região da Volta Grande do Xingu, e nos seus 90 anos de vida, raríssimas vezes saiu daqui e foi até Belém, e isso já nos últimos anos, para cuidar da saúde. Fui ao ultimo sitio que ele viveu fora da vila, e lá havia um pomar com muitas e variadas frutas, além disso, a caça e a pesca sempre foram as atividades que Seu Zé fez na vida, para se alimentar e conseguir chegar até os 90 anos. Dormir mais de 10horas por dia também foram segredo para tanta saúde em idade avançada, e não só o sono noturno, mas principalmente o diurno pós almoço, que ele diz que é o que mais recupera. Nos vivemos num ritmo tão louco que achamos um absurdo uma pessoa dormir tanto tempo, algo desnecessário, uma vez que poderia estar trabalhando e produzindo . Bem o paraense é um povo bem mais preguiçoso que nós mineiros, muito porque o calor impõe o descanso no meio do dia, e muito porque o sangue indígena ainda é forte entre a população. Não acho isso algo ruim, e eu um pseudoanarcohippietilelemetropolitanu amante do não trabalho, vibro ao ver o tiozim nos seus 90 anos, dizer que nunca trabalhou para ninguém, vivendo sempre da subsistência.

Porém, há um tanto de coisa acontecendo agora na região e é impossível hoje alguém ter a vida que Seu Zé teve, porque Seu Zé nasceu muito antes de existir algum cartório na região que o registrasse e só na década de 80, foi registrado como cidadão brasileiro, e assim a ter compromisso com o estado. Mas na década de 80 , seu zé já era velho demais para trabalhar com qualquer coisa, e foi registrado tendo seu oficio o de pescador. O lance do trabalho como algo que temos que ter a todo custo para o bem geral do mundo, ainda é “recente” na região, apenas entre os forasteiros e os garimpeiros, mas esses é um caso a parte que depois vou falar.

Seu Osvaldo, senhor de 85 anos, teve uma vida inacreditavelmente louca, um dia conto para quem quiser, mas a questão é que ele sempre trabalhou em trabalhos aleatórios pela região aqui, e só agora, véio de guerra, e já debilitado pela avançada idade, parece entender um pouco do que foi sua vida. Contando histórias inacreditáveis, ele se recorda do tempo de garimpeiro na região, e de como o trabalho fora duro para ele todo o tempo. Vendo a relação do trabalho remunerado e obrigatório e o trabalho de subsistência, percebo que o segundo foi bem mais tranquilo e possibilitou uma vida mais agradável do que o primeiro, sempre estafante e insuportável.

A imposição do progresso é o maior problema para a região, que no meu ver, não tem porque viver como nós urbanos. A vila ressaca, principal vila dos garimpeiros, é uma favela como as nossas, feita as pressas, com as casa umas ao lado da outra, com vielas, esgoto a céu aberto e tudo mais. Ela foi construída pelo garimpo, e hoje, é morada dos inúmeros peões que trabalham aqui na mineradora. Bem, ai vive um drama a região, porque EU um Geógrafo feliz defensor do planeta, gostaria muito que esse lugar não fosse mais destruído, e que essa mineração não ocorresse. Eu e a galera da arqueologia ficamos horas discutindo quanto é difícil ir de encontro ao progresso, pois por mais paia que seja a mineradora rolar, ela é o emprego de toda uma vila. Bem essa vila existe a principio pelo garimpo, mas com a mineração, vai crescer e atrair mais gente, e assim ficando mais difícil ainda de desfazer esse nó do progresso.

Mais gente significa mais destruição, mas também significa mais gente trabalhando, mais gente consumindo e mais gente “feliz” segundo os ditames do progresso. E ai é impossível eu chegar e falar para qualquer um, que essa mineração é paia e tal, porque eles mesmo acham isso, mas retrucam dizendo que é a única opção que tem de vida. Bem isso não é verdade, porque eles a principio nem deveriam estar aqui, já que aqui não deveria ser um lugar de trabalho, e sim de subsistência. Mas já que estão, não dá para simplesmente falar, saiam daqui, ou vão viver da caça de da pesca , porque isso é uma ilusão que não vai acontecer.

Esse exemplo do progresso como desculpa para tudo é foda, porque se o cabra que vive aqui, não fosse bombardeado com a ilusão de que o consumo e o trabalho são a salvação, eles poderiam sim estar vivendo de modo mais “sustentável” para alegria dos ambientalistas da metrópole. Mas eles vão viver exatamente como a gente ai na cidade, consumindo, trabalhando 10 horas por dias, e nas poucas horas livres pescando na beira do rio, como fariam se não lhes fosse imposto o trabalho

Infelizmente eles também não têm mais a escolha de viver da subsistência, porque simplesmente eles não tem terra para plantar, muito menos direito de caçar na região, já um tanto devastada pelos pastos e com várias matas secundárias que são o inferno aqui na Amazônia. Os trabalhadores daqui, são completamente diferentes dos do Sul, já inseridos e devotos do trabalho como salvação da vida após a morte. Aqui eles estão mais afim de vadiar e enrolar, do que passar suas horas em ocupações penosas que eu nunca animaria fazer nem fudeno.

Toda essa questão é um tanto quanto complicada e Belo Monte vem usando os mesmo argumentos de merda de sempre do Progresso, que impede qualquer pessoa sensata de discutir, porque ir de encontro ao Progresso é osso. Mas se perguntarem às pessoas, se elas querem luz e tv, ou caça e pesca, elas vão escolher a segunda opção, porque para o ribeirinho do Xingu, o tempo não é o mesmo que para a gente, e se pra gente é um tormento ficar horas sentado vendo o vento balançar as foia das arvere sem fazer nada, para eles é a diversão que precisam para viver.

Ai vem uma critica: Oliver seu JOVEM tilelê, você ta ai todo pomposo se achando o entendedor, mas você não acha, que eles merecem também a TV, o celular, e tudo mais que nossa vida urbana tem de bom para oferecer?
Respondo: NÃO. Isso faz parte do processo humano de querer aceitar apenas aquilo que lhe é corriqueiro, comum, e o que não é igual o dele é ruim, e deve ser mudado para ficar igual. Faz parte da total aculturação que vemos vivendo, de transformar cada um, em parte de um todo consumista e “feliz”. É a velha história de que isso é gosto e gosto não se discute. Sempre queremos que as coisas sejam mais parecidas com aquilo que estamos acostumados. E ai volto na conversa com os dois tios, que viveram muito diferentes e hoje são vizinhos. Pergunte a eles, que viveu mais feliz? Os dois responderão que viveram Felizes.

LÓGICO que isso é a minha interpretação dessa realidade vivida por aqui, e acredito que sim, que essa merda já ta toda fudida, então melhor seria se pelo menos esses ribeirinhos tivessem a escolha de continuarem a viver do rio e tal, e não serem obrigados a terem de trabalhar nas obras que virão. Na vila ressaca existe um posto de recrutamento, faixas e propagandas espalhadas por toda parte para trabalhar em Belo Monte. Quando se pergunta a alguém o que ele acha disso, ele sempre vai dizer, “bem , é um trabalho né, tenho família pra sustentar, e preciso dele”. Porém muitos dos que irão trabalhar, nem são daqui e nem deveriam estar aqui, e ai fica impossível dizer a esses que vivam da subsistência feliz e tilele, porque eles estão aqui apenas para o trabalho.

No mais, irei melhor pensar essas coisas, e trago a quem se interessar, um pouco mais dessa critica ao progresso desnecessário que são obrigados a passar os moradores daqui.

Até lá vou ficando por aqui sentindo calor e me coçando, hábito comum por essas paragens, onde o tempo nunca foi marcado pelo relógio da fábrica. Posso ter um chefe, respeitar regras, fazer um relatório pré moldado, mas de resto sou livre para viver e pensar o que quero, e isso que vim buscar aqui no Xingu. Um pouco da liberdade difícil de se achar ai nos escritórios belorizontinos...


Abração a todos e dia 02/07 90% confirmado a festa Geonina hein!!! Vamo que vamo!!!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Relatos das Selva

Escrevo aqui direto das selvas do Xingu, com o computador na mão e uma sinfonia ensurdeceroda atrás de mim vindo de todas as espécies possiveis de seres vivos. Creio que aqui até as plantas cantem. Ilhado em meio a tecnologia que os homens criaram para isolarem-se do perigoso e assustador mundo real, humilho os antigos Geográfos que aqui estiveram no passado, porque hoje posso me comunicar instantãneamente com todo o mundo, e não ter que esperar anos para que um livro fosse púbicado, ahaha... mas tirando isso, vim aqui te dizer algo: Sobre o livro, O banqueiro anarquista, do Fernando Pessoa?

Pegue para ler e verá como interpreto a vida. To inacreditavelmente de cara com esse livro.Se existir vidas passadas, provavelmente foi eu que o escrevi. É um modo muito egoista de viver no fim das contas, mas quando eu li, me vi aqui no meio do Xingu, lugar que em janeiro pensei em vir, mas nunca imaginei como conseguir,e hoje, quatro meses depois aqui estou. Incrivel interpretar o mundo como venho interpretando. Depois que a geográfia me ensinou as regras, jogar o jogo da vida tem sido um tanto quanto prazeroso. E esse livro do Fernando Pessoa, vai te explicar o que exatamente penso do mundo.

Fiquei de cara, porque me vi sendo o perfeito personagem, que aspira a Liberdade, e que acha que para isso tem que primeiro se libertar. Posso não está ainda totalmente liberto, mas penso que minha vida hoje beira a uma quase libertação inclusive do maldito trabalho. Já que minha profissão não é para mim trabalho, encarar a dura e temida fase da vida onde somos obrigados a nos doar para a continuidade desse darwinsmo social, que se tornou o trabalho, se tornou uma diversão. Realizo os desejos de quando tinha 7 anos e brincava de explorador na garagem do prédio. Deixei minha imaginação me guiar e aqui 17 anos mais tarde, vivo um pouco esse sonho de infância. Ainda percebo que tenho tempo para essa total e egoista libertação, pois pretendo sempre me libertar mais e mais do trabalho, e viver apenas do que gosto.


Isso é só mesmo um louco pensament de um Geográfo localizado no kilometro 399249,232 leste e 9601224,575 norte!

Direto das míticas selvas Amazonicas!

domingo, 22 de maio de 2011

Verde Ambiente

Existe hoje em dia no mundo que vivemos uma forte cobrança pela preservação do meio ambiente, de modo que plantar uma árvore se transformou em um marketing verde que mascára todo o processo destrutivo ao redor. Ao pensar no tema meio ambiente, a palavra Amazônia é a primeira a aparecer na cabeça, como sendo o santuário máster de proteção. Claro que a Amazônia como um imenso e gigantesco ambiente de luta constante pela vida, virou o xodó da ala ambientalista, que defende a todos os custos com unhas e dentes uma única plantinha que seja. Bem claro que a Amazônia tem que ser defendida e protegida, porque pela sua importância no contexto global, qualquer alteração em grande escala, irá interferir em nossas vidas como um todo, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância.

Essa é a terceira vez que venho a Amazônia, já estive em Rondônia onde ela é muito devastada, no Amapá onde ainda é muito preservada, e no Pará e no Amazonas, locais onde a Amazônia sofre inúmeras intervenções, mas sua gigantesca área, é ainda no geral preservada. Aqui na Volta Grande do Xingu, existe em algumas partes pequenas fazendas com pastos de não mais que 5 hectares de área, em sua grande maioria localizados nas margens do Xingu. De dentro do rio, navegando com a voadeira, ao observa esses pastos, um sentimento de raiva surge do inconsciente, nos lembrando do quão filhadaputa tão sendo ao desmatar a floresta para por gado. Essa raiva criada pelo discurso de proteção total da floresta Amazônica, é interessante porque te leva a questionar o porquê dessa criação de gado aqui no meio da floresta, mesmo sabendo que ele é para o próprio consumo da população da região. Na voadeira hoje pela manha, a observar a imensa e intransponível “mata ciliar” do Xingu, vi um desses pontos de pastagem e percebi o quanto aquilo ainda era insignificante perante a imensidão da floresta. De repente me vi ai na região de BH, nas zonas rurais de Minas e percebi que ai ocorre o contrario. Em meio a grandes pastagens, algumas e insignificantes manchas de mata aparecem na paisagem.

E ai fica uma duvida? Será que nós moradores do sudeste, principalmente das Gerais, não estamos preocupados demais com a longínqua e mítica Amazônia, e nos esquecemos das nossas próprias matas? Poucas vezes vi alguém defendendo as matas de Minas, talvez agora na luta pela preservação do Gandarela. Sempre vi e ouvi o discurso de preservar o verde e preservar a Amazônia, mas a Amazônia é algo muito além do que podemos como mineiros, preservar, e levando esse pensamento adiante, porque não começarmos a pensar em proteger mais e mais a nossas matas?

Hoje como geógrafo, me vejo como uma pessoa que “tem” o poder de tentar interferir um pouco nessas coisas, e pensando que o verde não está só aqui na Amazônia, por que não pensar, repensar e preservar as nossas poucas matas? Por que quando vemos uma pequena mancha de mata atlântica cercada por pasto não nos sentimos mal, e ao ver uma pequena área desmatada da Amazônia achamos fim do mundo?

São apenas duvidas e questionamentos sobre algo que a todo instante nos é bombardeado. Preservar a Amazônia.

Preservar é mudar hábitos e mais que isso, lutar por aquilo que se acredita. Eu acredito que nada vai mudar, então desisto. Falou fui!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Contos do Xingu: Ouro de Tolo

Era quase noite e a pequena canoa ainda estava longe da margem. O pequeno motor a muito não funcionava, e o remo era o único propulsor daquela pobre embarcação. A água adentrava por inúmeros e pequenos furos e inundava toda a canoa, sendo que para cada remada, duas vezes tinha de ser passar a caneca no fundo e esvaziar o tanto que desse. O cansaço era maior que a noite que chegava, e a pouca luz que ainda tinha, permitia enxergar apenas pequenos vultos nas margens. A densa floresta enmuralhava o horizonte, e uma pequena prainha se fazia vista com muito esforço.

Vinha na canoa, em remadas lentas e longas, Seu Raimundo Filho, garimpeiro daquelas terras, filho do Xingu. Na Volta Grande, próximo a vila do Galo, remava para tentar chegar a povoação antes que a noite engolisse todo o lugar. No rio, que sossegado escorria em lenta correnteza, se ouvia o assombroso grito do Bugiu, um enorme macaco que habita o topo das gigantescas árvores amazônicas. Seu Raimundo vinha remando desde o Garimpo do Itatá, que ficava próximo as margens do igarapé de mesmo nome, pequeno afluente da margem esquerda do majestoso Xingu. Naquele dia Seu Raimundo havia dado com a sorte grande, e por puro acaso de descuido, encontrou uma enorme pepita de ouro presa a um grande bloco do embasamento que havia se soltado de um morro ao lado. Antes que todos o vissem, Seu Raimundo correu para a canoa, e com um grito distante, despediu-se dos outros garimpeiros.

No garimpo, a turma despediu sem perceber a fortuna que havia escapulido pelos seus dedos, menos Adalberto Sampaio, que em desconfiança da rápida saída, resolveu ir atrás para ver. Sabendo que Raimundo iria até a vila do Galo, pegar suas poucas coisas na casa de um primo e partir logo para Altamira, não deu chance ao azar, e saiu em rápida corrida mato adentro, seguindo uma antiga trilha indígena que percorria cerca de 12 km em meio a subidas e descidas, submersa em uma densa mata. O ocorrido se deu por volta das três horas da tarde, e três horas mais tarde, Seu Raimundo finalmente aportava em uma barranca a uns 100m do povoado.

Não queria se mostrar demais, e resolveu parar naquela barranca e andar até a casa do primo por uma pequena trilha que ladeava o rio até a vila. À noite por pouco ainda não tinha se dado por completo, e Seu Raimundo em rápido caminhar, saiu do barco e rumou em certeza de lembrança o caminho certo. Bem atrás vinha Adalberto Sampaio, que de dentro da mata o acompanhou desde o rio até a chegada na barranca, e viu as desconfiadas e rápidas olhadas que Raimundo dava para os lados. Vida de garimpeiro é assim, se der um pequeno descuido, cai.

Adalberto Sampaio em caminhar flutuante, esgueirava-se pela mata, como um gato do mato, sem fazer o menor barulho. Queria saber o que se passava, e o que iria fazer o tal Raimundo, que havia saído de modo estranho do garimpo. Seu Raimundo seguiu em paranóica visada, até a casa de seu primo, chamou-o na porta, e entrou dando as ultimas conferidas no entorno. Do meio da mata, espreitava Adalberto como uma onça ao ver a caça na mira. Um forte vento começou a soprar, fazendo a floresta toda cantar em sinfonia de folha e galho, se juntando a já ensurdecedora sinfonia que os animais faziam.

Adalberto ficou ali na espreita cerca de meia hora, até que Seu Raimundo Filho saísse de dentro da casa, com um pequeno saco nas costas, e rumava em direção à canoa. Nessa hora Adalberto resolveu ir até a casa que tinha na vila, e passando por outro caminho, conseguiu chegar a casa sem cruzar com Seu Raimundo. Com um chapéu na cabeça, uma blusa esfarrapada, descalço e com uma calça rasgada transformada em bermuda, Seu Raimundo com sua humilde postura, colocou o saco que trazia em mãos na canoa, e começou a desamarrar o nó que havia dado em uma árvore para que a canoa não descesse o rio sozinha. Era noite de lua cheia e o imenso satélite surgia por detrás da muralha arbórea, e logo iluminou todo o lugar.

Na vila, em desespero de busca, Adalberto Sampaio finalmente havia encontrado a espingarda 20” que possuía, e em rápida carreira, correu até a beira do rio. Assustados, alguns moradores olharam-no sem o encarar, e seguiram rumando suas casas, sabiam eles que algo ruim estava para acontecer. O canto do Bugiu deixava toda a cena ainda mais assustadora, tornando aquela noite ainda mais sombria. Adalberto correu de volta pela trilha, e segui até a barranca, onde Seu Raimundo havia acabado de dar as costas, e seguir remando, rumo a Ilha da Fazenda, do outro lado do rio, a montante cerca de 2 km.

O rio Xingu refletia uma imensa Lua, e contrastando com o céu estrelado, reluzia como um negro quadro. Do alto da barranca, Adalberto Sampaio ao ver que Seu Raimundo havia conseguido seguir rumo a Ilha, deu um tiro em direção a canoa, e alguns chumbos atingiram o ombro direito de Seu Raimundo. Desnorteado e sem forças, Seu Raimundo mal consegui se virar para ver o que tinha acontecido, quando de novo recebeu uma saraivada que lhe atingiu o peito. Caiu no fundo da canoa, sem forças para levantar, enquanto na margem, Adalberto rogava pragas e injurias há seu agora inimigo. Naquela noite, a canoa seguiu lentamente, com a correnteza, indo parar já em alta madrugada, em uma pequena ilha onde havia uma minúscula oca, morada de uma velha índia. Era das ultimas índias arredias da região, que já passara por uma “domesticação” de seus índios.
Na manha seguinte, ao abrir os olhos, Seu Raimundo se viu dentro da pequena e escura oca, com o peito e ombros empapados por uma gosma esverdeada, e cobertos com uma folha grande e pouco conhecida por ele. Em rápido reflexo, tentou levantar-se, mas a dor o impediu, e logo voltou a ficar tonto e começou a perder a consciência. Deitado, lutando para não apagar, Seu Raimundo que naquela data beirava os 46 anos, presenciou uma cena que o marcou para sempre.
Uma velha desdentada, de cabelos brancos e com a cara completamente enrugada, pegou algumas penas e jogou sobre o seu corpo, soprando uma pesada fumaça de um forte fumo em sua cara. Adormeceu.

Adalberto Sampaio havia esperado o amanhecer, para conseguir emprestada uma canoa na vila, e seguiu rio abaixo em busca da canoa e do corpo de Seu Raimundo, que guardaria o possível tesouro. Após algumas horas, viu de longe, parada em uma pequena ilha rodeada de pedras, a pequena embarcação, e foi até ela em rápido navegar. Ao chegar, não encontrou nem Seu Raimundo nem o saco com o ouro, e em irritação de desgosto, desceu na ilha em busca do homem que deveria estar morto. Andou poucos metros e avistou a pequena oca que escondida em meio a mata, fumegava como se estivesse a pegar fogo. Parou, e pensou no que fazer. Sabia que ali só podia ser a ilha onde morava a velha índia que ninguém conseguira “domesticar”. Fitou de longe a pequena entrada, e com a arma em punhos seguiu em direção a fumaça que saia da “porta”.

Adalberto Sampaio deu cerca de três passos, quando viu Seu Raimundo sair de dentro da oca, como que em hipnose. Assustado, ergueu a arma, e apontou para Seu Raimundo, dando gritos de alerta e dizendo para que ele não se mexesse e explica-se o que estava acontecendo. Seu Raimundo não se mexeu e Adalberto Sampaio, com o dedo no gatilho, de repente foi atingido na coxa por uma pequena flecha enfeitada com as mesmas penas que a velha índia havia jogado sobre Seu Raimundo. Adalberto se ajoelhou com uma dor a qual nunca havia sentido, e rapidamente sua visão embaçou deixando o desorientado, e sua garganta começara a fechar. Engasgando com a própria respiração, apoiou as mãos no chão, e em sua ultimo lapso de consciência viu a índia jogar o pequeno saco com o tesouro, na sua frente. Esticou a mão e o pegou, e na ultima força conseguiu abri-lo, e constatou o que desconfiava. Havia ali uma imensa pedra de ouro, mas nada mais daquilo lhe valia de alguma coisa. Em forte contração dos músculos, sucumbiu na folhagem espessa do chão, e ouviu uma risada rasgada, aguda e continua vinda de dentro da oca.

Dois dias depois, Seu Raimundo apareceu de volta na vila do galo, deitado em sua canoa, do mesmo modo que apareceu na ilha da velha índia. Sem ouro, e com uma enorme cicatriz no peito, largou o garimpo no mesmo dia, e prestou a fazer serviços quaisquer a todos que lhe pagassem um pão e um café. Hoje vive retirando areia do fundo do rio e vendendo a mineradora que surgiu próximo da vila do Galo. Passados cerca de 15 anos, um jovem vindo das Gerais, ao ouvir essa história incrível, resolveu anotar em seu pequeno diário de campo, e espalhar a todos, essas incríveis, místicas e fantásticas histórias que ocorreram e ainda ocorrem aqui no Xingu!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Noticias do Xingu!

Primeiras Impressões:

Cheguei as 7:40 da manha do dia 17 de maio de 2011 à cidade de Altamira no estado do Pará. Banhada pelo imenso e mítico rio Xingu, Altamira vive um momento de turbulência política causada pela construção da hidrelétrica de Belo Monte e as conseqüências ambientais que essa obra causará. Do pouquíssimo tempo que passei em Altamira, pude ver algumas coisas interessantes. Há na cidade outdoors e cartazes feitos pelo Consorcio Belo Monte, onde a propaganda pró Belo Monte é feita com os dizeres: “Energia para Saúde” e “Energia para a Educação”. Além dessas propagandas, no aeroporto de Belém, os monitores da sala de espera, mostravam a cada 2 minutos em média uma propaganda a favor de Belo Monte. É nítida a desesperada tentativa do tal Consorcio, com o poder da mídia, em tentar mudar a opinião dos moradores, que em sua imensa maioria são contrários. Ao perguntar a população local, as poucas pessoas que tive contato, a grande maioria enrola um pouco para responder, mas com duas ou mais perguntas despistadas todas se dizem contra a construção da barragem, porque em muito irá a altera suas vidas.

Bem depois volto a pensar e a escrever sobre a questão Belo Monte, agora vou tentar fazer um rápido levantamento de tudo que ocorreu nesses dois dias incompletos que aqui estou. Em Altamira peguei um táxi que me deixou no pequeno cais, e logo entrei em uma Voadeira (lancha típica da região, que serve de transporte para os moradores de toda a Volta Grande do Xingu), e desci o rio cerca de 1hora e 40minutos a toda velocidade. Aqui no Xingu está no fim do inverno, e as águas já começaram a descer. Mas isso não significa que o rio está vazio, ele está com sua vazante muito alta, e invade todas as matas de entorno e suas infinitas ilhas. Para tentar melhor entender essa região, temos de imaginar o seguinte. O rio em média tem 7km de largura na Volta Grande, tem o perfil anastomosado, ou seja, milhões de ilhas que foram formadas pela deposição dos sedimentos vindos do longínquo Planalto Central, onde se encontram suas nascentes. O rio segue vindo do centro do país no sentido sul – norte, e ai chegando em Altamira, ele desiste e muda completamente de rumo, seguindo sentido noroeste - sudeste, chegando a ficar norte – sul em alguns trechos. Ao chegar na região da Via da Ressaca ele começa a tomar o rumo de novo para o norte, e lentamente em cerca de 30km, ele faz uma imensa curva e volta ao seu rumo natural, até sua foz no rei dos rios o Amazonas. Estou no Site da mineração Venera, e é disso que irei falar agora.

Volta Grande do Xingu:

Estou hospedado no Site da mineradora Venera, um grupo canadense que filhadaputamente rouba nosso Ouro e leva embora para que alguns bilionários se tornem mais ricos ainda. Bem a Volta Grande do Xingu como é conhecida a região, é uma imensa área de garimpo. Aqui é praticamente tudo embasamento, granitognaisse quês fala, porém em um curto trecho na margem esquerda sul da grande curva, existe um Cinturão de Pedras Verdes, famoso lugar onde tem Ouro!

Bem a existência de ouro levou vários garimpeiros a região ao longo dos anos, e desde a década de 70 se tem noticia da existência da Vila Ressaca, pequeno povado “capital” da Volta Grande, e mais várias outras como a Vila Galo, menor e mais miserável que a Vila Ressaca, a Ilha da Fazenda, um simpático vilarejo em uma ilha em frente a Vila Ressaca, e uma dezena de outras locais de garimpo pouco acessivels e desconhecidos ainda por mim. E claro , eu estou em algum lugar, e esse lugar é a Vila Verena, alcunha dada pela própria galera, já que aqui não tem nome certo, e o povo conhece como Verena. E o que vem a ser a tal Verena? Verena é o nome do antigo projeto da BELO SUN MINING, nome da mineradora canadense que tem o direito de explorar o subsolo brazuca. É isso mesmo galera, já era a Amazônia é dos gringo, perdemos.

Bem aqui onde estou é uma enorme viagem, é uma vila composta por uns 6 alojamentos, que são casas de três quartos com Ar Condicionado, uma sala, banheiro e uma varandinha. Essas casas ficam organizadas uma ao lado da outra, como em um conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida. Existe uma rua principal e no final chega-se a uma cozinha refeitório, onde a bóia é servida de grátis pra nois que “mora”aqui. Existe aqui ainda, uma lavanderia, uma oficina, escritório, um deposito, um casa onde fica gerador, e várias outras coisinhas. Estou vivendo em uma vila organizada, com horários rígidos de alimentação, com regras mil de vivencia e convivência, cercado por uma densa e intrasponivel mata. Ilhado em meio a selva. Existe uma estrada roots que dá acesso , mas só as L200 passam, e alias é o único veiculo terrestre que vi por aqui nesses dias.

A mineração ainda não tá rolando, mas as obras estão a mil por hora, mesmo no infinito calor que faz aqui as tardes. Ainda não peguei muito calor, mas a umidade te faz suar se você der o mole de existir por aqui. A peãozada que rala aqui mora nas vilas ao redor, e todo dia 17h parte a voadeira lotada de gente rumo as suas casas. Quem aqui fica, é o pessoal do projeto, as cozinheiras, que mudam de turno entre elas, um ou outro pessoal de trabalho especializado que não encontra na região. Na minha casa , o famoso Alojamento 01, estão, EU, uma mina e um cara de Belém que trabalham na parte da Arqueologia, dois caras de Sampa meoo, que ralam com a construção de casa de madeira, uma vez que estão subindo dois alojamentos feito desse material, e mais o motora que anda com a L200 com nois, mas que eu ainda não dei role.

A sensação de estar nesse lugar é um tanto quanto estranha, tenho tudo de graça, comida, bebida, cerveja :) , internet ( lenta e incrivelmente eu tenho isso aqui no meio do nada), lavanderia, as tia limpa a casa todo dia, mas apesar disso, não há “vida” por aqui. Estive na Vila Ressaca e na Ilha da Fazenda, e mesmo sendo miseráveis locais, com casas de adobe e palafitas esgoto a céu aberto e tudo mais que as favelas belorizontinas nos mostram, pelo menos existe um comercio, um buteco e uma prosa. Aqui é tudo muito morto, e virei o centro das atenções com meu sotaque diferente, falando tudo com muito exagero e comendo queijo em várias horas do dia, só pra constar minha mineirisse longe das montanhas.

Todos os roles que dei aqui, foram de barco até agora, seu Antonio é o tiozim que comanda a voadeira a milhão na br, e hoje pela manha segui até um local no rio Bacajá, um afluente a jusante de onde estou, para chegar num local chamado Pedra do Índio, onde inscrições feitas por índios estão por todo lado. Decepção ao chegar, pois como disse antes ,o rio está muito cheio e todos os pedrais e praias estão submerso, o que facilita o transporte pelo rio, mas diminui a possibilidade de lazer pois quase não se vê margens no rio, só mata submersa. A dita Pedra do Índio só tinha seu topo fora d’agua, e ai só uma inscriçãozinha pode ser vista. Depois voltamos para almoçar e dormir no ar condicionado, pois depois do almoço no calor agressivo e úmido daqui, é a única coisa possível de se fazer. A tarde dei mais role com o pessoal pelo rio, e deu pra ver muita coisa legal, inclusive ver que o rio e algo incrível e gigante, em alguns momentos parece um grande lago cheio de ilhas. No verão dizem que é mais massa pois inúmeras cachoeiras apararecem com os pedrais fora da água.

A comida daqui é a famosa comida paraense, e o feijão é temperado com coentro :( . E por falar em comida, sou a principal dos bilhões de insetos que chegam tomando conta, principalmente ao anoitecer. Quem não gosta de pernilongo, sugiro não vir até aqui, pois pernilongo aqui é mato. E eu cheguei como carne nova e ai nem repelente adianta, porque eles não tão nem ai. Carapanãs, Piuns , Mutuns, todos esses bichos te jantam felizes, enquanto você fica a se coçar sem parar. Uma coisa que reparei é que os tiozim daqui nem reclama, mas na verdade eles estão o tempo todo coçando. São tão acostumados a isso que coçar é algo comum da vida deles. Como eu sou uma moça da cidade grande, ainda to me acostumando a coceira continua e irritante. Tomei uma picada de um Pium, que e um minúsculo pernilongo, que tem o poder de inchar muito o local atingido. Fui picado na mão e ela ficou gigante, (Gigante de acordo com meu exagero) sai sangue, mas o bom que só dói, não coça J. De dia é até de boa, mas entre 17:30 e 18:30 o bicho pega e ai não tem jeito nem repelente que acabe com a Fome Negra desses bichos malignos. Ainda não tinha chovido, mas agora a noite muitos raios e trovoes por todo lugar, mas caiu só uma chuva leve de moia bobo no ponto do balai, mas que parece que vai continuar por toda noite.

Bem galera, essa ai são as primeiras impressões que tive nesses dois dias que aqui estou ainda nem comecei a “trabalhar”, isso começara de levena sexta, até lá vou pelo rio Xingu procurando sítios arqueológicos com a galera de Belém feliz da vida. Depois com mais calma, mandarei mais idéias, pensamentos e coisas que vou ver e vivenciar nesse lugar remoto, lindo e incrível do Brasil!

Abraço a todos direto do XINGU!!!

domingo, 15 de maio de 2011

Abandonar o navio!

Expressar tudo que sinto em palavras cibernéticas é impossível. A reprodução catastrófica de um mundo em que o fim é o próprio presente, é suficiente para nos desanimar e pensar que o futuro não passará de um amontoado de cinzas. A babilônia cada vez mais caótica, segue o padrão ridículo utilizado no século XX de destruir para depois questionar. E a cidade cresce com avenidas, retirando os moradores de suas casas e colocando carros. Robert Moses na década de 50 fez o mesmo que hoje com orgulho, o responsável maior pelo caos urbano faz. Lacerda se orgulha de substituir gente por carro, e ainda diz que o Brasil é o país do futuro. Futuro? Qual? O futuro baseado no século XX, o século onde ser humano atingiu o máximo de sua burrice, e hoje, um século a frente , tenta a todo custo mudar algo com o enganoso discurso do ambientalismo verde que na verdade representa o enriquecimento mais rápido de algumas pessoas ao passo de que o mundo, nossa Mãe Terra continua sendo devorado por um instinto perverso e sem sentido. Olhai-nos então para novas energias limpas, e de que adianta não mais poluir o mundo com a queima de seu sangue negro, se continuaremos mesmo com toda a tecnologia a sermos escravos?

O séc. XXI traz a possibilidade de finalmente nos tornamos livres, mas para isso muito falta a se fazer. O Brasil segue a burra lógica capitalista de destruir para depois pensar. Destruir para depois concertar. Isso é uma das coisas mais bárbaras que o homem já criou , e hoje ao imitar um sistema falido e comprovadamente destrutivo, seguimos o mesmo caminho daqueles que se jogam ao abismo, mas felizes por isso. Já dizia o velho deitado, “Galinha que acompanha pato, morre afogada.” E não é isso que estamos fazendo? Nos afogando, acreditando que seguir o pato é o caminho óbvio do eterno progresso em busca de um fim menos catastrófico. Acreditar que o meio ambiente, essa balela que te contam sobre o verde, é o suficiente para mudar o mundo, é como um navio que navega em rumo ao pólo sul, e quanto mais frio faz, mais a tripulação reclama com o capitão, pedindo cobertores para se aquecerem, sendo que o mais simples seria simplesmente girar o timão e botar o barco para seguir rumo ao norte, para áreas mais quentes e agradáveis. Vivemos isso, uma ilusão de que a salvação não está em mudar o rumo, e sim em nos aquecermos com a tecnologia maravilhosa que dispomos. Enquanto o rumo não for mudados, seguiremos aconchegados e quentes, rumo aos icebergs que um dia nos afundarão, e congelados de frio pensaremos, porque não mudamos o rumo?

Seguir o caminho do erro é a maior burrice que se pode fazer, e fazer disso um dogma alienante como fazemos, é atestado de ignorância. Bárbaros foram os homens que um dia ousaram enfrentar o poder, com sua própria cultura, que para os ditos donos do sistema, só poderia ser uma coisa bárbara. Mas a barbárie não é o fogo e o caos que nos disseram, isso é apenas o nosso cotidiano. A barbárie é negar a existência da babilônia e se mostrar suficientemente forte para criticar, pensar e lutar contra isso. Sejamos então todos bárbaros, e que em hordas possamos mudar mais uma vez tudo isso. A força é a única forma que o capital usa para se defender, então, plagiando pensamentos coletivos vos digo: Para combater o feio tem que ser horroroso. Destoe, liberte-se, torne-se um bárbaro. E lute não pelo cobertor, e sim pelo novo rumo.

To frustrado, mas nos próximos dias na Amazônia, a reflexão e o afastamento da babilônia me libertarão um pouco do navio que segue eternamente rumo a autodestruição.

Dê-me então um bote salva vidas, que eu vou fugir.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Movi de Montanha

É do alto da serra, do topo da cidade que se avista ao longe toda a criação humana. Lá no alto, no eterno inverno, o ar gelado e limpo parece um sopro do universo. Do alto da montanha, é possivel esquecer do caos que habitualmente configura a metropole lá embaixo. É do alto que se sente o vento, e com ele uma sensação de liberdade incomum na babilonia. Sem fumaça e buzina, a nuvem que insisti em encobrir tudo nas frias manhas, nos remete a um lugar novo, ausente do real, preso a uma irrealidade consentida pelos seus sentidos que não mais identificam a cidade. Na montanha uma sensação de paz domina o corpo cansado daquele que arduamente se esforçou para até lá chegar, e com isso a sensação de paraíso. Endorfina na corrente e tranquilidade na mente. A distancia que se consegue ver, te torna um tanto quanto mais poderoso que os meros mortais que lá embaixo, que tateiam uma fuga da opressiva babilonia.

Observar o longe, te leva a insiginifação de seu ser nesse gigantesco sistema inexplicado que é o nosso universo. Ver do alto a Terra, as terras, morros, vales, rios, serras, montanhas, e tudo mais que compoe uma paisagem, te mostra um pouco de toda a composição de energia ao qual fazemos parte. Do alto se sente a leveza do caminhar, quase que sobre as nuvens, quase que chegando ao tão e inalcansavel paraíso celestial. O famoso Céu, tão perto e tão longe. Mas do alto, sentindo o vento atravessar a alma, é possivel sim, dizer que um pouquinho do Céu, a gente consegue sentir.