quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Luar Bhbilônico

Na barulhenta avenida que corta a Bhbilônia, desde a longínqua e quase mítica Venda Nova até o borbulhante centro da metrópole, aguardava ansiosamente a vinda de qualquer ônibus que me levasse a várzea do rio Arrudas. Estava ali sob a luz laranja noturna, hipnotizado pelo constante vir dos ônibus que a todo instante mudavam de numero, vintedoisquinzes, doimiliquatros, e por ai em verdes e azuis, aquelas gigantescas maquinas milagrosamente não assustavam aquelas pessoas, que como que em transe não percebiam o risco que corriam ali dentro daquelas coisas de aço e petróleo. Mas mesmo durante esse assustador momento, algo me chamou muita atenção, e era uma luz que surgia forte atrás de um barraco na borda oriental da avenida. Intrigado com aquilo, ficava na estressante duvida de olhar para a avenida ou para aquela misteriosa luz. Até quem num desando de encontro, meu ônibus veio, e tive que pegar ele. Ao entrar no ônibus que seguia rumo sul, em direção ao centro, eu consegui observar pela janela do motora, o que era aquela luz. Era uma imensa Lua Cheia que perdida em meio aos postes e prédios da Bhbilônia era pouco vista. Em um impulso Tilelê fiquei feliz, e passei pela roleta já curtindo aquela noite que pelo visto seria FORTE!

Em menos de meia hora estava cruzando o viaduto que me levaria até o baixo centro, a várzea por assim dizer. Desci na rua Caetés, rua de comércio popular diurno e ponto de diversos ônibus, porém a noite se torna hostil, sem vida, um tanto quanto estranha. Por meu ponto ser nessa rua, tenho certo carinho por ela, diríamos que uma relação boa com aquele lugar, pois vejo essa rua como um lugar importante pra mim na cidade, ali define-se o meio de chegar e partir, Estação Caetés! Assim que a chamo. Era uma gelada noite de julho, e o ar descia cortando as tribos do centro, logo desci para a várzea, cem metros distante do ponto. Descida suave, e num exaltar da fome, fui rangar um pastel no cinco por um real da esquina da Caetés com Bahia, o que certamente foi um erro, pois em pouco tempo meu estomago me agredia por dentro, já desanimando de tomar uma breja gelada lá no ultimo bar da Aarão Reis, rua Estação também, na várzea do Arrudas. Sob o viaduto Santereza encontrei uns amigos que em acelerados dizeres me contavam do que pegava na noite varzeana. Entorpecidos pela densa fumaça urbana, adentramos um espaço fechado destinado a uma livre apresentação de teatro. Mas não consegui ficar dentro daquele cubículo escuro, e sai fora pra tomar uma em qualquer outro lugar.

O vermelho na parede era ofuscado pelo branco que se seguia, num vigiar dos homens feitos por outros homens, conhecidos por nós varzeanos como homens. Esses homens pejorativamente falando, nos cercam a todo instante, mercenários pagos pelo Estado, ganham tão mal quanto qualquer um ali da várzea, e se sentem importantes. Ignoramo-os como se ignoram moscas no lixo, e seguimos em cambaleante e divertido caminhar, até topo do monte, o Edifico Maletta. Lá mandei o ultimo torresmo do lugar, e salvei minha vida por alguns instantes, pois logo após isso, encontrei uma turma diferente no mundo varzeano, a famosa Nata da Lama. Nesse contexto de difusão filosófica e lamística do encontro, me perdi em euforia alcoólica, deixando-me levar pela ocasião. Não me lembro muito dessa noite, só de seguir pelas ruas iluminadas não só pela nossa querida luz laranja, mas também pela Lua, que sumida das nossas vidas, conseguiu iluminar o mais profundo lugar da metrópole. Na várzea iluminada, me despedi dos amigos e segui rumo ao ponto de ônibus, lá na Estação Caetés, esquina com Espírito Santo. A lua deitava por trás da Afonso Pena em espetacular perspectiva, quando avistei a tão sonhada maquina que me levaria pra casa. Sai da várzea anestesiado pela endorfina necessária para seguir acordado sem dores pelo cansaço. Rumei norte, rumo a minha casa distante, mas naquele momento, muito desejada. A noite é o cenário de fundo do varzeano, sob a luz laranja tudo é mais vivo, mas sob o Luar Bhbilônico, tudo fica mais incrível. Memorável!

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