terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Vida e Natureza

É nesses lugares mágicos da natureza que se percebe a beleza de se viver. Como um neopessimista, adepto das idéias de Schopenhauer, vejo o quanto é sofrido viver para a imensa maioria das pessoas. Viver é uma luta constante para não sentir dor, não sentir fome, não sentir sede. Vive-se em busca da paz que muitas vezes só será encontrada depois da vida, quando não restará nada mais para saciar. As pessoas prezam demais os momentos de férias, de lazer, de descanso, uma vez que esses momentos são raros em suas vidas. Quando se está no mato, como um turista pós-moderno metropolitano, vivo da melhor maneira possivel. Ao lado de uma cachoeira minha sede é saciada a qualquer momento, tenho comigo uma mochila cheia de comida que faz com que eu não tenha a preocupação da fome, e estou em paz pois não tenho nenhuma obrigação a ser feita, há não ser fazer o que eu bem quiser. Essa qualidade de vida que se vive em poucos dias ao longo do ano, tem se extendido de forma magnifica em minha vida, e percebo a cada dia o tanto que as pessoas gostam e precisam de fazer isso. Ir pro mato sempre foi algo que me fez bem, pois liberta em mim os sentimentos mais puros que ja senti, além da menor artificalidade possivel que se encontra ao se banhar num riacho,num poço ou mesmo dentro de uma cachoeira. A sensações que a vida tem para lhe dar são oprimidas na cidade grande, na vida corrida, na soberba que lhe impede de ver as coisas simples da vida. Uma coisa engraçada que vi na serra dessa vez, foram as pessoas que vão fazer trekking e levam consigo todo um arsenal de tecnologias para simplesmente passarem por cima da natureza. Vestidos com uma armadura, de bota, calça, blusa de manga comprida, chapeis, e até uns cajados de um metal duro e leve, andam rapidamente pelas serras, sem enconstar no mato, sem sentir a natureza. Diriamos que eles são a copia fiel de uma sociedade que presa os fetiches, e com o fetiche da natureza, de caminhar no ar puro da montanha, esses citadinos simplesmente passam por cima dela, levam a agua de casa, a comida no bolso em forma de barra de cereais, andam kms para chegar numa cachoeira molhar o rosto e ir embora de volta correndo, como se estivessem na cidade, apressados.

Achei engraçado esse povo, porque simplesmente eles estão no mato, mas ao mesmo tempo estão mostrando ao mato que quem manda são eles, pois eles passam por cima sem ao menos terem uma misera cicatriza, que neanderthalmente falando, são as provas de sua passagem pelos caminhos nessa vida. Nessa vida onde se busca o paraíso do pós-vida é facil se esquecer que o paraíso em sí está aqui na Terra o tempo todo. O milagre da vida é simplesmente incrivel, uma vez que somos uma raridade nesse universo. Sómos a criação que busca a todo tempo uma desculpa para estarmos aqui, que a todo momento e em todas as culturas busca um sentido para tanta dor e sofrimento. Buscamos nos deuses espalhados pelo universo uma solução para esse sofrimento, buscamos uma luz que nos salve desse planeta sofrido que vivemos, mas estamos buscando errado. Não precisamos aceitar que fomos obrigados a estarmos aqui como castigo de um deus egoista, ou que somos o resultado de uma longa historia de relacionamentos entre deuses, ou ainda que somos o exercito de um deus que busca derrotar todos os outros. Não, deixa disso, somos um milagre divino, mas não somos a criação definitiva, nem a perfeita, somos mais um nesse planeta que vive atualmente sofrendo por conta de nossa propria espécie. Os paraísos terreais estão espalhados por ai, a vida tranquilida e sem obrigações cotidianas também , precisamos apenas mudar o ponto de vista, parar de nos culparmos e de arranjar desculpas nos deuses, e culpar os donos do poder, donos do capital, dos que se acham donos do mundo. É impossivel aceitar a vida como ela está hoje em dia, mas não há como voltar, e ai vamos pro mato curtir a paz que longe dos seres da nossa espécie conseguimos sentir, pois outrora o mato era um lugar de terror, medo, fantasmas e monstros. Hoje a cidade é tão mais perigosa de se viver, que o mato é agora o refugio tranquilo, vê se pode isso.

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