quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Trem do Fim do Mundo

No cambalear noturno sob a luz laranja fria e nua, como a única tonalidade das noites nas ruas, desviando dos vultos que se insinuam na frente de quem sob o efeito de tanta cachaça, começa a desperceber.

E num canto amontoado, entre tribos e estados, um senhor vestido de retalhos, sai de sua morada, arquitetura da gambiarra, fazendo ali no centro sua quebrada. Olhou pra mim com seus olhos em brasa e disse bem assim:

Moço,
Que que eu fiz moço?
Pra ter esse desgosto de ninguém me enxergar.
O governo me desumanizou,
Ao da minha casa me expulsar.
Sou o excedente humano, moço, destinado a fracassar,
Para que a estupidez capitalista, possa continuar.

Agora eu lhe digo moço:
Tem como desse jeito sem jeito o mundo ficar?
No meio de tanto receio de se libertar,
Nos contentamos com o horário do recreio,
Vinte minutos pra extravasar.
Depois voltamos pra cela, sala, escritório,fábrica,balcão,cozinha,banheiro,faxina,empregada,vizinha,sozinha,ignorada,drogada,calada, caída, na cama, na vala.

Moço! eu sou igual ao mundo todo.
Fadado ao fracasso,
Invisível aos outros,
Atordoado,
Silenciado,
Parado.
Calado!

Olha pra mim moço,
O senhor me vê!?
Então me diz,
Comé que nós vamo fazer,
Pra acabar com  capitalismo,
Que criou esse abismo,
Entre eu e você!?

Tá vendo ali moço, é a luz no fim do túnel.
Mas olha só procê vê,
Que a luzinha não é a saída,
É o Trem do fim do mundo. Que vai vim pega ocê!



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