terça-feira, 9 de agosto de 2011

Prazer e Tempo

Desses tempos pra cá em que comecei a ler Schopenhauer, agora Nietzsche e Focault percebi que esses grandes pensadores tiveram em seu modo de pensar um embasamento na observação da realidade e do mundo sempre voltada a genealogia, a busca pelos porquês antes dos porquês, o entendimento de tudo que levou ao que hoje vivemos, dita como a tal pós-modernidade. Após um inicio de estudo desses pensadores, surgiu em mim à nítida sensação que o que eu fiz a minha vida inteira, com relação ao modo como penso e organizo a minha memória, foi basicamente uma eterna genealogia. Desde cedo, muito novo, me lembro de fazer isso a primeira vez aos 9 anos, ao recordar de todos os reveillons que em minha lembrança eu conseguia buscar. Naquela época eram apenas quatro, de 92 a 95, e eu a partir daí nunca mais deixei de todo ano, recordar todos os reveillons. Mais que um exercício de memória autodidata, essa idéia infantil de recordar os poucos viveres, me faz hoje uma pessoa que acredita possuir uma grande memória sobre a própria vida, e levar isso como seu maior tesouro, pois a única coisa que podemos saber desse mundo foi o que vivemos, o que sentimos, o que sonhamos. Nada se perde no fantástico mundo de Oliver, pois tudo está guardado. Voltando ao pensamento dos sábios, eis que meu pensamento sobre as coisas no geral, sempre foi o de lembrar de fatos anteriores e tentar fazer ligações que nos levem a tal fato presente. O futebol foi um tema muito explorado durante muito tempo, sendo o papel fundamental nessa minha idéia de conhecer o passado e entender o presente. Não como um historiador, mas como um pensador que mais que mostra os fatos, os interpreta. Nesse meu pensar, busco muitas vezes, o entendimento da minha vida e os porquês dela está como está.

Quando tenho um pensamento como esse agora, depois eu paro e me pergunto: Dondé que veio isso? E ai passo o resto do dia pensando sobre o fato de ter pensado aquilo. Ao explorar os motivos e não apenas o fato, comecei esses dias a me indagar uma coisa. Eis que em mim, perdurava esta questão: Porque sentia tanto prazer em estar na natureza ou na zona rural? A princípio a resposta era a mais simples possível. Ora porque eu gosto. Mas meu espírito genealogista me impede de aceitar apenas isso. Eis que fui procurar no fundo do meu entendimento, no cutucar de minha alma uma possível resposta. E ela seria mais ou menos assim... :

Há questão não é o espaço, é o tempo. Não é que eu ame o Espinhaço, é que lá é tudo mais lento. É questão de compreender o esboço, desse tal procedimento. Conhecido como tempo imposto, motivo de tal sofrimento. Mire e veja a questão, e raciocine meu acompanhamento: Lefevbre já dizia: cuidado no entendimento. Não é o carro que está parado, é você que esta perdendo tempo. Por isso que o tempo estressa, não o engarrafamento. É mais ou menos por isso, que não se tem mais prazer. Ao realizar qualquer atividade, que não seja o tal lazer. Lazer imposto para que você acreditasse que o prazer, só pode ser algo distante, coisa que não dá para viver. Fazer entender o entendimento em questão, perpassa por uma simples razão. Quando não existe o ‘tempo’ no seu fazer, tudo nessa vida lhe dará prazer. É só pensar comigo, que o café é muito mais saboroso, nas manhas de domingo. Que o almoço de sábado, tantas horas demorado, sai mais gostoso do que os de restaurante caro. E não é porque é chefe, ou porque está na lara, é porque tudo foi feito, em uma atividade rara. A atividade de cozinhar, e não apenas de comer. A atividade de realizar, e não apenas fazer. É que quando nós estamos á toa, tudo fica mais de boa. É não é demagogia tola, é que fazendo o que gostamos, o tal ‘tempo*’ voa.

Essa relação do prazer nas coisas derivadas da ausência de relação com o ‘tempo’ capitalista, é o que me fez entender um pouco do porque de sentir tanto prazer em cozinha no mato. A cozinha de minha casa é infinitamente melhor, mas o não-horário do mato é muito mais interessante, pois a fome dá mais sabor do que a pressa. E esse prazer está muito ligado ao fato de que nós respeitamos o nosso relógio biológico, dormirmos quando estamos com sono, acordamos quando descansamos o suficiente, comemos quando estamos com fome, etc. Fazemos aquilo que nosso corpo nos pede, e não o que o capital pede. Fazemos aquilo que nos dá prazer por simplesmente realizamos as vontades básicas que nosso corpo nos impõe. Ser escravo do corpo não é algo bom, mas é menos pior do que do capital. O corpo impõe severos castigos aos que não o obedecem, e na metrópole ansiosa, todo mundo vive em estresse. Será porque estamos ficando loucos? Ou porque dormimos pouco? Tudo questão de tentar se libertar do ‘tempo’, da maldita escravidão do ‘tempo’.

Eis que ainda em mim não há um segredo, para o tempo não ser o ‘tempo imposto’. A solução aparente, esta em sair da metrópole, em buscar outras possibilidades de vida. Difícil porque sou metropolitano,mas necessário para minha saúde. To precisando dar um Tempo desse tal de ‘tempo’.

*’tempo’ = Entre aspas, para diferenciar tempo capitalista, de Tempo metafísico.

Um comentário:

Diegoncio disse...

muito doido esse textoncio boy