segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Relatos de uma realidade distante

Faz tempo desde o ultimo inverno quando o frio castigou a nossa pequena vila. No alto da serra, em lugar quartzitico, o inverno é frio;seco ao anoitecer, orvalhado pela manha. É sempre dentro de nuvem. O cheiro do mato molhado, refresca as narinas, que de frio, soltam fumaças. Dentro de casa, um café acaba de ser feito, e o cheiro da broa assada, nos faz salivar. É tempo bom, de conversa em volta de fogão, de dormir de manta, embrulhado. Tempo de ver o céu em excesso de estrela. E em fim de tarde, uma aquarela em tons marrons. Antes do nascer do sol, é duro de se levantar, mas o trabalho tem de ser feito, não adianta de enrolar. Tem que tomar um café forte, com rapadura para adoçar. Na vila num tem comércio grande para comprar mantimentos sempre. Há sempre que se aventurar. Ilhados aqui no topo, tudo vem de mula, e com elas o preço do isolamento. Aqui tudo se torna caro, não porque nosso trabalho, árduo e criativo, seja valorizado. Não se dá valor ao sofrimento. Aqui se valoriza a distância. Aqui não há dinheiro que circule, nem o dinheiro tem coragem de vir. A travessia dura dias. Dependendo do tempo nem pode ser feita. Somos gente acostumada a isso. Um povo tranquilo, que luta todo dia para poder desfrutar de nossa nobre existência no paraíso. Aqui no alto é o paraíso. Não há tumulto, não há briga, nem discussão. Um povo que se faz familia. Uma familia que é o povo. E todo mundo se entende. Não há jeito de se ter rolo. Eu morador de nascença, trato então de declarar um apelo. Quero aqui me expor. É um problema, o tal do capital. Trata a gente mal. Explora demais. Em tempos de ilusão, morei lá na longincua e inconpreensivel, Capital. Homônimos coincidentes. Na monotonia do trabalho sem razão, em burocracias agressivas, resolvi de voltar pra cá. E cá tenho que dizer sem pensar. É o paraíso. E não há coisa melhor. Porque no frio da manha de inverno, o café e a broa irão sempre nos satisfazer, mais que qualquer coisa nesse mundo. Porque de costume de alto de serra, nós vivemo, e é assim que sinto-me feliz.

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