domingo, 11 de setembro de 2011

Laranja noturno

O que te lembra a cor laranja? Laranja me lembra a noite, a boêmia, o rock, uma diferente e alegre sensação na metrópole quando ela adormece, tornando-se o temor de uns, o cansaço de outros, e a felicidade daqueles que fazem da noite um espetáculo. Sair perambulando pela várzea do Arrudas em busca de entretenimento na região do baixo centro, circulando pela grade de Reis, me torna um habitante do vazio noturno, no espaço abandonado pelos homens adestrados da cidade. Resumindo a imensidão concretada a uma simples região, faço no enrugado relevo das montanhas Gerais o caminho mais plano. Na várzea do maior rio da cidade, morto e devidamente enterrado, caminho em planura ilusão, cercado de gigantescas torres, dominadoras da paisagem. Na Bhbilônia não há o escuro da noite, uma ilusão laranja domina o ambiente trazendo uma diferente percepção aos olhos, diferente da luz azul do dia, tornado as cores mais lúdicas, mais boemias. O temor de uns, é a liberdade de outros, e assim os homens adestrados, repugnam o valor cultural daquele povo que vagueia entre tribos e estados, nas madrugadas onde os adormecidos escravos recuperam a energia para venderem seu trabalho. Talvez essa inveja dos servos seja a explicação para o fato de tal área ser tão degradada. O povo do lugar não vive ali, vive longe, povo periférico. Vive agarrado ao centro da metrópole, como única possibilidade que ela lhes deu de se divertirem. Entre bêbados e pedretes, prostitutas e mendigos, médicos e advogados discutem com empresários e estudantes, tantos ricos tantos pobres, mas todos em alegre embriaguez, em um estado de realidade coletiva onde no real, nada é impossível. Diferente dos dopados escravos tarjados de preto, o povo do Arrudas é diferente, está em alerta e quer apenas mais um gole, para fugirem da realidade da maioria, motivo de aborrecimento. Não conseguem entender aqueles que vivem sempre buscando reproduzir a mesma novela, que querem o final feliz. Esses não, o povo da várzea gosta é de sentir as sensações que a vida impedida de ser livre, pode nos dar. Vagueiam em desconcertante deriva, conhecendo cada esquina do projeto de Reis, consumindo cada canto, sem hora para voltar. Ao alvorecer, o povo da noite regressa em sonolenta viagem, deslocando-se pelas grandes vias que os levam para o outro lado da cidade, longe de sua terra prometida. O espaço sagrado daquele povo varzeano, é devorado pelos escravos durante o dia, em centena de milhares de ações. Mas no acender dos postes, a luz laranja voltará a reinar, e aquele povo poderá outra vez cultuar a sua fé.

Um comentário:

Max Hebert Teixeira Silva disse...

depois do laranja da noite vem o laranja da aurora.