Noite Branca na Bhbilônia,
e uma multidão carente enchem o parque e as ruas centrais. Um evento simples, a
abertura do Parque Municipal durante toda a madrugada com apresentações
artísticas, e mais de dez mil pessoas saem de suas casas para aproveitar. A obviedade
da falta de lazer e da ditadura dos bares, faz da noite no parque uma alegria
coletiva raramente vista na cidade. Andando pelas ruas, o centro parece como de
dia, com gente por todo lado caminhando, se divertindo, se encontrando e
simplesmente agindo na mais natural forma possível, porque a cidade serve para
isso; Encontrar. E no caos da multidão constante, caminho em alegria por ver
tantas pessoas fazendo aquilo que mais prego na vida. Ocupando as ruas, elas
deixam de ser perigosas, tornando-as novamente do povo. O medo do escuro só
existe, porque não há ninguém ao seu lado para iluminar, mas ao caminhar
cercado por milhares de pessoas, não há mais o temor do vazio, e o calor humano
afasta o receio que cerca a várzea central metropolitana. Ali na beira do Arrudas,
nos brinquedos, nos barquinhos, nas gramas e nas vias, as pessoas reunidas pelo
prazer de estar livre, deixa claro o quão seria melhor a vida de todos, se esse
ato raro de encontro noturno, se torna-se comum. Numa cidade cercada, onde até a
Serra do Curral se tornou paga, o lazer sumiu e se tornou raridade. Mas abrindo
um simples portão, a salubridade da sociedade belorizontina torna-se melhor,
porque há onde ir e não ter que pagar. Mas como o prefeito da cidade é um
empresário, não há a lógica do ir e vir que em algum momento foi dito como
direito. Lacerda acredita que se algo for bom, têm que ser caro, e assim até o
maior cartão postal da cidade se tornou mercadoria, e a população apenas
clientela. Clientelismos a parte, podemos demitir o patrão; a eleição virá e as
mesmas pessoas que foram na noite no parque e curtiram a possibilidade do lazer
gratuito, terão a oportunidade de se livrarem deste chefe eleito para nos
fuder. Ingratidão coletiva a esse sujeito, que usa mais verba para propagandear
seus feitos que para fazê-los. Caminhando ao redor da multidão, vendo os bares
permanecendo abertos, mesmo depois da hora de costume, deu-me uma súbita
euforia de esperança, acreditando que se as pessoas saírem de casa, das tocas
tecnológicas e simplesmente ocuparem as ruas, praças e parques, começará algum
tipo de revolução. Uma revolução em prol da arte, do lazer, e não em prol de
melhores salários ou empregos. Mais noites brancas virão, e talvez assim a tão
temida luz laranja se torne mais clara, menos sombria, mais humana, e que as
pessoas iluminando as ruas, as tornem seguras, festivas, alegres. Não há
ditadura pior que a da mentira imposta, e como a multidão é perigosa para o
poder, é bem possível que esse tipo de evento se torne proibido em breve. Mas enquanto os
parques não estiverem abertos 24h por dia, enquanto as praças deixarem de serem
cercadas, não podemos deixar de ocupá-las e vive-las. Mesmo no inverno a flores
no parque, não há como deixar de ir lá!
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