segunda-feira, 12 de março de 2012

Tropical de Altitude

Um mar de desilusões no rosto das pessoas, e suas caras deprimidas só mostram que está tudo errado nesse nosso modo de vida. Sorriso pago é caro demais, e assim às pessoas assistem ao delírio criado pela televisão do jargão, onde a comédia não é riso é repetição. A chuva cai e leva os prédios construídos sobre os brejos da lei, em rápidas manobras como as de Reis, construir e fazer cidade, não viver. A chuva inunda a cidade nos fundo dos vales, e arrasta os carros para criarem heróis e vilões, nas repetidas e clássicas tragédia dos verões. Não há o que fazer quanto a isso, a natureza sempre existiu, você só a esqueceu porque passa o dia sob a mesma luz e temperatura, cercado de máquinas e pessoas sem expressão, criando e fazendo trabalhos que você nunca pensou em questão. No fundo dos vales os rios cobertos pelas avenidas, engolem as casas e as pessoas, e ninguém se lembra que naquele local, há cento e cinqüenta anos, na antiga fazenda do Seu Braz, uma grande inundação matou o gato e acabou com sua plantação. Como não havia o Super, ninguém sabe dessa historia, que se repetem todos os anos, mas todo ano parece que foi a primeira vez. A natureza é manchete, não o real. A chuva agora engole a zona sul, enquanto cai um prédio, outros três são postos de pé, até que num efeito dominó, toda a zona sul se desmanchará no seu próprio peso, digno de se assustar. A lagoa poluída e suja, se chama Pampulha e ninguém pode nadar. É proibido entrar na água, mais fácil por placa do que limpar. E quanto ao ato de caminhar e se exercitar, até nisso sua liberdade é iludida, pois você assistiu no jornal o tal jeito certo de andar. Mas há quem diga que essa cidade é a boa de se morar, outros irão odiar, só que nada adiantar vive-la se você não sabe aonde você está. Então belorizontinos, subam os morros e serras da cidade, e vejam aonde vocês estão vivendo. Olhem e pensem um pouco, e vejam se isso é que o que queremos. Um belo cenário de morros, com serras de pano de fundo, mas os rios foram cobertos por carros, não há banho para os homens imundos. Sobrou apenas o choro, as lágrimas e o stress. O circo foi destruído, e ainda não ficou pronto, o pão nessas terras é liquido e custa caro, não dá pra comer água em tempos de seca braba. Eu que planto, me espanto ao perceber que a comida orgânica é muito fácil de fazer. E é vendida caro, porque te aprisionaram num apê, sem espaço para plantar a própria comida, impedido de comer. Caro é o preço da terra que se ergue aos céus, e da baixa Bhbilônia só se espera o terror dos homens das pedras, sem esperanças na sociedade que vive dela. Enquanto a moral do escravo reinar como base de nossa sociedade, sempre seremos escravos, trabalhadores e homens sem felicidade, nunca livres, vivendo a incrivelmente mentirosa e propagandeada liberdade. A prisão é sua própria realidade, sua casa é cercada por grades de segurança máxima, mas não é para impedir que o inimigo entre, é para que você não fuja a noite de casa. A rua é perigosa, sua mãe não pode saber, e ai com cerca elétrica como cê vai fazer? Vai ter que abrir o portão e exparrar que saiu, e a rua escura sob a luz laranja, só pode te trazer o mal e o frio. Frio que escorre do topo das serras, trazendo manchetes em abril, fim das chuvas que só irão voltar em tempos primaveris, quando a Natureza será vilã , nos jornais imbecis. Tropical de altitude, seis meses chove seis meses seca, e ninguém se dá conta que isso é a nossa única certeza. Que o clima é fácil de ser entendido, o porque da cidade ser construída sem pensar nele é que me torra o juízo. Oh esses homens que se dizem sábios, que fizeram tamanha obra, que desaba todo ano em eterna repetição, mais fácil que entender o clima é saber a questão. Ou nos tornamos parte da natureza, ou sempre perderemos a guerra. Quem é mais forte não é a gente, muito menos ela, o que é forte é o planeta inteiro, então porque não se unir a Terra? A greve vem ai, aproveite e não vá trabalhar, você já tem uma desculpa para poder passar horas e pensar, no que a sua vida tem sido e no que você realmente quer conquistar. Não que seja fácil, mas se isso ao menos começar a incomodar, pode ter certeza que para os seus filhos, isso você já vai poder ensinar, e ai quem sabe uma próxima geração não venha, para um dia rir de nós, e dizer que éramos os mais bárbaros homens de toda a historia, pois não fazíamos absolutamente nada mesmo sabendo demais. Nada para impedir o massacre do ser humano, que se tarja de preto, para que ao ligar a televisão, ouça aquele velho jargão e sorria sem pensar em seu leito. No fim há esperança, mas não há como chegar nela, pois assim como as nuvens na atmosfera, é ela que pode chegar em nós, trazendo raios e trovões e muita água para a cidade inteira inundar. Corram para as montanhas, diz a placa da avenida, em caso de chuva forte, fuja para cima. Mas não se esqueça, nem de ter esperança, nem de nosso clima. Tropical de altitude, só pra avacalhar a rima.

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