segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O bugre e o pomerano...

Desde remotos tempos nestas terras, o europeu apareceu se dizendo dono delas, expulsando a força os seus habitantes tradicionais. Vindo de lugares tão distantes, de um outro mundo praticamente, os claros habitantes do norte, sofreram nas selvas mais fechadas da serra do mar do Brasil. Vivendo anos apenas com o árduo trabalho dia a após dia conseguiram transformar o espaço de modo a deixá-lo mais parecido com sua saudosa terra natal. Os pomeranos, vindo da Pomerania, tiveram de lutar contra os índios, expulsa-los da terra, para viverem em paz em seu trabalho constante. Trabalhando ininterruptamente, conseguiram através dos anos tornar seu novo mundo em uma das cidades mais avançadas em termos econômicos do país. Todos praticamente falam duas línguas, o alemão tradicional de sua terra, e o português, falado naquelas matas. Os índios, que foram expulsos outrora, agora retornam ao seu lugar de origem, mas não mais como donos da terra, mas sim como escravos do capital obrigados a trabalharem para os mesmos homens que os expulsaram. Fazendo os serviços ditos menos importantes, eles se vêm à margem dos alemães dominantes, que passam todo o tempo nas fábricas, trabalhando sem parar, em prol de algo que eles não conseguem nem utilizar, que é o próprio tempo livre. Sem tempo para consumir o que produzem, dormem cedo para terem forças para o trabalho do novo dia, e assim num ciclo de eterno trabalho e raro gozo, vivem na ilusão de terem uma boa qualidade de vida. Possuem sim, uma excelente renda, educação e serviços públicos bons, mas mal podem gozar de sua fortuna. O bugre, trabalhador serviçal, construindo casas, limpando quintais, fazendo comida, se vê no meio de uma crise existencial tamanha, que mal se vêem como índios que foram, muito menos como os brasileiros alemães de Pomerode. São apenas mão de obra barata, no país do futuro. São os brasileiros natos, que fazem da cidade mais alemã do Brasil, uma das mais elevadas nos índices e rankings que simulam a qualidade de vida. Mas são esses bugres, os únicos que sabem aproveitar isso. São os que na noite vão aos bares, junto dos mais simples pomeranos, que buscam refrescar no gole noturno, o sufoco do árduo trabalho do dia. A histórica e característica forma de dominação do indígena, aparece não com o português, mas como alemão trabalhador que menospreza a preguiça, e se vê forçado a todo tempo, para alcançar um lugar nos céus, a trabalhar até suas forças se esgotarem. Mas pobre deles, que não perceberam, que eles já estão na terra prometida, já estão no paraíso, onde desde remotos tempos, os índios saboreavam o luxo do não trabalho. Mas os tempos são outros, e mal daquele que não trabalha para que Pomerode se torne o melhor lugar da terra. O Brasil europeu se mostra mais brasileiro do que nunca, tendo consigo a eterna dialética do progresso e do paraíso, do trabalho e da preguiça, do europeu e do índio. Visto que nestas parte da terras brasilis o trabalho é árduo, o progresso é quase certo, mas a felicidade, essa aí se esvai lentamente.

Nenhum comentário: