segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Noite Branca


Noite Branca na Bhbilônia, e uma multidão carente enchem o parque e as ruas centrais. Um evento simples, a abertura do Parque Municipal durante toda a madrugada com apresentações artísticas, e mais de dez mil pessoas saem de suas casas para aproveitar. A obviedade da falta de lazer e da ditadura dos bares, faz da noite no parque uma alegria coletiva raramente vista na cidade. Andando pelas ruas, o centro parece como de dia, com gente por todo lado caminhando, se divertindo, se encontrando e simplesmente agindo na mais natural forma possível, porque a cidade serve para isso; Encontrar. E no caos da multidão constante, caminho em alegria por ver tantas pessoas fazendo aquilo que mais prego na vida. Ocupando as ruas, elas deixam de ser perigosas, tornando-as novamente do povo. O medo do escuro só existe, porque não há ninguém ao seu lado para iluminar, mas ao caminhar cercado por milhares de pessoas, não há mais o temor do vazio, e o calor humano afasta o receio que cerca a várzea central metropolitana. Ali na beira do Arrudas, nos brinquedos, nos barquinhos, nas gramas e nas vias, as pessoas reunidas pelo prazer de estar livre, deixa claro o quão seria melhor a vida de todos, se esse ato raro de encontro noturno, se torna-se comum. Numa cidade cercada, onde até a Serra do Curral se tornou paga, o lazer sumiu e se tornou raridade. Mas abrindo um simples portão, a salubridade da sociedade belorizontina torna-se melhor, porque há onde ir e não ter que pagar. Mas como o prefeito da cidade é um empresário, não há a lógica do ir e vir que em algum momento foi dito como direito. Lacerda acredita que se algo for bom, têm que ser caro, e assim até o maior cartão postal da cidade se tornou mercadoria, e a população apenas clientela. Clientelismos a parte, podemos demitir o patrão; a eleição virá e as mesmas pessoas que foram na noite no parque e curtiram a possibilidade do lazer gratuito, terão a oportunidade de se livrarem deste chefe eleito para nos fuder. Ingratidão coletiva a esse sujeito, que usa mais verba para propagandear seus feitos que para fazê-los. Caminhando ao redor da multidão, vendo os bares permanecendo abertos, mesmo depois da hora de costume, deu-me uma súbita euforia de esperança, acreditando que se as pessoas saírem de casa, das tocas tecnológicas e simplesmente ocuparem as ruas, praças e parques, começará algum tipo de revolução. Uma revolução em prol da arte, do lazer, e não em prol de melhores salários ou empregos. Mais noites brancas virão, e talvez assim a tão temida luz laranja se torne mais clara, menos sombria, mais humana, e que as pessoas iluminando as ruas, as tornem seguras, festivas, alegres. Não há ditadura pior que a da mentira imposta, e como a multidão é perigosa para o poder, é bem possível que esse tipo de evento se torne proibido em breve. Mas enquanto os parques não estiverem abertos 24h por dia, enquanto as praças deixarem de serem cercadas, não podemos deixar de ocupá-las e vive-las. Mesmo no inverno a flores no parque, não há como deixar de ir lá! 

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