sábado, 21 de abril de 2012

A incrivel estória de João Meteoro

Noite de chuva de meteoros...Pede um pouco de atenção...se olhares o céus agora, irão entender a questão... O que quero dizer é mais que uma estória, é uma outra visão... Era noite de abril, noite de friozinho e céu estrelado, e na janela um menino de olhar curioso, via as estrelas em cadente dançar. Não entendia muito bem aquela dança, aquele movimento estrelar, celestialmente intrigante, mágico, confuso, fascinante. E naquela novidade noturna, do susto ao desejo passou João. Naquela época, João tinha apenas onze anos de idade. Sabia que quando uma estrela caia do céu, era hora de se desejar pedido. E João desejou. Profundo. E do céus veio o seu desejo, quando na manha seguinte, em pleno quintal de casa, nos fundos perto da jabuticabeira, uma imensa pedra de ferro e níquel apareceu. Era um incrível meteoro, pedaço de céu, de tamanho nunca visto antes, pesava cerca de trinta quilos, e tinha o tamanho de uma bola de futebol. Era uma rocha avermelhada bonita, que chamava a atenção pelo brilho que tinha. João encontrou a rocha, e sabia que seu pedido tinha sido atendido. Ele queria muito encostar no céu, queria muito saber como ir até lá, e para matar um pouco da curiosidade de como era o universo lá fora, lhe foi dado uma amostra, uma pequena prova, que existe algo além desse céu. E no seu imaginar, foi-se perder em mil idéias e aventuras, até encontrar a mãe e o pai no almoço, e ali , naquela humilde casinha, no interior do sertão perdido da grota do vau d’água suja, lugarzim miserável que por um acaso de sorte, havia se tornado famoso na televisão. Ouvia-se na cidade, o que se propagava, que uma chuva de meteoros havia de atingir a região, e não é que lá no grotão d’água suja, perdido no sertão, havia um imenso meteoro, incrustado no chão. João mostrou a seu pai, que mostrou pro tio, que mostrou pro primo, que chamou o avô, que veio com pá e enxada, mas estava afundado na rocha, por causa do choque e do calor, foram necessários mais de cinquenta homens, dás quais sem sucesso, apelaram para um trator. E por mais que fizessem força, nada daquilo adiantou, havia da pedra estar presa ali, o que de toda a historia, foi o que mais influenciou. E logo que a noticia se espalhou, foi espalhada a noticia da vinda da televisão. João ficou alegre, fama ilusão. Sua imaginação não podia acreditar quando viu o que realmente era a televisão. E quando viu que a repórter, e o câmera eram homens comuns como ele, ficou desencantado. Mas virou o mascote do evento, João do Meteoro. E como a rocha não saia dali, o povo foi até lá. E logo a casa de João era um centro turístico, o governo havia investido dinheiro em toda a região, estradas foram asfaltadas, pontes refeitas, obras nunca vistas em todo sertão, e ali na grota suja, o desejo do menino começava a se desfazer. Não queria mais aquela gente, que começava mais e mais a chegar só para ver, aquele pedaço de céu. E a grota virou vila, e logo virou pólo nacional. Aparecia nos jornais, novelas foram feitas, filmes encenados no vilarejo que agora vendia chaveirinhos e tinha até orelhão original, feito no formato do meteoro. O do João, que agora aos quinze anos, vivia como guia de excursão, levando gente pro quintal de sua casa, vindas lá de São Paulo e do Rio, político, jogador, ator de televisão. E discursava a mesma historia, e contava que naquela noite de abril, havia ocorrido uma grande chuva de meteoros, e que por uma incrível coincidência de acaso, havia de ter sido ali, naquele quintal que um meteoro veio cair. E contava de como foi bonito, da explosão que se deu, do barulho e do brilho, e todos ficavam contentes, e compravam camisas, e chapeis. Lembrancinhas do João. E João trabalhava mais e mais, e fazia todo dia à mesma coisa, e se enjoava; e não podia descansar. Porque nos áureos tempos da mitificação dos espaços pelo capital templário, esse cavaleiro medieval que busca levar a fé aonde ela não existe.Que para isso, constrói igrejas pelos desertos, e os tornam sagrados, atraindo os peregrinos, as milhares de pessoas que compram indulgências em lojinhas especializadas. E assim João que nunca buscou aquela fé, viveu por ela. Até que um dia, quando tinha quase 20 anos, já esquecido pelo tempo, viu outro meteoro cair na região. E ai lembrou daquele tempo, de como fora construída a sua vida, de todo o processo, e resolveu copiar. Correu atrás daquele meteoro, e o encontrou em meio a um curral. Dessa vez o desejo veio maleável, e do tamanho de uma laranja, era possível de ser carregado. E logo teve uma idéia, e pegou sua moto, saiu da grota que agora já não era mais grota nem vila, se tornara Cidade de Belém. Lugar famoso em revista, pólo mundial durante uns anos, hoje vivia o sucumbir de uma moda, a ruína de uma imposição. E João seguiu até outro grotão, não muito longe dali, lugarejo abandonado, por não ter nada a servir. Era o Vau da Vaca Mansa, e no pé da serra, numa noite sem lua, outra noite de abril, jogou a rocha na igreja, que quebrou e se partiu. Uma parede rachada, e logo a noticia se espalhou. Um meteoro havia atingido a igreja, e a TV logo chegou. João já era esperto, e já trouxe os chaveirinhos, havia algumas camisas também, montou uma barraquinha, e logo se deu bem. Sabia que em breve o capital templário mais uma vez iria aparecer, e com sua espada, abriria estradas, traria comércios, peregrinos, turistas. E logo sua pequena vendinha, era a maior loja da região, e João do Meteoro, aos vinte e de dois anos, era o maio empresário do sertão. Ficara famoso de novo, mas se cansara da fama. Vendeu sua empresa no auge, trocou de profissão, mudou pra outro grotão sem fundo, final de estrada do sertão. E lá numa noite de abril, numa noite de solidão, em meio a uma avalanche de sentimentos, olhou para o céu João. Viu então mais uma vez, a sina de sua vida, e um meteoro atravessou o céu e foi cair bem no monte que cercava sua casa. João pensou e pensou, e dessa vez não foi atrás da rocha. Deixou-a perdida nas serras, deixou-a descansar em paz, porque afinal só havia de acontecer uma coisa com aquele pedaço de céu. Virar santo. E atrair gente, e o dito progresso advindo disso, que se mostrava cada vez mais e mais ilusório, porque sempre que o progresso sumia, a melancólica decadência começava. Deixou então queto toda sua historia com o universo, e mesmo sem olhar as noites , vira sempre muitos meteoros, que passaram em sua frente, em forma de vida. Viveu em meio à mata, entocado em canto de serra, para não ver o céu, que lhe angustiava enquanto vivo. Mas morreu cedo, vitima de um acidente raro, fora atingido em cheio, por uma rocha do espaço. João Meteoro mesmo sem querer, virou registro nos livros de curiosidade, bobeiras em comerciais, reportagem de teve, e mesmo morto, famoso sem saber. Piada e exemplo, e sua vida virou filme, música, livro. Fora um 1º abril, e nos jornais do Brasil a manchete dizia: “JOÃO METEORO, uma vida meteórica, que ironia!”

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