quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Por que o Cemitério do Peixe:

Para realizar o trabalho de conclusão de curso de Geografia, tive de aventurar-me em uma viagem até o Cemitério do Peixe, local que escolhi para realizar minha pesquisa, uma vez que ele é um lugar onde poderei exercer toda a minha idéia de geografia. Essa geografia traz consigo a capacidade de não só descrever visualmente a paisagem, mas de onhece -la em toda sua natureza. Quando alguém utiliza da geografia e lhe conta um caso e descreve o ambiente, ele traz além da descrição do lugar, o que ele transmite para a pessoa. Dor, alegria, tristeza, cansaço e paz são possíveis de serem imaginados, e combinando com a descrição da cidade, da cachoeira, da estrada, da montanha, faz com que esses espaços que seriam apenas mais um no amontoado de lugares conhecidos, se torne um lugar guardado em sua memória, por possuir um sentimento qualquer que te liga a ele. Um exemplo disso é o próprio fato deu ter atribuído importância e significado ao Cemitério do Peixe antes mesmo de onhece-lo. Eu sabia que seria um lugar muito diferente, pois fiquei sabendo dele em uma conversa onde essa geografia aflorou muito. Se eu tivesse lido sobre esse lugar em um artigo qualquer de geografia, eu provavelmente não me ligaria tanto a ele. Eu não criaria o sentimento que me foi passado, pois a descrição pura e simples, baseada em uma única forma de entendimento, o tornaria apenas mais um.
Se ao invés de ter ouvido uma historia e viajado em sua geografia, eu tivesse lido algo como: “ O Cemitério do Peixe, uma vila cemitério no meio das serras do espinhaço, que sobrevive graças a uma festa religiosa que acontece em agosto, é um lugar vazio, onde apenas uma pessoa vive. Essa moradora trabalha em uma fazenda ao lado, e seus dois filhos também trabalham na região em fazendas vizinhas. A festa que ocorre na região leva a vila mais de cinco mil pessoas. Essas pessoas vindas de diversos lugares da região e até mesmo de outras partes do Brasil, transformam o lugar em uma pequena cidade, onde o comercio ocorre intensamente, transferindo capitais de uma cidade para a outra, em uma espécie de feira livre. “

Bem, essa descrição é correta, e define bem o que acontece no lugar, mas ela não transmite nenhuma emoção em que seria possível definir melhor o que realmente é o lugar. A história que eu fiquei sabendo do Cemitério do Peixe foi muito mais descritiva para mim, em termos de geografia. “Ouvi dizer de um lugar remoto, embrenhado nas montanhas, onde apenas as almas habitam as casinhas vazias. Para se ir lá, tem de se pedir licença as almas, e assim você pode escolher uma das casas vazias para ficar. Nesse lugar perdido, apenas uma moradora convive com as almas. Existe uma festa que ocorre todo ano, na segunda semana de agosto, em homenagem as almas. Pessoas vindas de todas as regiões chegam fazendo e pagando promessas e trazem consigo uma fé tão forte, que transforma o lugar. Mais de cinco mil pessoas se amontoam em busca de um espaço no lugar sagrado. Dizem que nas noites vazias ao longo do ano, só os grilos e o som do rio ao fundo quebram o eterno silêncio. O vento corta o lugar, levando consigo os pedidos e as promessas feitas na festa de agosto. Lugar mágico, por ser sagrado. Lugar raro.”

Essa descrição, um pouco diferente, não é a reprodução total da realidade, mas para mim ela transmite mais o que é o lugar realmente, e qual a sua importância. Um lugar lendário, que vive no imaginário do povo, um espaço sagrado onde o homem transcende e encontra com seu “EU”. Na cultura popular de diversos povos, os lugares sagrados existem de diversas maneiras diferentes. Para entender esses espaços, a descrição pura e simples não resolve, porque por ser sagrado, o lugar envolve sentimentos que não são explicados pela razão. Experienciar esses sentimentos é um dos objetivos que buscarei através dessa viagem.

Nessa idéia de geografia, embarquei para o Cemitério do Peixe, cheio de duvidas a serem respondidas, e com uma imensa vontade de realizar no lugar, uma geografia que me permitisse entender o que ele é de verdade, e eliminar os inúmeros mitos que o cercam, vivenciar o lugar assim como Richard Burton que respondeu indagado sobre o motivo de sua ida a peregrinação em Meca em 1852, “eu vou porque preciso ver com os meus olhos, aquilo que os outros se contentam apenas em ouvir” .

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