terça-feira, 10 de novembro de 2009

A Flor o Boto e o Índio.

Idéia que comentei ontem. Conto no estilo do Ingles de Souza, autor do Contos Amazonicos...


A Flor o Boto e o Índio.


Era uma tarde meio sombria no interior do Pará. A pequena cidade estava escura, e uma enorme nuvem amedrontava os moradores, que corriam para dentro de suas casas. O jovem Gurupi saiu de sua casa as pressas, para ir de encontro à casa de sua namorada que ficava perto da igrejinha principal, ao lado de um pequeno comercio. Maria Flor, era a mais nova de três irmãs, filha do vice-prefeito da cidade com a Sra. Mariana Dias Benta herdeira de uma fabrica de tecidos que seu pai antigo coronel daquelas redondezas possuía. Gurupi e Flor estavam de namoricos escondidos havia meses, e resolveram então abrir o jogo para suas famílias e revelarem suas intenções.
Gurupi era um índio que vivia com sua mãe adotiva a negra Juzia. Ambos foram os únicos sobreviventes de um massacre de grileiros contra a pequena aldeia que viviam, nos arredores do rio. O tempo passou e os dois viveram muito bem, com a ajuda de pescadores que vieram socorrê-los logo após a tragédia de suas vidas. Gurupi era pescador e vivia também de pequenos trabalhos, como conserto de maquinas, peças, casas e barcos.
Maria Flor era uma moça honrada, a ultima virgem da região, filha de família honesta, trabalhadora e de renome. Sua mãe era respeitada por toda a província, mas devido a uma sucessão de doenças tropicais, como a malária, perdeu o juízo e ficou conhecida com Benta louca. Flor havia ido ao rio se refrescar escondida de sua mãe em uma sexta ensolarada quando se encontrou com Gurupi. Os dois com 20 anos se entreolharam e ficaram a se paquerar naquela tarde. O tempo passou e tratou de unir os dois numa paixão juvenil ardente. Porém, aquela situação de encontros escondidos estava deixando Flor um tanto quanto preocupada. Gurupi então resolveu acabar com essa situação e se mostrou com coragem para enfrentar a sua futura sogra. Naquela quarta feira as 18h eles iriam jantar na casa de Flor e Gurupi iria pedir sua mão.
Naquela tarde, a chuva ameaçava cair com toda a força, e Gurupi saiu correndo e chegou até a casa de Flor minutos antes de se molhar com a torrencial força que vinha dos céus. Chegando à casa de sua futura esposa, encontrou Flor, sua mãe e um rapaz ambos sentados na sala. O rapaz havia aparecido pouco antes, dizendo ser o homem certo para Flor, e que estava ali para pedi-la em casamento. Gurupi ficou enlouquecido e sem saber o que fazer, se dirigiu a Flor pedindo uma explicação para tudo aquilo. Flor disse que nunca havia conhecido aquele sujeito, e que havia sido sua mãe que o deixara entrar. Benta louca estava a rir com o seu futuro genro, quando Gurupi a interrompeu e disse que estava ali para pedir a mão de Flor. Benta louca rio, e disse que era um absurdo um sujeito despreparado, maltrapilho e ainda por cima Índio querer casar-se com a mais bela dama que vivia daquele lado do rio. O belo rapaz se levantou do sofá, e se dirigiu a Gurupi com um olhar rudi, tentando impor um certo respeito. Flor estava arrasada na cozinha e não conseguia entender o que havia acontecido. Enquanto Flor tentava compreender os fatos, sua mãe menosprezava e rebaixava o pobre Gurupi, insinuando a fraqueza de sua raça e a ignorância e brutalidade daquele ser selvagem.
Gurupi não se deixou abalar e resolveu conversar com Benta Louca, jogando sua ultima cartada, antes de pensar em fugir com Flor ao amanhecer. Disse ele a Benta Louca:
- Minha senhora, mãe de Flor, desculpa eu ser assim, não tenho culpa de minhas origens, mas provo eu que sou bom moço para ser esposo de sua filha. Não tenho bens grandiosos, nem casa, fazenda, gado. Sou pobre, mas honesto e de bom coração. E eu AMO a sua filha. Posso explicar meu amor por ela da seguinte forma. Eu antes de amá-la a respeito muito. Tenho o maior respeito por sua filha, e sei que para que um relacionamento funcione, o respeito ao outro é um bem necessário. Segundo, ante de amá-la eu a admiro. Para que um relacionamento seja verdadeiro é necessária à admiração de um pelo outro, para que ocorra uma certa inveja boa, que nos fará sempre ser feliz de estarmos ao lado de quem admiramos. E a ultima coisa, antes de amá-la eu sou seu melhor amigo. Amizade é fundamental para que um relacionamento seja duradouro, se eu não for amigo de sua filha, logo logo irei cansar me dela e fugirei por ai. Mas com a amizade, a admiração e o respeito que tenho por ela, saiba que Amor nunca faltará, pois o amor nada mais é que a conjunção perfeita desses três pilares.
Benta louca ficou quieta, e ouviu toda a fala de Gurupi, que agora suava de nervoso vendo o outro rapaz, se dirigir para a direção da mãe de Flor. Mas ao sair de seu lugar, o rapaz deixou seu chapéu cair, e algo estranho chamou a atenção de Gurupi. Era um furo que o rapaz tinha na cabeça , quase na nuca, que parecia ser muito com o furo na cabeça dos botos.
Rapidamente Gurupi deu um pulo, e se jogou contra o rapaz, na esperança de desmascará-lo, e conseguiu. O rapaz de repente se transformou no boto, que fugiu pela cozinha, indo direto para o final da rua e para o rio. Benta louca começou a passar mal de susto, e desmaiou. Aproveitando a confusão, Gurupi e Flor ficaram juntos, e esperaram Benta louca acordar. Após tudo isso, Gurupi e Flor conseguiram o consentimento das irmãs e de seu pai. Sua mãe não estava em condições de avaliar a situação, e os dois conseguiram fugir para a roça de Gurupi.
Após alguns anos do caso, o fato é que os três pilares da base harmoniosa do relacionamento dos dois ainda se encontram de pé. Respeito, Amizade e Admiração.

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