quinta-feira, 3 de maio de 2012

Morte e vida nas Estradas ou Teoria da Roleta Russa

Desde que o automóvel se tornou parte integrante de nossas vidas, e extensão de nossos corpos, algo incrível tem acontecido. O que chamarei de Teoria da Roleta Russa, deriva do constante massacre que essa incrível máquina vem causando a humanidade, principalmente entre os jovens, que se matam mais e mais e nem ao menos entendemos o porque. O que quero tentar mostrar é o instinto de roleta russa, que é um modo de arriscar a vida pela aleatoriedade. A roleta russa, é um jogo conhecido onde uma bala é deixada no tambor de um revolver, esse tambor é girado e parado aleatoriamente, engatilha-se a arma e atira contra alguém ou contra si próprio. Nesse caso, a bala se engatilhada acertaria a vitima, que por azar ou sorte “perde” o jogo e a vida. No transito é possível perceber inúmeras atitudes e reações dos motoristas que agem exatamente da mesma forma, utilizando para isso o carro. No caso do transito, citarei o exemplo da BR381 em Minas Gerais, no trecho que vai de Belo Horizonte a João Monlevade. Este trecho de cerca de 100km é o com o maior numero de ocorrências de acidentes em batidas frontais entre dois veículos. Este trecho de estrada é um local absurdo em nossa sociedade, que permite a morte semanal de várias pessoas, em prol do deslocamento arriscado por entre curvas e curvas recortando as serras de Minas. Não faz sentido uma população aceitar o fato de que centenas de pessoas morram anualmente em um curto trecho de espaço e que nada seja feito, nem ao menos estudado. Permitindo esse absurdo, estamos aceitando fazer parte desse jogo de Roleta Russa que ocorre, pois por mais que Você não esteja querendo jogar, na outra direção pode ter alguém. A roleta russa é o jogo onde o stress e o alivio são atingidos no máximo, e se pensarmos na rodovia como um jogo perceberemos que fisicamente nossos corpos agem de forma parecida, porém sem a consciência de ser um jogo. Na estrada, dentro da salinha ambulante com ar condicionado e fundo musical, longe da realidade agressiva e assustadora de fora, uma família viaja rumo ao litoral. O motorista dirige com cautela, pois sabe dos riscos do caminho, mas está tranquilo ali dentro, isolado do mundo real. Na outra direção, um jovem dirige estressado depois demais de 15km atrás de uma longa fila de carros e caminhões. Depois de meia hora sob a lentidão, e a impossibilidade de ultrapassagem, o nível de stress do rapaz atinge um ponto critico, e a partir dali seu corpo não consegue mais controlar a ansiedade e o nervosismo causados pelas descargas hormonais que invadem toda a corrente sanguinea, autorizando o corpo a tomar atitudes de risco de morte, sem que ele nem perceba. Nesse estágio, o rapaz já aceitou jogar a roleta russa, e começa a fazer ultrapassagens arriscadas a grande velocidade, esperando sempre que não venha ninguém do outro lado, ou que a bala não esteja engatilhada no tambor. Quanto mais ultrapassagens o rapaz faz, maior é o nível de adrenalina no sangue, fazendo-o correr mais e mais riscos. A adrenalina passa então depois de várias ultrapassagens e dominar o sangue todo, e o vício que ela causa impede o jovem de diminuir e ficar de novo atrás dos caminhões, pois o fator tempo, distancia também já estão no jogo. Quanto mais tempo se ganha, maior o risco que se corre, e a cada ultrapassagem o tambor também gira. Até que chega o momento que de tanto atirar ocorre o ato final. Depois de uma longa curva, a família segue tranquila pensando no longo caminho que tem pela frente e nas águas salgadas do mar. Mas a 130km/h surge de uma curva uma bala de uma tonelada, que simplesmente mata 5 pessoas com um único tiro. A tragédia anunciada, aparece nas manchetes de jornais, mas ninguém faz nada, ninguém acha nada. O jovem que atirou, provavelmente nunca em vida e em condições normais toparia participar de um jogo de Roleta Russa com uma arma de fogo. Mas inconscientemente participou, ganhou e por fim perdeu na Roleta Russa do transito. Esse desvio psicológico causado pelo automóvel, é e já foi bastante estudado por inúmeros cientistas, mas até hoje ninguém conseguiu mostrar e tentar agir contra esse instinto de roleta russa, que ceifa vidas nas estradas brasileiras. O que leva alguém a arriscar se jogar de frente contra uma outra maquina a mais de 100km/h ? Provavelmente não a mesma lógica psicológica, mas quiçá uma fusão da cabeça e do corpo, em uma vontade incontrolável que vai de encontro ao instinto de sobrevivência natural de todos os homens. A experiência do FODAS, esse momento em que o homem aceita todo o risco de se puxar o gatilho, é que deveria ser estudado mais a fundo, para que possamos arrumar um meio de evitar esse momento. Talvez seja realmente impossível evitar que esse momento aconteça, e por isso duplicar as estradas tem sido a solução. O automóvel como maquina de gozo e prazer do homem, deve e tem que ter sua função social mudada. Enquanto o status do super-homem existir dentro do automóvel, essa disfunção inconsciente irá ocorrer, porque dentro dele o homem não consegue ter o controle sobre si mesmo, agindo num instinto ciborgue de pertencimento a máquina, e não de domínio e controle sobre ela. Enquanto o carro for à alma do negócio, nossas almas também serão parte do negócio. A culpa nem sempre é do Álcool, como querem afirmar as estatísticas. Quantas pessoas suicidam todos os dias enlouquecidas pelo jogo de vida ou morte das estradas, sã e sóbrias? Quantas pessoas com a saúde mental perfeita, não arriscam a vida alheia em manobras impensadas? Será que é possível algum tratamento contra isso? Será que uma educação fundada no homem e desde a infância, e não na maquina não mudaria isso? Se desde a infância ensinarmos as crianças dos perigos e não dos prazeres do carro, ai talvez poderemos mudar um pouco as estatísticas. Pois os prazeres do automóvel são incomparáveis e incríveis, mas os risco também o são. E enquanto as auto-escolas mostram acidentes, nada adiantará. Tá na hora de mostrar que o homem não pode se tornar inconsequente dentro de um carro, porque é só dentro dessa maldita máquina, é que ele tem coragem de participar de uma Roleta Russa.

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