terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Candeias

O mato dentro derretia em um eterno pingar. Chovia a mais de semana, e a trégua era sempre passageira. Em casa, dona Luana guardava uns panos velhos, em sua pequena cozinha, onde um fogão a lenha queimava lentamente, aquecendo água para o café. Era um dia frio de agosto, e a chuva gelada, espantava todo mundo dali. Lugarejo pequeno em alto de serra. Candeias chama a atenção pela simpatia, e o isolamento. Povo insular. De alto de serra. Vivem em fim de estrada. Lugar último de chegar. Isolados pelo relevo e as vias, aqui quase tudo é produzido, para consumo mútuo. Candeias é lugarejo. Rua que sobe a ladeira, ladeada de casas, e no fim dela, há uma pequena igrejinha. Costume mineiro. Perfume de roça. Doce de leite com queijo, coisa que a gente gosta. Dá de lá ser longe da capital. Barlavento do Espinhaço. Povo insular, que respira a ultima brisa do mar. De lá não passa. Vira água. E cai. Candeias é quase submersa em chuva. Tempos e tempos de cercada por água. É assim, ilha. Mesmo tão longe do mar, respira a brisa marinha, no topo da serra. E dela se avista um grande vale, que passa embaixo. Em outro lado da vertente, a grande cara do Espinhaço. Subida bruta. Vale encaixado. Lá embaixo. Aqui no alto, chove sempre. E enche o córrego. E ai que mais se isola, no barro da estrada. Intransitável. Igual quiabo em matéria de escorrego. Ilha em meio a serra. Noite serena, em embalo de goteira. Um eterno pinga-pinga, que dura a noite inteira. Lugar tranqüilo. Remoto. Hospitaleiro. Lugar belo. Simpático. Mineiro.

Um comentário:

Ana disse...

Jeito de descrever oliveriano-roseano que eu conheço bem! Me falta conhecer melhor esse espinhaço de Deus. Parabéns, Oliver. Pelas andanças e pelos escritos sempre bonitos!